O primeiro vendedor escreveu: “a primeira impressão foi péssima. Poucas pessoas aqui utilizam sapatos. Penso que investir aqui é perda de tempo e dinheiro.”.
Já o segundo vendedor escreveu: “é um local extraordinário! Poucas pessoas aqui utilizam sapatos. Penso que investir aqui traz enormes oportunidades de vendas!”.
Ouvi esta história, pela primeira vez, quando fiz um treinamento de vendas. Depois eu a escutei novamente em outras situações, mas o objetivo de quem contava a história sempre foi de ilustrar como duas pessoas, na mesma situação, percebem-na de maneira completamente diferente.
Quando algo ocorre ou estamos envolvidos em uma situação, nossa mente começa imediatamente a avaliar o que está acontecendo. Imediatamente, sem que possamos perceber, a situação é pesada, registrada, avaliada e rotulada. E para alcançar esta finalidade, a mente utiliza vários “filtros” para definir se a situação pode ser considerada boa ou ruim, se traz riscos para a nossa segurança, e como podemos contornar a situação que se apresentou a nós.
Estes “filtros” são formados por nossas experiências pessoais anteriores (situações semelhantes geram um determinado tipo de lembranças e, por analogia, são colocadas no mesmo patamar), conselhos ou advertências que recebemos de pessoas queridas, a maneira de como nossos cinco sentidos corporais são estimulados, as necessidades e valores que são reavivados, nossa formação intelectual e moral. São diversas e múltiplas camadas, mas que acontecem tão rápido que simplesmente não percebemos, pois o encadeamento de pensamentos e sentimentos acontece de forma automática.
Esta nossa forma de perceber e, portanto, interagir com o mundo é o nosso “sistema de crenças”. A base de como compreendemos e aceitamos a realidade depende diretamente deste sistema. Altere a forma de como as crenças estão estruturadas, e você altera a forma de como esta pessoa vai interagir com o mundo. Um copo com água até a metade de sua capacidade estará “meio cheio” ou “meio vazio” conforme a maneira que o observador ou observadora percebe a situação, e esta percepção é resultado de seu “sistema de crenças”.
E este sistema de crenças que é o principal desafio a ser vencido pela coletividade humana na sua constante luta pela transcendência. Todos querem basicamente as mesmas coisas, como a Paz e a Prosperidade. Mas uma parcela significativa não deseja abrir mão de suas crenças, mesmo que destrutivas, pois sua identificação com elas é tão grande que, para elas, significa a própria morte.
O infinito pode caber em um espaço tão restrito quanto uma noz ou em nossas cabeças. Podemos desenvolver cascas que impedem de vislumbrar o todo, de ampliar horizontes, de buscar o novo, de evoluir. Podemos nos trancar em qualquer lugar, real ou imaginário, e nos declarar senhor do infinito. E desta forma, delimitar nossas potencialidades e possibilidades, e daqueles que estão à nossa volta.
É preciso estar bem atento para que nosso sistema de crenças não se torne uma prisão, uma casca impossível de ser rompida. Se permitirmos que nossos pensamentos e ações funcionem apenas no automático, estamos meros autômatos, que apenas reagem às situações conforme as programações que nos foram inseridas durante a vida. Pesquisas de um grupo de cientistas da Queen 's University (Canadá), liderados pelo Dr. Jordan Poppenk e por sua aluna de mestrado Julie Tseng, utilizaram uma metodologia que indicam que uma pessoa gera, em média, 6,2 mil pensamentos diários.
Quantos destes pensamentos permitem que você se torne mais autônomo, confiante, mais compassivo, tolerante, alinhado com a unidade da vida?
Olhar para si mesmo e compreender o próprio sistema de crenças é o primeiro e o mais importante passo para que deixemos de reagir às situações para responder às situações. É por este motivo que os seres humanos que alcançaram alto nível de capacidade de responder e agir de maneira diferenciada frente aos desafios da existência foram denominados de iluminados ou despertos. Eles e elas não agiam mais de maneira automatizada. Foram capazes de compreender a textura de suas próprias cascas – e com isto, tornaram-se grandiosas árvores nas quais a Humanidade pôde alimentar-se dos frutos de seus exemplos.
Todos temos o potencial de nos tornarmos árvores grandiosas. Para isto, precisamos ter a ousadia de rompermos com as velhas cascas que já não servem mais. Então, as sementes de nossos potenciais poderão brotar livremente, expandindo a característica que nos permitirá, em algum momento, transformar este belo planeta em um jardim: a Consciência.
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