Por Ana Lúcia Dias. OGM
Descoberta há cerca de uma década, a Fosfoetanolamina ficou conhecida por seu potencial no tratamento do câncer. A substância foi inicialmente estudada pelo Dr. Renato Meneguelo, neurologista, oncologista e cardiologista, no Ceará. Segundo ele, o organismo humano produz Fosfoetanolamina naturalmente, mas em quantidade insuficiente quando há a presença de câncer.
Buscando desenvolver uma versão sintética da molécula, Dr. Renato se uniu ao químico Dr. Gilberto Chierice, da USP de São Carlos. O cientista conseguiu sintetizar a substância e encapsulá-la, criando assim a versão sintética da Fosfoetanolamina, que ficou conhecida pelas cápsulas azul e brancas.
Testes iniciais em ratos e posteriormente em seres humanos indicaram resultados positivos, levando à distribuição experimental da substância para pacientes em estágio avançado da doença. A proposta dos pesquisadores era que a Fosfoetanolamina fosse distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), já que seu custo de produção era extremamente baixo, estimado em R$ 0,10 por cápsula. O tratamento sugerido consistia na ingestão de três cápsulas diárias antes das refeições.
Porém, como ocorre com qualquer novo medicamento, a substância precisava passar por testes clínicos rigorosos e obter a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão regulador solicitou novos testes em animais e humanos, mas, apesar dos relatos de bons resultados, a liberação oficial nunca aconteceu. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a distribuição da substância sem os devidos estudos clínicos conclusivos, o que gerou polêmica e revolta entre pacientes e pesquisadores envolvidos.
A Fosfoetanolamina atuaria nas mitocôndrias das células cancerígenas, promovendo a apoptose (suicídio celular) e impedindo a formação de metástases. Apesar dos relatos de melhora e até cura em alguns pacientes que fizeram uso da Fosfoetanolamina.
O embate entre a comunidade científica, os órgãos reguladores e a opinião pública gerou debates sobre o papel da indústria farmacêutica e as dificuldades de avanço de pesquisas independentes no Brasil.
Os dois principais pesquisadores da Fosfoetanolamina faleceram nos últimos anos: Dr. Renato Meneguelo em 2024 e Dr. Gilberto Chierice em 2022. Defensores da substância acreditam que ambos merecem um reconhecimento póstumo pela contribuição à ciência.
Atualmente, novos estudos estão sendo conduzidos para avaliar a eficácia da Fosfoetanolamina de maneira mais aprofundada. Resta saber se, desta vez, os avanços científicos serão capazes de superar as barreiras burocráticas e mercadológicas.
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