Fábrica da Nestlé em Konolfingen (Suíça) em setembro de 2020. |
"A informação, enviada aos dirigentes da empresa suíça no início do ano e que exclui alimentação infantil e outros segmentos, foi publicada nesta segunda-feira pelo jornal ‘Financial Times’."
Por MIGUEL ÁNGEL MEDINA - EL PAÍS
"A Nestlé, a maior empresa de alimentos do mundo, reconhece em documento interno que mais de 60% dos produtos que comercializa —de chocolates e doces a cereais matinais e sorvetes— não atendem aos critérios necessários para serem saudáveis e que algumas das categorias de bebidas e de alimentos que produz “nunca serão saudáveis, por mais que sejam renovadas”. A informação, enviada aos dirigentes da empresa suíça no início do ano, foi publicada nesta segunda-feira pelo jornal Financial Times. Procurada, a empresa no Brasil reforçou o posicionamento global em que afirma que “está trabalhando em um projeto para atualizar sua estratégia pioneira de nutrição e saúde”. “Nossos esforços se baseiam em uma base sólida de trabalho ao longo de décadas para melhorar o valor nutricional de nossos produtos. Por exemplo, reduzimos os açúcares e o sódio em nossos produtos de maneira significativa nas últimas duas décadas, cerca de 14-15% apenas nos últimos sete anos.”
O documento avalia metade dos produtos da Nestlé, deixando de fora nutrição infantil, ração para animais de estimação, café e nutrição médica. Assim, a análise reconhece que apenas 37% dos alimentos e bebidas da marca alcançam uma classificação superior a 3,5, de acordo com o sistema australiano de classificação por estrelas, um esquema de rotulagem nutricional que atribui cinco estrelas aos alimentos mais saudáveis. A própria empresa considera que 3,5 representa “uma definição reconhecida de saúde”, segundo o sistema citado, utilizado por organizações como a Fundação para o Acesso à Nutrição.
No total, 63% dos alimentos avaliados não alcançam o nível saudável, assim como 96% das bebidas —sem contar o café— e 99% dos produtos de confeitaria e sorvetes. Já 82% das águas e 60% dos laticínios chegam a esse patamar. “Fizemos melhorias significativas em nossos produtos, mas nosso portfólio ainda carece de definições de saúde em um cenário em que a pressão regulatória e as demandas dos consumidores não param de crescer”, explica o documento, segundo o jornal.
O nutricionista Juan Revenga observa que esses dados não são uma surpresa: “Isso mostra que os dirigentes da empresa já sabem que fabricam produtos não saudáveis. Não é que não alcancem níveis excelentes de salubridade, mas que não são saudáveis. Isso deveria pôr em destaque o modo como essas multinacionais se comportam. Chama a atenção a nota ruim das bebidas e produtos de confeitaria e sorvetes, pelos quais a marca é mais conhecida. Mas também é surpreendente que 18% das águas também não sejam saudáveis”."
Fonte: El País
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