quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Saúde mulher: "câncer de colo de útero: 6 em cada 10 mulheres não conseguem iniciar o tratamento no prazo legal de 60 dias, aponta estudo"

Câncer de colo de útero é a quarta causa de morte por câncer em mulheres no país. — Foto: Reprodução/Freepik

"Pesquisa feita pela Fundação do Câncer traça um retrato epidemiológico da doença no país e levanta pontos que prejudicam o controle eficiente desse tipo de câncer."  

Por Júlia Putini, g1

"Estudo inédito da Fundação do Câncer aponta que 65,8% das mulheres (ou seis em cada 10) com câncer de colo de útero, causado pelo HPV, no Brasil esperam mais de 60 dias para conseguir iniciar o tratamento, indo na contramão do que prevê a lei para a rede pública.

A demora é uma das principais razões que deixam o país longe de controlar a doença. A situação é agravada pelas diferenças regionais, que geram lacunas na detecção e diagnóstico precoces. Quando identificado na fase inicial, é curável.

O levantamento, que reúne dados de diversas fontes sobre pacientes tanto da rede pública quanto privada de 2005 a 2019, consta do primeiro boletim info.oncollect, lançado em dezembro pela instituição. Essas informações são fornecidas por mais de 300 hospitais por meio do Integrador de Registros Hospitalares de Câncer (iRHC).

O documento traça um retrato epidemiológico do câncer de colo de útero no Brasil, que está entre os cinco mais comuns na população feminina e é a quarta causa de morte por câncer entre as brasileiras. Por esse motivo, todo mês de janeiro, o Ministério da Saúde promove a campanha "Janeiro Verde" de conscientização sobre a doença.

No país, a cada 100 mil mulheres, 4,6 morrem anualmente da doença. Nos Estados Unidos, esse número corresponde a menos da metade: 2,2 mortes a cada 100 mil. Alguns países, como Austrália e Nova Zelândia, quase não registram mortes por esse tipo de câncer.

"É muito grave que uma doença para a qual existem vacina e meios de prevenção possua essa taxa de mortalidade [no Brasil]", diz Alfredo Scaff, médico consultor da Fundação do Câncer.

Principais conclusões do estudo


1 - Demora no diagnóstico e início do tratamento


  • As pacientes enfrentam obstáculos para prevenir a doença por conta da dificuldade em obter o diagnóstico, que é feito pelo exame papanicolau.

  • Mais de 50% dos casos são identificados em fase avançada, o que impacta nas chances de cura.
  • 65,8% das mulheres atendidas nas redes pública e privada esperaram mais de 60 dias após o diagnóstico para iniciar o tratamento. Uma lei de 2012 prevê ao paciente com câncer que inicie o tratamento no SUS no prazo de até 60 dias.
  •     
  • No Norte, região líder de casos e de mortalidade, esse percentual é de 72,5%.

  • Sudeste, que tem o segundo maior percentual do país, a taxa é de 69,6%.

Câncer de colo de útero: tempo de espera 

para tratamento


  • Até 30 dias: 12,2%
  • De 31 a 60 dias: 22%
  • Mais de 60 dias: 65,8%   
"Demora de duas a três décadas do processo inicial até o câncer, 
o que explica a maior incidência da doença em mulheres com mais 
de 40 anos. Por isso que um exame preventivo a cada três anos é 
o ideal para diagnosticar de forma ainda muito precoce" — diz Alfredo 
Scaff,  médico consultor da Fundação do Câncer

Procurado pelo g1 em dezembro, ainda sob a gestão Jair Bolsonaro, o 
Ministério da Saúde não respondeu sobre o motivo da demora para início 
do tratamento na rede pública de saúde. O pedido de informações foi 
reiterado para a pasta em janeiro, já no governo Lula, que não havia dado 
retorno até a última atualização desta reportagem.

 Número de casos:

  • Norte tem o maior número de casos de câncer de colo de útero, com 76 novos casos a cada 100 mil mulheres.

  • Essa taxa é mais que o dobro da encontrada no Sudeste (35,4), onde a situação é a melhor do país.

  • Por outro lado, o Sudeste lidera os casos de lesão causada pelo HPV (antes de virar câncer), com 82,37. O Centro-Oeste aparece em segundo, com 81,66.

  • Número de mortes por câncer
    • A região Norte apresenta ainda o maior número de mortes em decorrência da doença em todas as faixas etárias.
    • Sudeste tem o menor número de mortes em todas as faixas etárias.
    A pesquisadora Yammê Portella, que participou do estudo, ressalta que, apesar de não haver muitas similaridades sociais entre as regiões Norte e Sul, os índices de mortalidade parecidos chamam a atenção.

