Ex-presidente Bolsonaro |
Por Aguirre Talento, Colunista do UOL
"Em uma manifestação apresentada no inquérito da Polícia Federal que apura a discussão de um plano de golpe por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apontou, pela primeira vez, um vínculo entre essas articulações golpistas e os atos violentos do 8 de janeiro, que resultaram em invasão e depredação das sedes dos três Poderes.
Até agora, as defesas dos investigados têm afirmado que a discussão de um documento prevendo a convocação de novas eleições não configura crime por não ter sido colocado em prática e que não haveria nenhuma relação dessas tratativas com o 8 de Janeiro.
Gonet também indicou ao STF que os acusados pelo plano de golpe poderão ser cobrados para ressarcir os cofres públicos por prejuízos da ordem de R$ 26 milhões, provocados pela destruição do patrimônio público.
A Polícia Federal deve concluir o inquérito até o final do ano. Depois disso, Gonet será o responsável por decidir sobre a apresentação de uma denúncia ao STF sobre os fatos investigados.
A PF já obteve indícios de que o então presidente Jair Bolsonaro discutiu uma minuta golpista com os comandantes das Forças Armadas após sua derrota nas eleições, para tentar continuar no poder. O caso foi revelado pelo UOL, em setembro de 2023. Outros auxiliares, civis e militares, também participaram das articulações. O relatório final da PF deve destrinchar o papel de cada um nessas tratativas.
A manifestação apresentada pelo procurador-geral ao STF já aponta uma correlação entre os assuntos. Isso poderia agravar os crimes atribuídos aos acusados.
O posicionamento do procurador-geral foi apresentado em resposta a um pedido da defesa de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, para revogação de medidas cautelares - como a proibição do contato do dirigente partidário com outros investigados, como o ex-presidente Bolsonaro.
Envolvimento de Bolsonaro no plano de golpe de Estado em 8 de janeiro do ano passado Fonte: UOL
A defesa de Valdemar também pediu a restituição do dinheiro apreendido em sua residência, R$ 53 mil, e três relógios de luxo.
Para Gonet, os valores não devem ser devolvidos porque os investigados pelo plano de golpe poderão ter que ressarcir os cofres públicos pelo prejuízo da destruição do 8 de Janeiro.
"Não parece recomendável, também, a restituição dos bens apreendidos. O requerente é investigado por crimes que resultaram em expressivos prejuízos à Fazenda Pública", escreveu o PGR.
Em seguida, ele acrescentou que os danos foram calculados em R$ 3,5 milhões ao Senado, R$ 2,7 milhões à Câmara dos Deputados, mais de R$ 9 milhões ao Palácio do Planalto e R$ 11,4 milhões ao STF.
"O Decreto-Lei n. 3.240/41 autoriza a constrição de patrimônio lícito, justamente a fim de garantir o ressarcimento do dano, como efeito da condenação (art. 91, inciso I, CP). Há tratamento mais rigoroso para os autores de crimes que importam dano à Fazenda Pública, como forma de tutelar, de modo mais efetivo, o patrimônio público e, assim, o interesse da coletividade atingida por tais práticas delituosas", afirmou Gonet.
Os pedidos da defesa de Valdemar Costa Neto foram indeferidos pelo relator do caso, o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Procurada, a defesa de Valdemar afirmou ter convicção de que Gonet irá se convencer, ao final da investigação, de que não houve envolvimento dele nos fatos investigados"
Fonte: UOL
Aguirre Talento é colunista do UOL
Aguirre Talento é jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia. Acompanha em Brasília, desde 2013, as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre escândalos de corrupção, com passagens pelo jornal Folha de S.Paulo, revista IstoÉ, revista Época e jornal O Globo. É autor do livro "O Fim da Lava-Jato: Como a atuação de Bolsonaro, Lula e Moro enterrou a maior e mais controversa investigação do Brasil"
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