Por
Paulo Beraldo e Mario Rossit, especial para O Estado de S. Paulo
“Aumentar a
visibilidade e influência do Brasil e evitar o aumento de tarifas
contra produtos brasileiros em meio à guerra comercial entre China e
Estados Unidos serão dois dos principais desafios próximo
embaixador do Brasil em Washington. A avaliação é de analistas e
ex-embaixadores ouvidos pelo Estado.
Nesta segunda-feira, 19,
o Estado mostrou que o nome de Eduardo Bolsonaro, filho do
presidente, enfrenta resistência no Senado, onde o deputado federal
deve ser sabatinado. O levantamento revelou que o governo ainda não
tem o mínimo de 41 votos em plenário para referendar a indicação,
que quebra uma tradição dentro do Itamaraty, desde a
redemocratização, de ter na embaixada em Washington sempre um
diplomata de carreira.
Na capital americana,
centenas de diplomatas estrangeiros disputam um espaço na apertada
agenda das autoridades do governo. "Um embaixador precisa ter
muita experiência, conhecimento e habilidade para ser ouvido em
Washington", disse Oliver Stuenkel, coordenador do programa de
pós-graduação da Escola de Relações Internacionais da Fundação
Getúlio Vargas.
Visibilidade
"Tudo é disputa por
visibilidade. É a capital onde há mais diplomatas estrangeiros no
mundo e todos querem falar com os tomadores de decisão do governo
dos EUA. E há, ainda, um número muito grande de lobistas".
Para Oliver Stuenkel,
dois fatores adicionam pressão ao futuro ocupante do cargo: as
eleições em 2020 - em que Donald Trump buscará um novo mandato - e
a importância que o presidente Jair Bolsonaro atribui aos Estados
Unidos. "A transformação dessa relação com os EUA é a
peça-chave da revolução proposta na política externa por
Bolsonaro".
Deputado por SP, embora resida no RJ, Eduardo Bolsonaro, candidato à embaixada do Brasil nos EUA |
Para o professor, o
embaixador vai ter que transformar essa retórica em estratégia, entregar resultados e aprofundar a relação bilateral. Outra
necessidade citada será evitar o aumento de tarifas de produtos
brasileiros que podem competir com os norte-americanos, em especial
os agrícolas.
EUA-China
Mônica Herz, professora
do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, também afirma
que o governo dos EUA pode mudar no ano que vem e que será preciso
lidar com a enorme complexidade do aparato de Estado norte-americano,
com a sociedade civil e organizações daquele país.
"Relações entre
Estados e sociedades são mais importantes e complexas do que as
entre mandatários", disse. Ela lembrou ainda da disputa
sistêmica por influência entre EUA e China na América Latina.
"Nossos interesses são diversos e não se alinham totalmente
com nenhum dos dois. Teremos que administrar nossa atuação nesse
contexto".
'Agenda grande'
Último embaixador do
Brasil em Washington, Sergio Amaral relatou ter preparado terreno
para a consolidação de grandes acordos com os Estados Unidos, que
agora terão de ser encampados pelo novo titular do posto. “Haverá
uma agenda muito grande de trabalho”, disse ele, que não quis
comentar a indicação de Eduardo.
Segundo o diplomata, com
a globalização e as transformações em curso nas sociedades
atuais, um embaixador deve ser capaz de compreender as transições
no universo político. "Os políticos não souberam explicar
isso para a população, que acabou recorrendo a líderes
populistas", afirmou.[
Ex-embaixador nos EUA
entre 1999 e 2004, Rubens Barbosa defendeu priorizar interesses acima
de partidos e ideologias, "com prudência e comedimento,
sobretudo nos pronunciamentos públicos". "O que conta é
ter acesso e influência", escreveu em artigo para jornal O Estado de S.Paulo."
Fonte:
Estadão
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