O senador afastado Aécio Neves - Jorge William / Agência O Globo |
“RIO
— Investigado em nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o
senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve abalada sua intenção de
disputar a eleição presidencial de 2018 ao ser afastado do mandato
em maio deste ano. No entanto, colheu notícias positivas no início
de julho: teve alguns de seus inquéritos redistribuídos no STF,
conseguiu retomar o mandato e viu ser arquivada a representação
contra ele no Conselho de Ética do Senado. Ao voltar ao Congresso,
disse ser vítima de uma "injustiça".
No
plenário do Senado, Aécio rebateu as acusações feitas por
delatores da JBS, que levaram o ministro Edson Fachin a afastá-lo do
Senado. Soma-se a elas as acusações feitas por delatores da
Odebrecht. Aécio é alvo de cinco inquéritos motivado pelas
delações da construtora, dois envolvendo um esquema de corrupção
da Furnas e da CPI dos Correios, além de outros dois em decorrência
das gravações da JBS. Entre os crimes investigados estão corrupção
ativa e passiva e obstrução à Justiça.
1-
CIDADE ADMINISTRATIVA
cidade administrativa mineira |
A
primeira investigação contra Aécio apura a construção da Cidade
Administrativa Presidente Tancredo Neves, projetada por Oscar
Niemeyer e sede do governo de Minas Gerais, cujo início remonta a
2007, quando o tucano começava o segundo mandato como governador do
estado. Segundo as delações de Sérgio Luiz Neves e Benedicto
Barbosa da Silva, ex-dirigentes da Odebrecht, Aécio teria cometido
fraude na licitação e aceitado propina. O objetivo, dizem, era
"obter propinas decorrentes dos pagamentos das obras" —
segundo os depoimentos, foram pagos R$ 5,2 milhões a Aécio. A
licitação do empreendimento, que teve custo final superior a R$ 2
bilhões, teria sido fraudada para beneficiar nove empresas
escolhidas pelo governo e divididas em três consórcios.
OUTRO LADO
O
senador Aécio Neves diz que não participou de ato ilícito
envolvendo o processo de licitação ou as obras da Cidade
Administrativo. "A licitação do complexo já foi objeto de
ampla investigação do Ministério Público Estadual (Inquérito
Civil Público 0024.07.000.185-4) que concluiu pelo arquivamento após
constatar a regularidade dos procedimentos. Participaram da
concorrência pública todas as principais empresas do setor
capacitadas a executar obras do grande porte".
USINAS E ENERGIA
Usina de Jirau - Divulgação |
Aécio também é investigado por
suposta propina que teria recebido em troca de acordos no setor
energértico. Este inquérito apura se o senador ajudou a Odebrecht a
conseguir empreendimentos como o do Rio Madeira e as Usinas
Hidrelétricas Santo Antônio e Jirau. Em delação premiada,
Henrique Valladares, ex-executivo da empresa, disse que os valores
pagos em cada prestação giravam em torno de R$ 1 milhão a R$ 2
milhões, controlados pelo setor de propinas da Odebrecht. No
esquema, Aécio era identificado como “Mineirinho”. Já Marcelo
Odebrecht, ex-presidente do grupo, relatou que o senador tinha “forte
influência na área energética, razão pela qual o Grupo Odebrecht
concordava com expressivos repasses financeiros em seu favor”.
OUTRO
LADO
Segundo
o senador, "as obras das usinas hidrelétricas do rio Madeira
foram licitadas pelo governo federal, à época sob gestão do PT,
não havendo, portanto, nenhuma participação do governo de Minas
nos processos". Ainda de acordo com o tucano, "não existe
sequer um único indício de atuação do senador Aécio no setor de
energia em favor de qualquer empresa".
CAIXA 2 PARA AÉCIO
senador Aécio Neves |
Outra
acusação que motiva inquérito contra Aécio diz respeito a um
suposto caixa 2 na pré-campanha presidencial de 2014. Ex-executivos
da Odebrecht disseram que o tucano recebeu R$ 5 milhões fora do
caixa oficial e antes do período da campanha, o que configuraria
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, segundo os
investigadores. Marcelo Odebrecht afirmou ter colaborado com os
valores, que não teriam sido declarados oficialmente ao Tribunal
Superior Eleitoral. De acordo com o TSE, Aécio arrecadou R$ 201
milhões durante aquela campanha.
OUTRO
LADO
Segundo
o senador, na condição de dirigente partidário, ele solicitou
doações eleitorais para diversos candidatos e partidos aliados na
forma da lei. E "todas as doações feitas pela empresa ao
partido e à campanha presidencial foram declarados ao TSE".
CAIXA 2 PARA ALIADOS
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), afastado do mandato por decisão do ministro Edson Fachin - Givaldo Barbosa / Agência O Globo / 31-10-16 |
Em
outro inquérito, Aécio é investigado com base em acusações de
que pediu doações via caixa 2 para sua campanha e de aliados. O
deputado federal Dimas Fabiano Toledo Júnior (PP-MG) também é
investigado no mesmo inquérito.
OUTRO
LADO
Aécio
nega as acusações.
