sábado, 13 de novembro de 2021

"Uma Breve Reflexão do Tempo"


 “Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:

Olhai as minhas obras, ó poderosos, e desesperai!"

verso do poema “Ozymandias”, escrito por Percy Byshee Shelley


Olá, meu nome é Cronos, filho de Urano, o céu, e Gaia, a terra. Na mitologia grega, fui um titã e a personificação do tempo. Por causa disto, meu nome está em palavras como `cronômetro" e “cronologia”. Também virei marca de relógio, algo que meus advogados não conseguiram evitar. Eu fui o senhor dos deuses até ser destronado pelo meu filho Zeus. Não contarei a história aqui porque não é o momento e não quero perder tempo, com perdão do trocadilho, pois “o tempo perdido não volta mais”.  

Poucos conceitos abstratos quanto o Tempo estão tão enraizados nas vidas humanas. Desde cedo, você ouve expressões como “não perca tempo” ou “tempo é dinheiro”, dando uma dimensão de valor monetário e de recurso para mim. Você também escuta que “o Tempo cura tudo” ou que “o Tempo é o senhor da razão”, mostrando que eu, além de gerar dinheiro, também posso ser médico e professor (ou detetive, conforme a perspectiva). 

Até o tempo ou momento em que compartilho estas linhas, entendo que os ditados e expressões procuram mostrar aos mortais os efeitos do Tempo, e o que estes efeitos trazem a eles. Afirmar que o “tempo é dinheiro” mostra uma perspectiva de que, sem nada produtivo a fazer, perde-se a oportunidade de transformar minutos em recursos financeiros, que poderiam ser utilizados para o bem-estar próprio ou alheio. Afirmar que o Tempo cura tudo é procura mostrar que as feridas, sejam no corpo ou na alma, tendem a cicatrizar adequadamente, desde que bem cuidadas. Afirmar que o Tempo é o senhor da razão mostra que, no decorrer da existência, a verdade dos fatos sempre prevalecerá – Galileu Galilei deve concordar com esta afirmação. Ou então, que o Tempo nos trará Sabedoria – a inestimável combinação de experiência com conhecimento.

Desde que estejam abertos e atentos, eu, o Tempo, posso lhes trazer valiosas lições.

Poucos puderam traduzir tão bem uma destas mais valiosas lições quanto o poeta inglês Percy Byshee Shelley. Percy tomou conhecimento, em 1817, que o Museu Britânico adquiriu fragmentos da estátua do faraó Ramsés II – mais especificamente, pedaços da cabeça e do torso. Conversando sobre o assunto com o amigo Horace Smith quando este o visitava, ambos decidem, cada um, escrever um poema sobre a aquisição do Museu Britânico. Em 1818, Shelley publica o seu poema, que se tornou um dos mais famosos da literatura inglesa:

Eu conheci um viajante de uma terra antiga

Que disse: - Duas pernas de pedra vastas e sem tronco

Em pé no deserto. Perto deles na areia,

Meio afundado, um rosto despedaçado jaz, cuja carranca

E lábio enrugado e sorriso de escárnio frio

Mostra que seu escultor bem lê essas paixões

Que ainda sobrevivem, pisam nessas coisas sem vida,

A mão que zombou deles e o coração que se alimentou.

E no pedestal aparecem estas palavras:

“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:

Olhai as minhas obras, ó poderosos, e desesperai!"

Nada além disso permanece: em volta da decadência

Daquele naufrágio colossal, sem limites e vazio,

As areias solitárias e planas se estendem ao longe.


Como o poderoso faraó descobriu e mostrou, “O Tempo vai-se, e com ele nós vamos.”. O rei dos reis, o monarca mais poderoso de sua dinastia, era agora apenas um fragmento de estátua. Todos os seus atos de poder se perderam nas areias do deserto. 

Talvez, neste segundo, você esteja se perguntando para quê então investir seu tempo em concretizar projetos e promover ações se eu, Cronos, engolirei suas realizações como engolia meus filhos (já disse que não quero falar sobre isto no momento). Não sei se você sabe, mas eu tenho um neto que também personifica o tempo. Ele se chama Kairós, filho de Zeus e de Tique, a deusa da sorte e da fortuna. 

Eu, Cronos, represento o tempo quantitativo, que não pode ser dominado. Apesar de também estar relacionado com o Tempo, Kairós personaliza outro tipo de momento na vida humana: a oportunidade e a qualidade do momento. Eu não posso ser dominado. Kairós, apesar de ser ágil e arisco, pode ser capturado se o humano o agarrar pela mecha de seu cabelo.

Mas para isto, os homens ou mulheres que quiserem capturar Kairós precisam estar atentos ao momento, à oportunidade. Kairós pode se apresentar diversas vezes para as pessoas, de infinitas formas, como a oportunidade de ver um amigo ou amiga que há tempos (sem trocadilho, por favor) não se viam, a chance de ler um livro que o espera na estante, ou abrir aquele vinho caro em um dia de semana qualquer – e neste momento, deixa de ser qualquer. E quero aqui compartilhar que quem se torna amigo de Kairós, domina Cronos. Eu, o senhor do tempo quantitativo, a grande preocupação de milhões de humanos, torno-me absolutamente impotente quando alguém se torna companheiro de Kairós.

Não que eu me importe com isto, muito pelo contrário. O grande papel do Tempo para a evolução dos seres humanos é que, por algum motivo, vocês valorizam muito o que entendem que é raro ou escasso. Todo o tempo eu vejo corporações enchendo as cornucópias ao manipular a percepção de escassez dos clientes. 

Então, quando os humanos percebem que eu, Cronos, sou o grande limitador do tempo, duas situações podem acontecer. Há aqueles que querem me dominar como Ramsés II buscou fazer. E para esses eu deixo minhas risadas e as areias de minha implacável ampulheta.

E há aqueles que, de alguma forma, começam a valorizar as próprias existências. E ao abraçar Kairós, meu coração de avô amolece e fico totalmente à mercê. Pois estes são capazes de construir relações profundas, de encontrar beleza em cada segundo. O que eu, Cronos, poderei fazer?

Aqueles que entendem que a forma de me conquistar são aqueles que alcançaram a característica que os leva a construírem coisas e momentos que realmente importam apesar das limitações que tem - a lição mais profunda que eu, o Tempo, posso transmitir para os humanos: a Humildade.


Obrigado pelo seu Tempo!

Um abraço,

Cronos


Maurício Luz
Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.

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