"A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada em 10 de dezembro de 1948. Para marcar o aniversário de 70 anos, nas próximas semanas, o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) publicará textos informativos sobre cada um de seus artigos. A série tentará mostrar até onde chegamos, até onde devemos ir e o que fazer para honrar aqueles que ajudaram a dar vida a tais aspirações."
"Onde, Afinal, começam os direitos humanos universais?"
"Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH),
de 1948, é – obviamente – um documento sobre direitos humanos.
Então, por que dignidade é citada antes de direitos no Artigo 1?
A
dignidade é a base de todos os direitos humanos. Seres humanos
possuem direitos, e devem ser tratados com a mais elevada proteção,
precisamente porque cada um possui valor intrínseco. O ex-chefe de
direitos humanos da ONU Zeid Ra’ad Al Hussein chamou estas palavras
iniciais de “talvez, as mais ressonantes e bonitas de todos os
acordos internacionais”. Elas destacam que “direitos humanos não
são uma recompensa para bom comportamento”, disse ele, mas o
direito de todas as pessoas, em todos os momentos, em todos os
lugares.
Reagindo
ao horror das duas Guerras Mundiais, a comunidade internacional
julgou importante em 1948 enfatizar o conceito de dignidade humana
nas primeiras palavras deste documento pioneiro, destacando um termo
que já havia sido enfatizado na linha inicial do Preâmbulo da DUDH,
assim como na Carta que fundou as Nações Unidas, três anos antes.
Mary
Robinson, outra ex-chefe de direitos humanos da ONU, considerou
dignidade como um “senso interior de consciência própria”, um
conceito que “evoca uma empatia com o outro, nos conecta uns com os
outros”. Isto forneceu um ponto de partida para novas
interpretações dos direitos humanos. Como disse Robinson, “em
nosso mundo interconectado, esta empatia deve se expandir para atacar
as flagrantes desigualdades que levantam questões de justiça”.
Dignidade
(uma palavra que aparece cinco vezes ao longo da Declaração) é de
um lado um argumento irrefutável, e de outro um conceito ambíguo,
nem sempre fácil de ser traduzido para legislação. Mesmo assim,
dignidade agora é reconhecida como um direito em mais de 160
Constituições no mundo (de 193 membros da ONU), comparado aos
somente cinco países que usavam o termo em suas Constituições em
1945.
E
frequentemente cabe aos juízes garantir que a dignidade humana seja
respeitada. Juízes como Albie Sachs, que dedicou sua vida a
garantir, e então proteger, a dignidade humana. Como um ativista
sul-africano antiapartheid, ele passou meses em prisão solitária e
perdeu um braço e a visão em um olho quando seu carro foi explodido
por agentes de segurança.
Mais
tarde, ele ocupou por 15 anos o cargo de juiz do mais alto tribunal
da África do Sul. Ele escreveu que chorou após decidir que a
companhia aérea South African Airways não poderia discriminar uma
comissária de bordo com HIV. “As lágrimas caíram por conta de um
grande senso de orgulho de ser membro de um tribunal que protegia
direitos fundamentais e assegurava dignidade para todos”, disse.
Assegurar
a dignidade para todos está no coração de uma campanha da ONU que
se baseia nas primeiras palavras do Artigo 1. “Livres e Iguais” é
o slogan para a campanha da ONU contra a homofobia e a transfobia,
que começou em 2013 e busca “construir um mundo onde ninguém
precise ter medo de sua orientação sexual ou identidade de gênero”,
segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Gênero
é um conceito que é – possivelmente sutilmente – abordado no
Artigo 1, e de fato em quase todos os artigos da DUDH. Para sua
época, o documento é notavelmente ausente de linguagem sexista. Com
a exceção de uma única frase em inglês “himself and his family”
(ele próprio e sua família), que aparece nos Artigos 23 e 25, o
documento se refere a “todos” ou “ninguém”.
Este
uso pioneiro reflete o fato de que mulheres tiveram uma função
importante na elaboração da DUDH, pela primeira vez na história da
criação internacional de leis. O processo foi comandado por Eleanor
Roosevelt, ex-primeira-dama dos Estados Unidos e defensora dos
direitos humanos. Mulheres de Dinamarca, Paquistão, do bloco
comunista e de outras nações não ocidentais também fizeram
contribuições cruciais.
As
primeiras palavras do Artigo 1 ecoam a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, documento francês adotado pouco após a
revolução francesa, em 1789. Graças à firme redatora indiana
Hansa Mehta, a frase francesa “todos os homens nascem livres e
iguais” se tornou “todos os seres humanos nascem livres e
iguais”.
As
mulheres redatoras da DUDH criaram um legado duradouro – mesmo em
um mundo onde grande parte do trabalho ainda precisa ser feita. Em
quase todos os países, mulheres continuam ganhando menos que homens.
Práticas discriminatórias contra mulheres são frequentemente
justificadas por referências a atitudes tradicionais, históricas,
religiosas ou culturais. Meninas possuem menos probabilidade de irem
ou permanecerem em escolas do que meninos. Mulheres frequentemente
têm suas mobilidades limitadas por conta das expectativas de que
serão cuidadoras. Elas frequentemente têm opções limitadas sobre
com quem se casar – ou se vão casar – e pouco controle sobre
suas escolhas reprodutivas.
Apesar
daquilo que ainda precisa ser alcançado, as mulheres pioneiras que
foram parte do processo de elaboração da DUDH de 1946 a 1948
preservaram a igualdade como um objetivo universal, e forneceram a
base na lei internacional para aqueles que ainda lutam para torná-la
uma realidade. Não apenas para as mulheres, é claro, mas também
para pessoas com deficiências, idosos, membros de minorias étnicas
e religiosas, grupos indígenas, migrantes, crianças e qualquer um
em qualquer lugar enfrentando discriminação.”
Fonte: Organização das
Nações Unidas do Brasil – ONUBR - “
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