    Para ela, a hipótese é de que no Sul as altas taxas de tabagismo influenciam o desenvolvimento de diversos tipos de câncer. Já no Norte, a desigualdade social é apontada como fator que exerce o maior impacto negativo na prevenção e tratamento.

    Mortalidade de câncer de colo de útero por região


    a cada 100 mil mulheres


    Todas as regiões do país tem índices alarmantes de mulheres dignosticadas com câncer de colo de útero

    Em todas as regiões do Brasil, as mulheres mais atingidas são as que residem no Norte do país: desde os 25 aos 64 anos, as maiores incidências em todas as regiões do Brasil são de 55 aos 64 anos, ou seja, depois da menopausa.

    3 - Por idade


    • No Brasil, os casos de câncer de colo de útero são mais comuns entre mulheres de 45 a 54 anos. De todas as mulheres com a doença contabilizadas no estudo, 20% tinham mais de 65 anos.

    • Já o número de mortes pela doença é maior nas mulheres entre 45 e 54 anos.

    • Mulheres de até 44 anos são as que mais apresentam a lesão causada pelo HPV (precursora do câncer).

    Mortalidade de câncer de colo de útero por faixa etária no Brasil


    a cada 100 mil mulheres


    > de 25 anos = 1,1
    de 25 a 34 anos = 12,3
    de 35 a 44 anos = 22,7
            45 a 54 anos = 24
    maiores de 65 anos = 20,01

    4 - Por escolaridade

    • Os maiores percentuais da lesão do HPV que pode virar câncer são em mulheres com nenhuma escolaridade ou com ensino fundamental incompleto, com destaque para o Nordeste (55%).

    • Além disso, 61,6% das mulheres com o câncer de colo de útero possuem  baixo grau de escolaridade (nenhuma instrução ou ensino fundamental incompleto).

    5 - Por etnia

    • Tanto o câncer em si quanto a lesão precursora da doença acometem mais mulheres negras (pretas e pardas) em quatro das cinco regiões do Brasil, com, respectivamente, 64,3% e 62,7%.

    • A exceção é na região Sul, onde há o maior percentual de mulheres brancas com a doença. São 89,3% com a lesão precursora e 87,6% com o câncer invasivo.

    Entenda sobre câncer de colo de útero


    Causas

    • O câncer no colo do útero é causado pela infecção por um dos tipos malignos do papilomavírus humano (HPV), que é sexualmente transmissível.

    • Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV, sendo 12 de alto risco para o câncer. Outros tipos podem causar verrugas genitais, mas esses dificilmente viram câncer.

    Sintomas


    • Em estágio inicial, o câncer de colo de útero é completamente assintomático

    • Sintomas precoces envolvem sangramentos fora do período menstrual e após relações sexuais.

    • Conforme o câncer se desenvolve, o tumor cresce e começa a pressionar outras estruturas, causando dor.

    Prevenção


    Os dois maiores pilares para a prevenção e erradicação da doença são:

    • Exame papanicolau: deve ser feito a partir dos 25 anos em mulheres com vida sexual ativa. É recomendado que as duas primeiras coletas sejam anuais. Se os resultados vierem normais, pode ser refeito a cada três anos. São coletadas células do colo uterino e enviadas para análise em laboratório.

    • Vacina contra o HPV: existem dois tipos: 1 - a bivalente (que protege contra duas variações do vírus e equivale a uma taxa de 60% de prevenção contra o câncer); 2 - a quadrivalente (que protege contra quatro variações, oferecendo uma cobertura de proteção de 80%).

    A vacina contra o HPV é aplicada gratuitamente na rede pública brasileira em adolescentes de ambos os sexos entre 9 e 14 anos de idade. Também têm direito à vacina gratuita as mulheres imunossuprimidas com até 45 anos. As pessoas fora do público-alvo podem tomar na rede privada a um custo de cerca de R$ 600 cada uma das três doses.

    Em dezembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou as recomendações quanto à vacinação para o HPV. A nova recomendação foi feita visando a prevenção do câncer de colo de útero, e prevê que, além das meninas de 9 a 14 anos, também sejam vacinadas mulheres mais velhas. 


    Ao g1, o Ministério da Saúde, sob a gestão de Bolsonaro, havia informado que o Programa Nacional de Imunizações acompanhava a discussão e está aguardando a conclusão de outros estudos sobre a duração da imunidade com dose única e levaria esse assunto para discussão na Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), no primeiro semestre de 2023."

    Fonte: g1/Saúde 
                                                                 

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