Na semana Santa em 2018 Foto: OGM |
“A partir de agora, fica proibida a realização de shows e eventos públicos ou particulares em feriados como Semana Santa e carnaval com cobrança de ingressos.Por Lucas Soares e Régis Melo, G1 Sul de Minas — São Thomé das Letras, MG
"Uma
lei sancionada nesta semana em São Thomé das Letras (MG) impõe
limites para a realização de grandes eventos musicais no município.
A partir de agora, fica proibida a realização de shows e eventos
públicos ou particulares em feriados como a Semana Santa e o
carnaval com cobrança de ingressos. A cidade de cerca de 7 mil
habitantes é um dos principais destinos turísticos no Sul de Minas.
A
lei foi criada porque com a realização de grandes eventos, o
pequeno município, famoso pelas belezas naturais e por sua
característica esotérica, tem atingido o limite de sua capacidade
de acolhimento, gerando transtornos para os turistas e também para
os moradores, como por exemplo, a falta de água.
"Esses
shows foram crescendo, ganhando proporção e aí começou a ser
inviável devido à infraestrutura local mesmo. Eventos que estavam
recebendo de 15 a 20 mil pessoas, e isso acontecendo em datas que são
feriados, onde a gente recebe um público maior", explica a
turismóloga e chefe do Departamento de Turismo de São Tomé das
Letras, Carla Gonzalez.
O G1
Sul de Minas apresenta
o especial
"Turistando",
que mostra como as principais cidades turísticas do Sul de Minas
estão incentivando e promovendo o turismo na região.
Criação da lei
A
discussão para a criação da lei começou
após um festival na Semana Santa de 2018.
De acordo com um grupo de proteção ambiental, o evento levou cerca
de 30 mil turistas para a cidade - quatro vezes o número de
habitantes de São Tomé das Letras.
Comunicado do prefeito de São Thome das Letras, MG
Comunicado do prefeito de São Thome das Letras, MG
À
época, biólogos afirmaram que o número excessivo de pessoas no
Parque Municipal, que recebe eventos, é uma ameaça à
biodiversidade. Disseram ainda que as fogueiras também são outro
risco, já que uma delas provocou um incêndio no parque Antônio
Rosa e destruiu quase três hectares.
No
ano seguinte, um festival de 12 horas recebeu grandes nomes da música
nacional, como Criolo, Pitty, Skank e Mano Brown. Mas para que o
evento pudesse ser realizado, foi
necessária a assinatura de um termo de ajustamento de conduta
(TAC) entre
a prefeitura e organizadores, com a intermediação do Ministério
Público.
Na
ocasião, a administração da cidade entendeu ser inviável receber
o público - o festival disponibilizou 15 mil ingressos. A
preocupação era com os impactos com econômicos e ambientais.
À
época, biólogos afirmaram que o número excessivo de pessoas no
Parque Municipal, que recebe eventos, é uma ameaça à
biodiversidade. Disseram ainda que as fogueiras também são outro
risco, já que uma delas provocou um incêndio no parque Antônio
Rosa e destruiu quase três hectares.
A
partir dessa preocupação, iniciou-se a criação de um projeto de
lei. Um primeiro projeto foi apresentado, mas a proposta foi
flexibilizada após conversas entre o Executivo, o Legislativo e
também os moradores e hoteleiros da cidade.
Com
isso, agora a lei sancionada nesta quarta-feira limita os eventos da
seguinte maneira:
- Nos feriados da Semana Santa e do carnaval:
Ficará
proibida a realização de quaisquer shows e eventos musicais,
públicos ou particulares, com cobrança de ingressos (de forma
direta ou indireta). A medida não valerá para festas particulares,
eventos comunitários ou meramente sociais, festas populares típicas
e pequenos eventos com finalidades filantrópicas ou beneficentes
realizadas no município.
A
realização de shows, bailes, festas e eventos musicais em recinto
particular devem ter lotação máxima de mil pessoas, com ou sem venda de ingressos.
- Durante o período de réveillon:
Do
último sábado de um ano até o dia 2 de janeiro ou primeiro domingo
do outro, será vedada a realiação de shows e eventos musicais particulares com cobrança de ingresso.