CAIXA 2 PARA SUCESSOR
O senador Antônio Anastasia - Jorge William / Agência O Globo |
Aécio
é investigado junto com o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que
foi seu vice e seu sucessor no governo de Minas Gerais. Esta
investigação apura supostos pagamentos aos dois durante a campanha
pelo governo estadual em 2010. Ex-executivos da Odebrecht relataram
pagamentos em 2009 (R$ 1,8 milhão) e 2010 (R$ 5,4 mihões). Em ambos
os casos, os pedidos de doação teriam sido feitos por Aécio.
OUTRO
LADO
Aécio
informa que as campanhas dele e do senador Antonio Anastasia foram
feitas dentro da legislação vigente à época.
DESVIOS
EM FURNAS
Operação Barão Gatuno, da Lava Jato, no prédio da FURNAS em Botafogo. - Fabiano Rocha / Agência O Globo |
O
STF investiga o senador tucano em um suposto esquema de distribuição
de propinas envolvendo contratos em Furnas, uma das estatais do setor
elétrico que integra o sistema Eletrobras. O ex-diretor de
Engenharia de Furnas Dimas Toledo teria sido indicado por Aécio para
comandar o esquema de corrupção, cujos recursos desviados eram
divididos entre o PT e o senador tucano. A influência de Aécio em
Furnas foi apontada por quatro delatores da Lava-Jato: o doleiro
Alberto Youssef, o ex-senador Delcídio Amaral, o ex-presidente da
Odebrecht Marcelo Odebrecht, e o lobista Fernando Moura. Esse último
disse que foi informado pelo próprio Dimas Toledo de que um terço
da propina iria para o PT de São Paulo, um terço para o PT nacional
e um terço para Aécio.
OUTRO LADO
Sobre
a referência feita por delator da Odebrecht, associada à presença
do diretor mineiro Dimas Toledo nos quadros da empresa, Aécio Neves
imforma que Dimas deixou a estatal em 2005, ou seja, três anos antes
da criação do consórcio e do leilão da usina de Santo Antônio.
Em 2007, a Obebrecht - associada a outras empreiteiras - venceu o
leilão para a construção da usina em Rondônia.
Em
relação ao ex-lobista Fernando Moura, ele limitou-se a dizer que
ouviu de um terceiro que recursos teriam sido repassados ao PSDB, mas
não identificou nomes ou apresentou qualquer evidência de que tenha
ocorrido de fato.
CPI
DOS CORREIOS
Prédio sede dos Correios em Brasilia - Sergio Marques - Agência O Globo 30/01/2015 |
A delação de
Delcídio levou ainda à abertura de um outro inquérito contra
Aécio, relatado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal
Federal. Segundo o delator, o senador atuou para maquiar dados do
Banco Rural obtidos pela CPI dos Correios. Isso porque a quebra dos
sigilos da instituição financeira, envolvida no escândalo do
mensalão, comprometeria vários políticos tucanos, entre eles o
próprio Aécio.
OUTRO
LADO
O
senador diz jamais interferiu ou influenciou nos trabalhos de
qualquer CPI.
JBS, PARTE 1
Andrea Neves, irmã de Aécio, conduzida ao IML - Cristiane Mattos / Reuters |
A
oitava investigação apura se o senador cometeu crimes de corrupção
passiva e obstrução à Justiça revelados pela delação dos donos
e executivos da JBS. A Procuradoria-Geral da República investiga se
Aécio teria recebido propina de R$ 2 milhões. O senador tucano foi
gravado pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, pedindo
dinheiro, alegando que seria usado em sua defesa na Lava-Jato. A
Polícia Federal flagrou Frederico Pacheco, primo do senador,
recebendo R$ 500 mil de um dos executivos da empresa. Frederico
chegou a ser preso, junto com a irmã de Aécio, Andrea Neves, na
Operação Patmos.
OUTRO
LADO
A
defesa do senador Aécio Neves informou que trabalha para provar à
Justiça que o empréstimo de R$ 2 milhões oferecido por Joesley
Batista não envolveu recursos públicos nem qualquer contrapartida
ou propina, como as próprias conversas gravadas apontam. O senador
reitera que foi vítima de uma armação criminosa conduzida por
Joesley para fabricar um crime que lhe desse o perdão penal frente
aos mais de 200 crimes praticados por ele.
JBS, PARTE 2
O nono inquérito contra
Aécio é um desdobramento do oitavo. A investigação apura se Aécio
recebeu pagamentos de propina entre 2014 e 2016, segundo informações
de delatores da JBS. Segundo o procurador-geral, Rodrigo Janot, o
senador tucano teria recebido R$ 60 milhões em 2014, usando notas
frias. Em 2015, a empresa teria ajudado Aécio, outra vez, comprando
por R$ 17 milhões um prédio que valia menos.
OUTRO
LADO
Segundo
Aécio, um total R$ 50,2 milhões foram doados pela JBS ao comitê
financeiro nacional e à Direção Nacional do PSDB. Desse total, R$
30,44 milhões foram repassados para a campanha presidencial. Outros
R$ 6,3 milhões foram doações feitas a diretórios regionais e
candidatos estaduais e R$ 4 milhões doados no período
pré-eleitoral, totalizando R$ 60,5 milhões em doações
integralmente declaradas ao TSE.”
Fonte:
O Globo
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