Matéria publicada em 7 de outubro. Em função da situação do País, republicamos a matéria.
"Nesta quarta-feira (7) pode ser um dia decisivo para a presidente Dilma Rousseff. O Tribunal de Contas da União (TCU) deve emitir um parecer sobre as contas do governo de 2014, recomendando ao Congresso Nacional rejeitá-las ou aprová-las.
"Nesta quarta-feira (7) pode ser um dia decisivo para a presidente Dilma Rousseff. O Tribunal de Contas da União (TCU) deve emitir um parecer sobre as contas do governo de 2014, recomendando ao Congresso Nacional rejeitá-las ou aprová-las.
Há a expectativa
de que a maioria da corte, formada por nove ministros, vote pela
reprovação da gestão fiscal petista, devido a operações
irregulares que teriam melhorado artificialmente o resultado do
Orçamento e evitado a necessidade de cortes de gastos no ano
eleitoral.
Um parecer nesse
sentido aumentaria a pressão para que o Congresso rejeite as contas
de Dilma, decisão que a oposição pretende usar para fundamentar a
tentativa de abertura de um processo de impeachment na Câmara dos
Deputados. A BBC Brasil entrevistou dois juristas sobre essa
possibilidade, um contra e outro a favor.
Na avaliação de
Joaquim Falcão, diretor da faculdade de Direito da FGV-Rio, a
rejeição das contas não é suficiente para embasar um impeachment.
Entre outros argumentos, ele cita o fato de que não há precedente
de uma autoridade do Poder Executivo (seja governador ou prefeito)
afastado do cargo por esse motivo.
Já o professor de
direito administrativo da PUC-SP Adilson Dallari, defende o contrário
e sustenta seu argumento no artigo 85 da Constituição Federal, que
prevê que "atos que atentem contra a lei orçamentária"
são crimes de responsabilidade que podem gerar impeachment.
Diante do risco
elevado de uma decisão desfavorável no TCU, o governo vem atuado
para tentar atrasar a apreciação das contas pela corte. Nesta
semana, a Advocacia Geral da União protocolou um pedido de suspeição
(quando há suspeita de falta de imparcialidade) contra o
ministro-relator do caso, Augusto Nardes, tentando afastá-lo do
julgamento. A justificativa é que ele deu diversas declarações à
imprensa antecipando seu voto contra o governo, o que é proibido
pelas regras do tribunal de contas.
A previsão é que
os demais oito ministros decidam na tarde desta quarta-feira se
Nardes deve ou não ser afastado. Caso votem pela sua manutenção no
caso, a apreciação das contas ocorrerá em seguida.
A opinião dos
dois juristas: a rejeição das contas de governo é motivo para um
processo de impeachment?
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NÃO
Joaquim Falcão,
diretor da faculdade de direito da FGV-Rio, considera que uma
eventual parecer do TCU pela rejeição das contas de 2014 do governo
de Dilma Rousseff, mesmo que venha a ser confirmado pelo Congresso,
não é suficiente para justificar juridicamente a abertura de um
processo de impeachment da presidente.
Ele argumenta que
não haveria precedente de decisões anteriores nesse sentido.
Segundo pesquisa realizada por sua equipe, a punição aplicada pela
Justiça Eleitoral a prefeitos e governadores que já tiveram as
contas rejeitadas pelo Poder Legislativo local foram multas e a
proibição de poder se candidatar nos anos seguintes.
"Será uma
novidade você dizer que cometer crime contra responsabilidade fiscal
dá impeachment. Nunca houve (impeachment por rejeição de contas)",
disse.
"Depois, uma
eventual rejeição (das contas) vai ser contestada no Supremo pelo
governo. É imprudente o Congresso decidir (abrir um processo de
impeachment) com base em um assunto pendente no Supremo",
destacou.
Outro ponto citado
por Falcão para refutar essa hipótese é que as contas que estão
sendo analisadas pelo TCU são de 2014, último ano do primeiro
mandato de Dilma, e a Constituição Federal prevê que apenas crimes
de responsabilidade praticados no atual mandato poderiam justificar
um impeachment. "Ou seja, mais uma questão para o Supremo",
afirma.
Além, disso,
observa Falcão, mesmo que tenha havido irregularidades, teria que
ser comprovado que foi uma decisão direta da presidente para que
seja possível sustentar a abertura de um processo de impeachment. "O
terceiro argumento (contra a abertura de impeachment) é que não é
um ato individual dela, mas é uma política de governo (a gestão
fiscal)", diz.
"Meu
raciocínio é que esse conjunto torna a coisa, do ponto de vista
técnico, extremamente difícil", acrescentou.