O
poder público, no entanto, ainda promover shows e festividades em
locais públicos, sem cobrança de ingressos, para a comemoração do
Ano Novo.
Nos
demais feriados prolongados:
Somente
será permitida a realização de shows e eventos musicais, públicos
ou particulares, que não
ultrapassem 9 horas corridas, que o número de
atrações artísticas de renome nacional ou internacional a se
apresentar no evento não seja superior a três e o público
não seja superior a 10 mil pessoas.
Também
não serão permitidas a realização de mais de um evento pelo mesmo
produtor e a realização de eventos com mais de uma data de
apresentações ou atrações.
Infraestrutura
Conhecida
nacionalmente, São Tomé das Letras atrai milhares de turistas, mas
esse potencial turístico ainda não se reverteu em investimentos
para a melhoria da infraestrutura do município.
"Aqui
a gente tem uma particularidade muito grande porque é uma cidade
pequena, e como toda cidade pequena hoje, falta muita coisa ainda de
infraestrutura. O turismo tem acontecido bastante aqui e agora
começou um crescimento da economia por conta do turismo. Mas ainda
não se teve tempo nem retorno suficiente para se conseguir grandes
melhorias, grandes investimentos que são necessários", explica
a chefe do Departamento de Turismo.
Hoje
São Tomé das Letras possui aproximadamente 200 opções de
hospedagens, entre campings, hotéis e pousadas, com opções acessíveis a todo tipo de público.
"O
que houve foi um crescimento exagerado dos meios de hospedagens. O
pessoal enxergou que o pessoal vem e precisa ter onde ficar, mas aí
você torna falha a outra parte, porque você tem muitas pousadas,
mas você não tem (o resto) acompanhando esse número. A gente não
tem, por exemplo, um hospital. O nosso hospital é uma unidade básica
de saúde. Se você precisar de um raio-x, vai ter que ir para Três
Corações ou Cruzília, que são nossas referências aqui", diz
Carla.
"Não adianta você fazer 300 hospedagens e falar que você tem capacidade para receber um público de 30 mil pessoas, porque você não tem. Você não tem restaurante para isso, você não tem insumo básico para isso. Luz, água, tudo", diz a chefe do Departamento de Turismo.
Cachoeira da Eubiose |
Outra
preocupação com a limitação do número de turistas em São Thomé
das Letras é referente à questão ambiental. Embora castigada pela
exploração do quartzito, o município conserva cachoeiras e locais
paradisíacos.
"É
uma cidade no topo de uma montanha, que tem uma área de preservação
ambiental, onde as cachoeiras ficam. As cachoeiras, algumas ainda não
têm plano de manejo, então é complicado você conseguir controlar
um fluxo de pessoas nesse porte".
"A gente quer um turismo sustentável. Que a pessoa venha aqui e consiga curtir a natureza, tenha a paz que as pessoas, principalmente da cidade grande, buscam aqui", afirma Carla.
Altitude proporciona uma das mais amplas vistas em São Tomé das Letras — Foto: Régis Melo
Mudanças para o futuro
Com
o incremento do turismo, aos poucos São Thomé das Letras vai
transformando a cara de uma cidade que até pouco tempo tinha sua
economia basicamente baseada na exploração de pedras.
"São
Thomé é uma cidade que até ontem vivia da extração de pedras. São
mineradores que até pouco tempo atrás eram a maior fonte de renda.
Há alguns anos, começou a ter um público maior de turismo, aí
começou a mudar um pouco esse conceito e essa visão que o pessoal
tinha da extração. Inclusive algumas pedreiras deixaram as
atividades aqui. E hoje (a cidade) tem um potencial enorme para se
estruturar e aí sim viver do turismo", diz Carla.
A
turismóloga espera ainda que isso possibilite um crescimento cada
vez maior da cidade para, aí sim, poder receber grandes eventos.
"Eu
não estou falando que isso é eterno, porque as coisas mudam, aí
você vai gerando renda, vai conseguindo investir em infraestrutura,
vai melhorando e um dia a gente pode sediar um evento maior. Mas com
a infraestrutura que existe hoje não tem condições",
conclui.”
Fonte:
EPTV – 1ª Edição
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