Somos as nossas escolhas.
Jean-Paul Sartre
A partir do momento em que acordamos até o momento em que voltamos a dormir, precisamos tomar decisões. Segundo o artigo “The Cure for Decision Fatigue” (‘A Cura para a Fadiga da Decisão’, em tradução livre), publicado pelo periódico norte-americano The Wall Street Journal, pesquisas apontam que um ser humano adulto toma 35 mil decisões diárias. Isto mesmo: entre decisões simples (como levantar-se da cama) e decisões complexas (como adquirir um carro ou aceitar um pedido de casamento), tomamos praticamente uma decisão por segundo – já descontadas as horas de sono.Muitas destas decisões são tão automáticas ou inconscientes que passam despercebidas. Programado para facilitar a nossa vida, poupando nossa energia e nos protegendo de ameaças reais ou imaginárias, o cérebro aprende as decisões que são tomadas e as automatiza sempre que possível. É claro que esta funcionalidade do cérebro tem uma grande utilidade, pois não precisamos pensar o tempo inteiro em decisões que precisamos tomar. Mas tem um efeito colateral perigoso para nossa humanidade.
Esta característica do cérebro nos torna um terreno fértil para que um sistema de crenças se estabeleça. Estas crenças se estabelecem e consolidam percepções de mundo que facilitam as escolhas, tornam-se assim cada vez mais difíceis de serem percebidas e alteradas. E as escolhas muitas vezes não são as melhores para a pessoa, são apenas que são as mais fáceis. Aquelas escolhas às quais ela se acostumou e lhe concede sensação de segurança e conforto.
Para se resolver o automatismo, há um antídoto composto por duas etapas. A primeira, é estar atento aos motivos pelos quais se faz uma escolha. Demanda um certo gasto de energia e de autoconhecimento. Decidir ir por um caminho diferente para o trabalho ou a casa do namorado ou namorada exige perceber que se faz sempre o mesmo caminho.
A segunda etapa é o verdadeiro desafio. Pois perceber que se faz o mesmo caminho para chegar a algum lugar vai demandar ousar ir por um caminho diferente. Ou seja, após se perceber o automatismo de uma decisão, é necessário escolher mudar de trajeto – e qual o trajeto a ser efetuado. Haverá insegurança. Haverá medo. Borboletas surgirão em seu estômago.
Esta é uma decisão até mesmo considerada simples. O desafio aumenta de escala e patamar quando se percebe que a situação à qual se estava acostumado é prejudicial a você de alguma forma. Prejudica seus valores mais caros, sua autoestima, sua conexão com o que considera de mais sagrado. Você percebe isso e vem o desconforto, a raiva, a indignação, a tristeza, ou qualquer outro sentimento primário.
E você precisa tomar a decisão.
O sistema de crenças está ali, dentro de você, gritando para escolher o caminho mais seguro, o trilho desenhado e mapeado há anos, que o levou em segurança até aquele momento. “Não saia da rota!” – ele grita – “faça o que se espera que você faça!”.
E neste momento, você diz a única palavra que lhe recuperará o poder e a liberdade.
Você diz “não”.
Em uma manhã aparentemente comum de Primeiro de Dezembro de 1955, no Alabama, uma senhora chamada Rosa Parks tomou um ônibus e sentou-se. Naquela época, em algumas regiões do sul dos Estados Unidos, havia uma lei que obrigava aos negros a se levantar para dar lugar a um branco, quando o transporte público lotava. O ônibus que Rosa viajava lotou. Uma pessoa branca, que a História não guardou o nome, quis sentar-se. E ordenou a Rosa que lhe cedesse o lugar.
Então a mulher de 42 anos fez o impensável: ela disse “não”. O motorista parou o ônibus e reforçou a ordem. Rosa manteve-se irredutível, mesmo ameaçada de prisão. O que de fato aconteceu: o ônibus tomou o caminho da delegacia, onde Rosa foi fichada e detida. E a Teoria do Caos, onde o bater de asas de uma borboleta pode provocar um tufão do outro lado do planeta, entrou em ação.
No dia de seu julgamento, em 5 de dezembro do mesmo ano, panfletos foram distribuídos à população negra. Convocavam para que nenhum negro utilizasse nenhum ônibus naquela segunda-feira, fossem crianças ou adultos. Choveu naquele dia, mas os negros – cerca de 40 mil, motivados por um certo Martin Luther King Jr. – persistiram no boicote. E um pouco mais. E um pouco mais. No total foram trezentas e oitenta e uma segundas-feiras consecutivas. As companhias de ônibus estavam indo à bancarrota. Em 21 de dezembro de 1956, a lei segregacionista de transporte foi derrubada.
Em 14 de junho de 1968, um grupo de militares brasileiros é convocado para uma reunião em uma sala do Ministério da Aeronáutica. Nesta reunião, liderada pelo brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, um plano macabro é exposto. A ditadura brasileira completava 4 anos, e estava sob crescentes críticas e pressão interna e externa. Uma ala extremista das Forças Armadas brasileiras então imaginou um plano: executar atentados terroristas e colocar a culpa na esquerda, de maneira a justificar uma repressão violenta e sangrenta. O ápice dos atentados terroristas seria a explosão do gasômetro no Rio de Janeiro – uma ideia que, se concretizada, teria matado pelo menos 100 mil pessoas. Quando perguntado sobre o que achava do plano, o capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, conhecido pela tropa como “Sérgio Macaco”, mostrou-se indignado, denominou o plano de “imoral” e avisou que enquanto estivesse vivo, aquele plano jamais aconteceria. O plano foi deixado de lado quando foi vazado para o “Correio da Manhã”, além de denunciado na Câmara dos Deputados pelo deputado Maurílio Lima (MDB-PE).
Sérgio Macaco foi cassado pelo AI-5 e perseguido durante toda a sua vida. Somente em 1992, devido a uma decisão do STF, foi reintegrado à Aeronáutica com o posto de brigadeiro, mas a decisão não foi cumprida pelo ministro Lélio Lobo. O Brigadeiro Sérgio Macaco, como merece ser chamado, teve seu direito efetivado pelo então presidente Itamar Franco, seis dias após sua morte por câncer.
Rosa Parks, o Brigadeiro Sérgio Carvalho, e tantos outros seres humanos que realizaram feitos notáveis foram capazes de dizer “não” a si mesmos – à voz de seu sistema de crenças que lhes diziam para fazer o que sempre foi feito, mesmo que isto afrontasse a sua dignidade ou seus sonhos. Quando eles disseram “não”, na verdade disseram “sim” a algo muito maior e alcançaram o que todo ser humano pode e deseja alcançar: a transcendência.
Maurício Luz |
1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”.
E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..
Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ.
Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.
Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997).
Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012).
Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019).
Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.
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