O diretor da FGV
Direito Rio, no entanto, não descarta completamente a possibilidade
de impeachment devido ao aspecto político do julgamento. Ele
ressalta, porém, que um impeachment sem uma justificativa clara
poderia comprometer a imagem do Brasil perante à comunidade
internacional, o que pode servir como um fator inibidor desse
processo.
"É um
julgamento político. Então, o Congresso pode dizer, como disse para
o (ex-presidente Fernando Collor), que isso (a rejeição das contas)
fere a dignidade do cargo. Agora, você ferir a dignidade do cargo é
uma coisa muito ampla. Não existe uma definição unívoca do que é
a dignidade. O que vai decidir isso é o número de votos (no
Congresso)", observou.
"Estive com
vários banqueiros e investidores. Para o mercado externo, é muito
complicado um impeachment que não seja totalmente claro porque a
continuidade democrática é um dos ativos do Brasil hoje. A visão
externa não comporta interpretações muito elásticas",
insistiu.
Ele observa que,
no caso o impeachment do Collor, havia comprovações de uso de
recursos provenientes de corrupção para uso pessoal, como a compra
de um carro Fiat Elba.
Na avaliação de
Falcão, a estratégia da oposição à Dilma é "criar um clima
de insegurança a favor do impeachment". Segundo ele, "nenhum
dos pedidos (de abertura de processo já apresentados na Câmara)
traz fatos concretos".
"Eles tratam
de hipóteses com base em decisões futuras do TSE (que vai julgar as
contas de campanha de Dilma) ou do TCU. De momento não tem nada. O
que não quer dizer que pode vir a ter", ressalta.
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SIM
O jurista Adilson
de Abreu Dallari, professor de direito administrativo da PUC-SP,
produziu em maio um parecer sustentando que Dilma poderia sofrer um
impeachment por atos do primeiro mandato do seu governo. O documento
havia sido encomendado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo.
De lá para cá,
ele considera que as evidências de irregularidades na gestão fiscal
se avolumaram e tornaram mais fortes os argumentos favoráveis ao
impeachment.
Ele cita o artigo
85 da Constituição Federal que prevê que "atos que atentem
conta a lei orçamentária" são considerados crimes de
responsabilidade. Na sua avaliação, o governo também desrespeitou
trechos da lei 1.079, que regulamenta o processo de impeachment, e a
Lei de Responsabilidade Fiscal, que proíbe que o governo tome
recursos emprestados de bancos públicos.
O professor
destaca o caso das "pedaladas fiscais", em que o governo
atrasou em grande volume (R$ 40 bilhões) repasses para bancos
pagarem benefícios como o Bolsa Família e o seguro-desemprego. Como
os bancos desembolsaram os recursos mesmo assim, isso configuraria
empréstimo à União.
Dallari considera
que o caso é ainda mais grave porque as irregularidades melhoram as
contas públicas artificialmente em ano eleitoral. Na sua avaliação,
já está comprovado que houve crimes.
"No Tribunal
de Contas, o ministro decide depois do pronunciamento dos órgãos
técnicos. E os órgãos técnicos já se pronunciaram. Então, não
dá mais para negar um fato, porque está tudo documentado",
disse.
Dallari argumenta
que Dilma tem responsabilidade direta sobre os atos praticados.
"Pela
Constituição Federal, o Presidente da República é o chefe de
governo. Os ministros são subordinados. Então, a responsabilidade é
do chefe. Não tem como escapar disso", argumenta.
"O importante
nessa história é que não estamos falando de uma transgressão
feita por uma subagência do instituto de pesquisa contra malária lá
no interior da Amazônia. Estamos falando de coisas que aconteceram
necessariamente no nível superior do governo", ressaltou.
Dallari rebate o
argumento de que não haveria precedente para um impeachment da
presidente por rejeição de contas do governo. Na sua avaliação, o
fato de decisões de órgãos do Legislativo locais não terem levado
à cassação de mandatos de prefeitos pode ser consequência do
apoio político angariado por eles nas câmaras municipais.
"Para que o
pedido de impeachment vá para diante, é preciso ter dois terços do
Legislativo. Vamos falar português, é o que a Dilma está tentando
fazer agora com essa reforma (ministerial, anunciada semana passada):
conseguir apoio de um terço dos parlamentares. Ela pode ter cometido
todos os crimes do mundo, se tiver um terço dos votos, não haverá
impeachment", observou.
Na avaliação de
Dallari, quando um governante do Poder Executivo é reeleito, seu
mandato passa a ter oito anos na prática, pois não há interrupção
de governo. Para ele, isso permite que juridicamente Dilma sofra um
impeachment por atos praticados antes da sua reeleição. O professor
considera que se isso não for possível cria-se um incentivo para
que se cometam irregularidades no quarto ano de mandato.
"Essa teoria
de restringir ao mandato atual é completamente absurda porque ela é
um incentivo à corrupção", afirmou."
Fonte: BBC - Brasil
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