sábado, 21 de agosto de 2021

"O Inferno Dentro de Você"

 

Não há caminho para a paz. A paz é o Caminho.

                                               Mahatma Gandhi

Em 2018, a organizações International Alert, British Council e Riwi publicaram um interessante relatório chamado Alert Peace Perceptions Poll (Pesquisa de Percepções da Paz, em tradução livre). A pesquisa procurou identificar como as pessoas ao redor do mundo percebem a paz e o conflito. Segundo a organização, o universo da pesquisa abrangeu mais de 100 mil pessoas em 15 países, dentre estes o Brasil.

Apesar de 2018 parecer um passado distante depois da eclosão da pandemia de Covid-19, o relatório apresenta interessantes pontos de vista em comum sobre como as pessoas percebem uma sociedade pacífica. Para elas, uma sociedade promotora e mantenedora da paz pode ser identificada quando:

- disputas podem ser resolvidas sem violência;

- pessoas têm a oportunidade de sustentar suas famílias;

- baixa criminalidade;

- pessoas podem eleger seus representantes em uma eleição nacional;

- há pouca violência.

A inclusão e participação política e econômica foram consideradas fundamentais para a paz e a segurança – 90% dos participantes da pesquisa responderam que a inclusão econômica é extremamente importante para a paz em seus respectivos países, enquanto que 83% responderam o mesmo para a inclusão e participação política.

Em caso de conflito, pessoas de dez países colocaram a opção “lidar com as razões pelas quais as pessoas lutam” em primeiro lugar, com mais quatro países classificando-o em segundo lugar. A opção “sociedades e comunidades de apoio para lidar pacificamente com conflitos” foi classificada entre os dois mais votados por pessoas de nove países. O relatório conclui que, com o “espaço para as nuances políticas diminuindo, a pesquisa mostra que a prevenção é o que as pessoas demandam quando precisam lidar com o desafio do conflito.”. 

É interessante notar que, quando perguntadas sobre como os governos e autoridades deveriam investir para promover a paz, “ensinar paz, tolerância e resolução de conflitos nas escolas” surge citado por 24% dos respondentes.

De um modo geral, nós não gostamos e não queremos conflitos, porque geram ameaças a nós e a nossos entes queridos. Pesquisadores da Universidade de Virgínia, liderados pelo psicólogo James A. Coan, demonstraram que nossos cérebros foram “programados para a empatia”.  Para isto, submeteram voluntários a ameaça de eletrochoques, monitorando suas reações por meio de ressonância magnética. Conforme o esperado, todos os participantes apresentaram aumento na atividade da área cerebral relacionada às ameaças. Inesperadamente, a mesma área cerebral apresentou o mesmo nível de identificação de ameaças quando os voluntários assistiam a pessoas queridas como alvo da possibilidade de eletrochoques. Mais: o simples ato de segurar a mão de um amigo ou amiga durante o teste reduziu drasticamente a ameaça de impacto identificada pelo cérebro.

A predisposição para a paz, portanto, é inerente ao ser humano. O que nos leva a outra pergunta: qual o grande desafio que temos para, efetivamente alcançar a paz que tanto buscamos e desejamos?

Nasrudin é um dos personagens mais populares do Islã. Apresentado em suas histórias como “mulá” (ou ‘mestre’), aparece às vezes como homem de grande sabedoria, outras vezes como alguém capaz de realizar atos estapafúrdios. Independente de como é apresentado, suas histórias nos mostram pérolas de sabedoria sufi, a corrente mística do Islã.

Em uma destas histórias, um homem caminhava à noite pelas ruas da cidade quando avistou Nasrudin procurando algo no chão. Vendo que o mulá parecia bastante preocupado, aproximou-se e perguntou:

“Olá, Mulá, o que faz? Perdeu alguma coisa?”

“Sim” – respondeu Nasrudin. – “Perdi as chaves de casa.”

“Vou ajudá-lo a encontrá-las, Mulá” – respondeu o homem, solícito.

Depois de vários minutos procurando, o homem perguntou:

“Você tem certeza de que as perdeu por aqui, Mulá?”

“Na verdade, eu as perdi do outro lado da rua, quando já estava chegando em casa.”

“Mas... Por que estava procurando as chaves aqui?” – disse o homem, surpreso.

“Porque aqui, perto deste poste, está mais claro do que lá.”.

Este é o desafio humano para a paz. Nós a procuramos não onde devemos, mas onde é mais cômodo. Quando colocamos a base de nossa paz apenas nas questões externas, ou o lugar mais óbvio para se alcançar o que buscamos, torna-se impossível de se encontrar as chaves tão procuradas. É fácil dizer que o inferno são os outros. O desafio está em mergulhar na nossa própria escuridão.

Osho, o místico indiano, já dizia que “inferno simplesmente significa desarmonia em seu interior”. Quando estamos desalinhados internamente, podemos estar no meio de uma guerra civil ou na praia mais paradisíaca, o inferno estará conosco.

Por isso, não há caminho para a paz, a Paz é o caminho. Se você continua buscando as respostas externamente, está buscando o que deseja encontrar no lugar mais óbvio, mais evidente, mais cômodo, e não onde deveria procurar. É um desafio – mas quando encontrar as  chaves da própria casa, terá alcançado aquilo que é a base da paz sólida e duradoura: o autoconhecimento.

Maurício Luz

 Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey. 

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