Por Lucas Rafael Chianello - Advogado e Jornalista
"Prezado Professor Ézio: no momento em que escrevo este exato trecho dessa missiva, a emoção toma conta de mim ao recordar de sua figura, de quem, se me permite, tornei amigo.
Lembro de ter recebido um correio eletrônico seu quando a Caldense venceu o Tupi por 2x1 em Juiz de Fora no Campeonato Mineiro de 2011.
Após ser entrevistado pelo grande Paulo Sérgio Norberto, então repórter de campo da Rádio Difurosa, eu dizia aos microfones sulfurosos que a vida me havia levado a percorrer o caminho inverso de meu pai, pois precisava continuar para sobreviver e então fui ao reencontro da Caldense no estádio Radialista Mário Heleno.
Em seu correio eletrônico, você escreveu que ficou comovido com a minha entrevista.
Quis a vida depois, Professor, que eu voltasse à terra natal e inclusive reencontrasse contigo, fosse na rua, despretensiosamente, fosse nos corredores forenses, o que me fazia tremer de medo diante da responsabilidade de agora ser camarada de profissão daquele que me ensinou.
O ESTADO DENTRO DO ESTADO
Daquele que me ensinou que processo é instrumento de cidadania, daquele que me ensinou que a população pobre e sofrida desse país é quem mais se prejudica com a morosidade dos então processos físicos que “dormitam” nas secretarias das varas.
E certa vez, Professor, no cruzamento da Rua Assis Figueiredo com a Rua Rio de Janeiro, num desses encontros despretensiosos, comentávamos sobre a situação do país e concordávamos: “a farsa a jato é um Estado dentro do Estado.”
Modéstia a parte, Professor, estávamos certos.
As revelações recentes de diálogos entre os procuradores da força tarefa da operação e o juiz que, depois de condenar com pena de chumbo, abandonou a magistratura para, pasme... prestar consultoria de compliance àqueles que ele condenou, mostram como a justiça pode ser vil e repugnante quando instrumentalizada para assassinar reputações.
Tudo isso, diga-se de passagem, financiado por uma exploração fiscal regressiva que termina no bolso de marajás do serviço público que, independentes de tudo, exceto de sua posição de classe, julgam contra os pobres desse país.
Talvez, Professor, a Carmem Lúcia até estivesse certa ao dizer que “o escárnio venceu a esperança.”
Ocorre que se deu de tal maneira quando um sujeito, assalariado pela exploração fiscal regressiva para defender os interesses da república nos tribunais, escreveu, em trocas de mensagens eletrônicas, que a prisão do primeiro operário presidente de nosso país era um “presente da CIA”.
Reitero, professor, que suas lições processuais foram decisivas para que eu fosse um profissional cidadão que não pensasse só em dinheiro, pois também aprendi com o Senhor que sim, temos de sobreviver, mas eticamente.
Porém, se me permite, as faculdades de direito nos ensinam o caminho até o trânsito em julgado cível, criminal, trabalhista, previdenciário, tributário, etc.
Parece-me que está na hora da academia jurídica iniciar, tardiamente, uma seríssima discussão: como impedir que poderes da república exercidos por profissionais concursados de carreira não seja ocupado por patetas inconsequentes feitos os juízes e procuradores da farsa a jato.
Um caloroso e humano abraço do eterno discípulo."
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