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"Na lista de pré-candidatos ao Palácio do Planalto, por exemplo,
há pouca novidade: dois ex-presidentes da República, cinco ex-ministros, além
de nomes que já estiveram no Congresso, foram governadores ou pelo menos se
candidataram a algum cargo em eleições passadas.
No caso do Congresso, se seguir a tendência das eleições
passadas, o índice de renovação também não tende a ser muito alto. Dos 513
deputados eleitos em 2014, 290 - mais de 54% - já faziam parte da legislatura
anterior. Além disso, a grande maioria dos eleitos que não eram deputados
federais no mandato anterior já tinha trabalhado com política ocupando cargos
eletivos ou nomeados no Legislativo ou no Executivo, em alguma das três
esferas.
Mas afinal, por que é tão difícil renovar a política no Brasil?
A forma como o sistema e as regras estão estruturados, dizem
especialistas, tendem a beneficiar quem já faz política e dificultar a entrada
dos novatos.
"As estruturas dos partidos são completamente engessadas,
hierárquicas e prontas para eleger certas figuras e talvez para trazer um
(único) novo nome", afirma a cientista social e antropóloga Rosana
Pinheiro-Machado, professora da Universidade Federal de Santa Maria, dizendo
ser otimista em relação às novas gerações e formas distintas de candidaturas
que estão aparecendo.
Já para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo,
"algum grau de renovação sempre tem".
"A questão é se vai ser significativa para renovar a cara
do sistema", observa Melo, que não aposta numa mudança significativa de
imediato, mas acredita que o país está vivendo um processo de transformação da
política - os resultados, contudo, só poderão ser mensurados, segundo ele,
talvez daqui a quatro ou oito anos.
A BBC News Brasil ouviu especialistas e jovens que dizem querer
mudar a política para apontar as principais dificuldades de mudar a cara e as
práticas do sistema político no país. Cinco foram as razões mais citadas para
explicar por que isso é tão difícil:
1. Estrutura dos partidos políticos
Como candidaturas avulsas ou independentes não são permitidas no
Brasil, para disputar uma eleição é obrigatório estar filiado a um partido
político pelo menos seis meses antes do pleito.
Apesar de ser relativamente fácil se associar a um partido, as
siglas tendem a dar mais oportunidades e a serem mais receptivas aos novatos
que são potenciais puxadores de votos, como artistas ou atletas.
"É muito difícil você entrar num partido se não for para
trabalhar dentro de uma lógica muito pré-determinada. Muitas vezes a lógica é
perpetuar o partido e os mesmos poderes, as mesmas redes. Geralmente redes
masculinas, com algumas exceções é claro, mas redes de homens brancos",
afirma Pinheiro-Machado.
A professora diz que ainda é muito raro que partidos invistam em
candidaturas femininas, em especial de mulheres negras.
Alguns partidos estão abrindo
as portas para candidatos de movimentos políticos nascidos nos últimos anos,
como Agora!, RenovaBR, Movimento Brasil Livre (MBL) e Livres. Mas isso não significa
que os mais jovens vão ter voz e força nessas legendas.
Por isso, Pedro Duarte, vice-presidente da juventude do PSDB,
defende que mais jovens se filiem a partidos tradicionais e que participem de
forma mais ativa da vida partidária na tentativa de abrir espaço para caras
novas em organizações onde a estrutura de poder está consolidada e há pouca
alternância no comando.
2. Financiamento de campanha
Além de não terem as portas abertas, diz Carlos Melo, os
partidos se transformaram em importantes financiadores de campanha e tendem a
patrocinar quem já está no poder.
Desde 2014, quando o Supremo Tribunal Federal proibiu a doação
de empresas para partidos e candidatos, o financiamento eleitoral ficou
restrito às contribuições de pessoas físicas - que podem doar até 10% da renda
declarada no ano anterior à eleição - e ao fundo partidário, que é de R$ 888,7
milhões neste ano.
Além de doação de pessoa física, campanha de 2018 vai ser financiada pelos fundos eleitoral e partidário Foto: Getty imagens |
No ano passado, deputados e senadores
aprovaram o fundão eleitoral no valor de R$ 1,7 bilhão. Tanto os recursos do
fundo partidário quanto os do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, nome
oficial do fundão eleitoral, têm seu destino decidido pelos partidos.
"Esses recursos tendem a ser distribuídos pela cúpula dos
partidos e a fortalecer quem já está no poder", afirma Melo, salientando
que nem sempre os partidos são transparentes e democráticos.
Apesar de a minirreforma partidária aprovada no ano passado ter
estabelecido um teto para os gastos de campanha, disputar uma eleição de forma
competitiva ainda é considerado caro.
"Acho que os partidos são muito pouco dispostos a financiar
novos candidatos", completa Rosana Pinheiro-Machado.
3. Força dos que já têm mandatos
Tanto Pinheiro-Machado quanto Melo apontam que, na lógica de
privilegiar quem já está no poder, o sistema político dá especial atenção aos
donos de mandatos ou de cargos que conseguem usar a máquina pública.
"Imagina um jovem que vai disputar com alguém que já tem
sede física, assessores e rede de relacionamento com prefeitos,
vereadores", diz o professor, salientando a condição de desvantagem dos
que não têm "um aparelho" funcionando a seu favor.
Foto: FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL |
Melo afirma ainda que são
poucos os partidos que têm líderes carismáticos como Lula ou
"chefões" como Valdemar da Costa Neto (PR) e Roberto Jefferson (PTB),
que conseguem se manter fortes em suas respectivas legendas mesmo sem mandato.
Ainda assim, Pinheiro-Machado diz que, apesar de ser difícil, é
possível romper com esse sistema.
"Sou otimista em relação às novas gerações e às novas
formas de candidaturas que estão começando a se colocar na jogada; de pessoas
que vieram dos novíssimos movimentos até de candidaturas ativistas, e mesmo de
grupos mais ao centro e à direita", diz.
"Há grupos que estão pensando também em amplas redes de
renovação política e de formação de lideranças muito voltadas para questões
técnicas."
Foto: FERNANDOPODOLSKI/GETTY |
4. Tom do discurso
político
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