Por ex-ministro coronel Jarbas Passarinho
“Escrevo sentado em uma
casinha próxima a uma comunidade de índios de contato recente na
Amazônia, os suruwahá. Ao terminar, mando o artigo para o jornal
usando a antena local de wi-fi. Entre outras histórias, acompanho o
tratamento dentário que foi oferecido a dezenas de pessoas do grupo,
cerca de 50 homens e mulheres que receberam próteses produzidas em
impressoras 3D.
É
possível que nem o dentista do futuro presidente, Jair Bolsonaro,
tenha acesso a esse equipamento, ainda raro no país. Mesmo assim,
leio no site da Folha o eleito dizer que "os índios querem
internet e dentista" e que vai dar isso a eles. Não vai dar,
porque eles já têm.
Bolsonaro
tem especial predileção para falar de índios. Mas parece que
escuta a arara cantar e não sabe onde, como se só os conhecesse dos
filmes de Hollywood ou de ouvir falar (mal).
Diz
o eleito que os índios precisam empreender. Pois, a esta altura, a
lista dos produtos indígenas bem-sucedidos não cabe neste artigo. O
chef mais famoso do Brasil, Alex Atala, fez de seus temperos a base
de pratos badalados, que rendem mais ao país que muitos hectares de
soja.
Em
Roraima, índios criam uma em cada dez cabeças de gado; no Acre,
constroem uma fábrica de polpa, para otimizar sua produção de
frutas, e exportam urucum para multinacional de cosméticos. Mas
nesses lugares, elites preconceituosas negam os fatos, para manter o
estigma do índio preguiçoso.
O
futuro presidente afirma que o turismo pode fazer bem à Amazônia.
Mais uma vez, chove no molhado: diversas agências oferecem viagens a
terras indígenas.
Em
vez de pagar multa por pesca ilegal, Bolsonaro pode ir a uma
comunidade, ficar hospedado e fisgar peixe. Tudo perfeitamente legal,
ajudando índios empreendedores a manter a floresta de pé.
Sua
proposta de arrendar terras de índios já foi tentada no passado. Os
conflitos mais tensos que temos foram causados por esse modelo:
depois de uma ou duas gerações, os fazendeiros alegam direitos
adquiridos e tomam as terras. Foi assim no sul da Bahia, na Raposa
Serra do Sol e em Mato Grosso do Sul.
Também
a autorização para mineração em áreas indígenas não é
novidade. É prevista em lei. Mas precisa ser autorizada pelo
Congresso e exige aval das comunidades. A legislação, na
Constituição de 1988, não foi obra de "esquerdistas" ou
"internacionalistas". Foram os militares que a conceberam."
"O
autor do texto foi o ex-ministro coronel Jarbas Passarinho, em
consenso com indigenistas nacionais. A ideia: as terras são
patrimônio inalienável da União, e os índios têm usufruto,
ajudando a manter a floresta. As fotos de satélite, produzidas pela
elite da aeronáutica (Inpe), provam que o modelo deu certo: o
patrimônio da União só é preservado nessas áreas; fora, é
grilado, desmatado e queimado.
Bolsonaro
precisa conhecer mais a complexa realidade indígena. Se até o rei
da Noruega veio ao Brasil se hospedar em uma aldeia, nosso líder
também merece. Não precisa de coroa para ter majestade, basta
despir-se do orgulho.
Há
índios que querem viver isolados, e precisam de proteção; outros
cursam as melhores universidades. A Unicamp criou um vestibular para
eles; a Federal de São Carlos tem dezenas de alunos, e a de Roraima
mantém cursos de temática especializada. E o que dizer dos
indígenas do Exército? Alguém acha que vêm do "zoológico"?
Bolsonaro
deve entender que, para ser um bom cristão, não basta repetir
sempre o mesmo versículo da Bíblia, mas superar o pecado. No seu
caso, a soberba.”
Fonte: whatsapp
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!