Governo Bolsonaro |
Por Alexandre Medeiros
"A nação gestante deu à luz debates que estavam em estado letárgico. Chagas surgiram e cicatrizes retrocederam"
“É
muito difícil vencer uma guerra ideológica. Pois nesta guerra
soldados não são abatidos. O inimigo é apenas alguém que pensa
diferente. Ordens não são questionadas. Ideias não são debatidas.
Mata-se
o bom senso. A honestidade intelectual. A metralhadora ideológica é
certeira. Mutila mais que a bomba atômica. Amputa gerações e
capítulos da história. A caneta legislativa é implacável. Bons
argumentos deixam apenas a guerra mais “sangrenta”.
Qualquer
absurdo sempre será justificado. Em nome de algo maior, que ninguém
sabe muito bem o que é. Se estão fazendo, estão certos. Não há
contraditório. Que se dane a ampla defesa.
O
atual governo é um choque cultural. A meu ver negativo, violento e
perigoso. Útil apenas como um divisor de águas e para o
autoconhecimento como nação.
Um
complexo, intricado e doloroso parto ideológico. A revelação de
uma foto que estava apenas no negativo. Algo parecido com o fim de um
efeito anestésico. Antes uma crise de percepção. Agora um mar de
revelações.
Independente
do que aconteça, já podemos prever um país antes e depois deste
governo. A nação gestante deu à luz debates que estavam em estado
letárgico. Chagas surgiram e cicatrizes retrocederam.
Voltamos
a falar de ditadura. De Terra Plana. De armamento. Passamos a
desprezar livros, vacinas, conhecimento. Estigmas inexistentes,
invisíveis, adormecidos ou esquecidos vieram à tona com força e
fúria total. Mais fúria que força. Diga-se de passagem.
Trata-se
da revelação de um país que eu não conhecia. A imagem de um povo
cordial, pacífico, alegre, empático, que convive bem com as
diferenças e suas diversidades, caiu por terra.
O
Brasil perdeu a inocência de vez. Nossa máscara caiu. Revelou-se
que uma grande parcela da sociedade de fato é racista, homofóbica,
intolerante, violenta, misógina e ultraconservadora. Fatia social
significativa que não valoriza educação, meio ambiente, pluralismo
político, ciência, arte e cultura.
Os
trabalhadores perderam força. Os três poderes se corromperam. As
instituições caíram em descrédito. A Constituição virou um
calhamaço de papel.
Para
o bem ou para o mal, nunca mais seremos os mesmos.
Se
existe cura? Não existe cura para a cegueira.
A
única chance é que a lágrima caída nos faça despertar. Antes
lágrima que sangue.
Que
chova bom senso. Que germine consciência. Há esperança!!!”
Fonte:
Carta Capital
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