GENEBRA
- "Entidades de direitos humanos discursaram nesta terça-feira no
Conselho de Direitos Humanos da ONU denunciando
o Brasil por conta das intervenção
federal no Rio
de Janeiro e
pela incapacidade de dar uma resposta diante dos mais de seis meses
do assassinato da vereadora Marielle
Franco.
Observatório da Intervenção, Conectas e outras se manifestaram
em Genebra diante
dos governos, alertando para a situação do País."
A
viúva da vereadora Marielle Franco, Mônica Benício, está em
Genebra para participar de reunião do Conselho de Direitos Humanos
da ONU Foto: Jamil Chade/Estadão
"Falando
em nome do grupo, o coordenador de Dados do Observatório da
Intervenção, Pablo Nunes, destacou "as violações de direitos
humanos no contexto da intervenção federal na segurança pública
do Rio de Janeiro".
"Em
sete meses, os crimes violentos não foram reduzidos e os confrontos
entre organizações criminosas e a polícia aumentaram",
denunciou Nunes. "Mais de 916 pessoas morreram por forças de
segurança no Rio, um aumento de 49% em comparação ao mesmo período
do ano passado", alertou Nunes.
Em
seu site, o Observatório da Intervenção se apresenta como uma
iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da
Universidade Candido Mendes (CESeC/Ucam). "Seu objetivo é
acompanhar e divulgar os desdobramentos, os impactos e as violações
de direitos decorrentes da intervenção federal no estado do Rio de
Janeiro a partir da documentação e da análise criteriosa sobre
fatos e dados", indicou.
No
discurso diante da ONU, Nunes indicou que o Brasil tem visto um
"aumento do uso de militares para a segurança pública e
operações de ordem".
"Nos
últimos dez anos, 44 decretos autorizando o uso de forças militares
em operações de segurança pública foram emitidos", disse
Nunes. "O resultado tem sido o aumento das violações de
direitos humanos", destacou.
A
situação das investigações sobre a morte de Marielle Franco
também foi destacada pelo grupo. "No
dia 14 de março, a defensora de direitos humanos e vereadora
Marielle Franco e seu motorista foram assassinados",
disse Nunes. "Até agora, o crime continua sem uma resposta e as
autoridades fracassaram em identificar quem matou Marielle Franco e o
motivo", destacou.
"Pedimos
que o governo brasileiro evite o uso de militares para operações de
segurança pública e implementem uma política de segurança mais
eficiente, baseada em inteligência, prevenção e rever seu modelo
baseado na guerra às drogas", disse o representante.
"Também
pedimos que o governo nos de uma resposta sobre quem matou Marielle
Franco", completou. Na próxima quinta-feira, 20, a ONU
vai receber ainda a presença da viúva da vereadora, Mônica
Benício.
Conforme
o Estado revelou
com exclusividade, o governo tampouco deu uma resposta aos relatores
das Nações Unidas que, dias depois da morte de Marielle, insistiram
em ter uma posição do Itamaraty sobre
o andamento das investigações.
Em
resposta às críticas das ONGs, a embaixadora do Brasil na ONU,
Maria Nazareth Farani Azevedo insistiu em um discurso no Conselho de
Direitos Humanos que a intervenção federal no Rio foi realizada
depois de uma aprovação no Congresso Nacional e que ela termina no
dia 31 de dezembro.
O
governo, segundo ela, considera que a ação "teve impacto
positivo no combate ao crime" e que, se parte das ONGs não
aprovam a medida, "ela é amplamente popular entre a população
que vive e trabalha no Rio".
Quanto
à morte de Marielle Franco, a embaixadora reiterou "o
compromisso com uma investigação rigorosa com o objetivo de
encontrar os autores e os levar à Justiça".
"O
caso foi classificado como confidencial para proteger as identidades
de testemunhas e o conteúdo de suas declarações", justificou
a embaixadora.
"Uma
vez concluído, os resultados serão disponibilizados às famílias
das vitimas e vai instruir o caso que será submetido à
corte", completou.
Procurada
pela reportagem do Estado,
a Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro (Seseg)
informou que não iria comentar as críticas à intervenção federal
na segurança pública do Estado do Rio e à demora no esclarecimento
do assassinato de Marielle Franco feitas no Conselho de Direitos
Humanos da ONU."
Também
procurado, o Gabinete da Intervenção Federal não se pronunciou até
as 18h50 desta terça. /COLABOROU
FÁBIO GRELLET
Fonte:
ESTADÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!