Por MANUEL ANSEDE
“A primeira vacina experimental contra a covid-19 testada em humanos, desenvolvida em tempo recorde pela empresa norte-americana Moderna, mostrou ser “segura e bem tolerada em geral” em um primeiro teste com 45 voluntários saudáveis, conforme anunciou a empresa nesta segunda-feira. O protótipo gerou nos oito primeiros participantes níveis de anticorpos neutralizantes ―as defesas do corpo que se ligam ao vírus e bloqueiam sua capacidade de infectar as células― semelhantes ou superiores ao do sangue dos pacientes que superaram a doença, enfatizou a Moderna em um comunicado.
A
empresa, com sede em Cambridge (Massachusetts, EUA), também informou
que sua vacina experimental proporcionou "proteção completa"
contra a multiplicação do vírus nos pulmões de ratos vacinados e
depois infectados, de acordo com testes realizados em colaboração
com o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA
(NIAID). Depois desses primeiros testes em animais e em várias
pessoas, as autoridades norte-americanas autorizaram um estudo de
fase 2 com 600 voluntários saudáveis para ajustar a dose. Se
tudo correr bem, a empresa planeja iniciar em julho a Fase 3: um
ensaio com milhares de pessoas para demonstrar a segurança e a
eficácia.
A
vacina da Moderna é uma das 118 experimentais registradas
pela Organização
Mundial da Saúde.
Oito delas já estão sendo testadas em seres humanos. Os resultados
preliminares promissores de algumas não garantem nem que sejam
eficazes nem seguras. Além do mais, a da Moderna emprega uma
tecnologia revolucionária nunca aprovada em uma vacina. A chave da
virulência do novo
coronavírus está
nas proteínas de suas espículas, aquelas protuberâncias que fazem
com que no microscópio pareça uma clava de espinhos medieval. Os
cientistas da Moderna copiam a parte do material genético do vírus
―o RNA― que contém as instruções para produzir essa proteína
da espícula. Ao injetar essa receita de RNA em uma pessoa, as
células humanas fabricam somente a proteína do vírus e, em teoria,
desencadeiam uma resposta imune sem risco.
"Estamos
investindo para aumentar a capacidade de fabricação e maximizar a
quantidade de doses que podemos produzir para ajudar a proteger o
maior número possível de pessoas contra o SARS-CoV-2",
declarou Stéphane Bancel, diretor-executivo da Moderna. O diretor
técnico da empresa é o farmacêutico espanhol Juan Andrés, que já
alertou em março que não basta ter uma vacina. "A questão das
vacinas, especialmente em pandemias, é a quantidade que se consegue
ter disponível. Quantas pessoas poderão ser vacinadas?
Especialistas dizem que há grupos de risco, sobretudo os idosos e os
profissionais que estão na linha de frente nos hospitais.
Possivelmente eles e as pessoas dedicadas às atividades de contato
social serão os primeiros candidatos a receber a vacina”, explicou
ele em entrevista ao EL PAÍS.
A
Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado dos EUA
(BARDA) comprometeu 483 milhões de dólares (2,75 bilhões de reais)
para financiar o desenvolvimento da vacina experimental da Moderna. A
Coalizão para as Inovações em Prevenção de Epidemias [CEPI,
fundada pelos Governos da Noruega e Índia, a Fundação Bill &
Melinda Gates, a Wellcome Trust e o Fórum Econômico Mundial] também
anunciaram apoio financeiro para esta vacina experimental já em 23
Janeiro, quando estavam confirmados apenas 581 casos da doença em
todo o mundo.
O
protótipo da Moderna não é a única vacina experimental de RNA,
uma tecnologia que, se tiver confirmada sua eficácia e segurança,
facilitaria a produção rápida e em massa de doses sem a
necessidade de manipular vírus infecciosos. A empresa alemã
BioNTech e a norte-americana Pfizer começaram
a testar outro candidato semelhante à vacina em
23 de abril em um grupo de pessoas na Alemanha. Os projetos da
Universidade Oxford e da empresa chinesa CanSino, ambos em testes em
seres humanos, usam vírus do resfriado comum modificados com
informações genéticas para produzir a proteína da espícula do
novo coronavírus.”
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