Andrei Netto e Giovana Girardi
"Ministros de 195 países aprovaram na noite de sábado o "Acordo de Paris", primeiro marco jurídico universal de luta contra o aquecimento global. O documento da 21ª Conferência do Clima (COP21) das Nações Unidas terá caráter "legalmente vinculante", obrigará todas as nações signatárias a organizar estratégias para limitar o aumento médio da temperatura da Terra a 1,5ºC até 2100 e preverá US$ 100 bilhões por ano para projetos de adaptação dos efeitos do aquecimento a partir de 2020. Trata-se do mais amplo entendimento na área desde o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997.
Apesar de não
fixar metas globais numéricas de redução de emissões de gases de
efeito estufa, o documento estabelece "limitar o aumento da
temperatura média global a bem abaixo de 2ºC em relação aos
níveis pré-industriais, e manter esforços para limitar o aumento
da temperatura a 1,5ºC”.
E diz que, para
segurar o aquecimento do planeta a este nível, é preciso alcançar
o pico de emissões o mais rápido possível e obter um balanço
entre emissões e remoções desses gases na segunda metade do
século. Na prática, isso significa ter emissões líquidas zero –
tudo que continuar sendo emitido até lá tem de ser retirado da
atmosfera de algum modo, seja com florestas ou com mecanismos de
captura de carbono. A inclusão desse detalhamento foi vista como um
bom sinal em relação a versões anteriores do texto, que tinham
sido criticadas por estarem vagas demais, inconsistentes com a meta.
Essa cláusula deixa o caminho para o 1,5°C mais clara.
O documento traz
também um reconhecimento de que as INDCs – metas nacionalmente
determinadas até o momento por 187 países – ainda fazem com que
as emissões do planeta atinjam, em 2030, a marca de 55 gigatoneladas
de CO2, número incompatível com a meta de 2°C. O texto “nota”
que esforços maiores serão necessários e sugere que seria
necessário baixar para 40 gigatoneladas até aquele ano. Hoje as
emissões globais estão em torno de 52 gigatoneladas.
Para atender a
essa necessidade, o acordo estabelece um mecanismo de avaliação
quinquenal das metas. Ficou acertado que um primeiro balanço dos
objetivos será realizado em 2018, mas a primeira verificação de
fato acontecerá em 2023.
Finanças. Sobre
quem vai pagar a conta, o documento traz como decisão que os países
desenvolvidos, como os Estados Unidos e os da União Europeia, devem
prover recursos financeiros para ajudar países em desenvolvimento a
ter ações de mitigação e adaptação. E diz que “outras partes
são convidadas a prover ou a continuar prover tal suporte
voluntariamente”. Essa foi a solução encontrada para um dos
pontos cruciais de debate durante as duas semanas de conferência. Os
países desenvolvidos queriam aumentar a base de doadores. Os em
desenvolvimento topavam, no máximo, uma participação voluntária
em base sul-sul. Mas as nações africanas não se sentiam
confortáveis com isso.
A decisão é que
os ricos deverão contribuir com US$ 100 bilhões por ano a partir de
2020 para projetos de adaptação e de mitigação dos efeitos das
mudanças climáticas a serem empreendidos pelos países em
desenvolvimento. O volume, considerado baixo perante uma necessidade
que especialistas calculam ser de trilhões de dólares, deverá ser
revisado.
Antes de 2025, diz
o texto, “as partes devem estabelecer um novo objetivo coletivo a
partir de um piso de US$ 100 bilhões.” O valor será aplicado em
organismos como o Fundo Verde, o Mecanismo Global de Meio Ambiente, o
Fundo dos Países Menos Desenvolvidos e o Fundo Especial para
Mudanças Climáticas.
"Este texto
contém os principais avanços, que muitos de nós não acreditavam
possível. Este acordo é diferenciado, justo, dinâmico e legalmente
vinculante", afirmou Laurent Fabius, que se emocionou ao lembrar
os delegados governamentais de conferências anteriores, que morreram
"sem poder conhecer este dia". "O documento confirma
nosso objetivo central, vital, de limitar o aumento a temperatura
média da Terra bem abaixo de 2ºC, e se esforçar para limitá-lo a
1,5ºC."
Além de Fabius, o
secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, discursou e
lembrou a responsabilidade histórica dos delegados. "O mundo
inteiro está nos observando", advertiu. "O tempo chegou de
deixar os interesses nacionais de lado e agir nos interesses
globais."
Já o presidente
da França, François Hollande, único chefe de Estado presente,
exortou os delegados governamentais a estarem à altura de um momento
único. "O 12 de dezembro de 2015 poderá ser um dia não só
histórico, mas uma grande data para a humanidade", afirmou,
pedido as ministros que adotassem "o primeiro acordo universal
de nossa história". "É raro em uma vida a ocasião de
mudar o mundo. Vocês a tem. Aproveitem."
Fonte: Estadão
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