Uma delação que preocupa
“A
promessa de Ricardo Pessoa de contar o que sabe à Justiça eleva o
grau de tensão entre os políticos em Brasília por pelo menos uma
razão: ele fez doações às campanhas eleitorais até o ano
passado, quando já havia sido deflagrada a Operação Lava-Jato,
mas, ainda, sem que as investigações tivessem chegado às
empreiteiras, as principais doadoras para as campanhas políticas no
país. Portanto, houve financiamento de campanhas dos atuais
mandatos.
Se
o acordo de delação premiada foi assinado em Brasília, diante do
Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, é sinal de que Pessoa
incluiu em seu depoimento a citação de nomes de políticos com
mandato ou ministros – aqueles que têm foro privilegiado.
Um
acordo de delação premiada pressupõe três coisas: o
reconhecimento pelo investigado de que cometeu crime; a admissão de
que deve ressarcir dinheiro desviado para os cofres públicos; e, por
fim, contar o que sabe e comprovar o que contou.
No
começo de suas conversas com os procuradores em Curitiba, Ricardo
Pessoa resistia em assumir qualquer responsabilidade nos casos de
desvios da Petrobras. Enquanto outros empreiteiros já admitiam a
existência de cartel para distribuição de obras da Petrobras (com
preço embutindo corrupção), Pessoa ainda negava. Ele se recusava,
também, a falar sobre outras áreas de governo em que haveria
combinação de preços.
Com
o passar dos meses na prisão, foi contando algumas coisas que se
passaram no mundo das obras públicas. E quando veio em 28 de abril a
possibilidade da prisão domiciliar (com a tornozeleira eletrônica
que traz numa perna), Pessoa concluiu que já tinha falado bastante e
que poderia, então, fazer o acordo de delação premiada como forma
de obter redução de pena pela Justiça. É o que está acontecendo
neste momento. E aí, contar sobre doações e desvios de verbas no
governo.
Pior
para os políticos. Ricardo Pessoa foi interlocutor de importantes
políticos no Brasil. E doador de campanhas vitoriosas, como a da
presidente Dilma, que teve como tesoureiro o hoje ministro da
Comunicação Social, Edinho Silva.
Além
disso, agora, essas investigações serão conduzidas a partir de
Brasília, pelo procurador Rodrigo Janot. E não pelo juiz Sérgio
Moro, em Curitiba, que já demonstrou que, com ele, as perguntas têm
de ter respostas convincentes.”
Fonte: colunistas da G1
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