sábado, 22 de maio de 2021

"Como Tratamos os Mais Vulneráveis Diz Muito a Nosso Respeito"

 

          FRASES EM NOSSO TEMPO   

O nível de consciência de uma sociedade pode ser avaliado pela forma de como ela trata os mais vulneráveis.

Carl Schlyter

Por Maurício Luz - Colunista

“A pandemia de Covid-19 não foi a primeira enfrentada pela humanidade. No decorrer da História, diversos surtos de doenças provocaram mortes e destruição nas populações nas quais apareceram. Entre 430 a.C. e 427 a.C, Atenas sofreu com uma praga de origem desconhecida em plena Guerra do Peloponeso, que matou um terço de sua população e foi decisiva para o resultado da guerra. Em meados do século XV, a peste negra devastou a Europa e a Ásia, dizimando cidades inteiras e acelerando o fim da Idade Média. A Gripe Espanhola varreu o mundo no final da segunda década do século XX, deixando uma estimativa de 100 milhões de mortos.

Olhando para a História, as pandemias acontecem até de forma regular, com um intervalo médio de 100 anos entre uma e outra. Em virtude de sua regularidade e capacidade de destruição, esperava-se que a humanidade estivesse melhor preparada para lidar com uma situação semelhante à que gerou a Covid-19. 

E apesar do alto grau de desenvolvimento tecnológico, o que se viu foi uma mistura de interpretações subjetivas, priorização de fatores econômicos, desinformação, e falta de entrosamento contra um inimigo comum que certamente gerou muitas mortes ao redor do planeta.

Todo este cenário não é novo. Em 1892, a cólera devastou a cidade de Hamburgo, na Alemanha. Anos antes, o cientista Robert Koch demonstrou que a cólera era provocada por um bacilo, mas os governantes da cidade não acreditavam nas evidências apresentadas pela ciência, e se recusaram a adotar medidas preventivas simples, como a fervura da água, para se evitar a disseminação da doença. Por motivos comerciais, uma quarentena foi descartada. A situação chegou a tal ponto que obrigou o governo central alemão a tomar as rédeas para controlar a situação. Os mortos pela doença na região, cerca de dez mil, são lembrados por um monumento na cidade.

A pandemia da Covid-19 nos lembra que o desenvolvimento tecnológico ou material não é aquilo que nos fará superar os imensos desafios que se apresentam à Humanidade. A tecnologia é apenas uma maneira de exercitarmos aquilo que é a verdadeira essência da civilização. Um dos nossos desafios é, justamente, lembrar-nos qual é esta essência – e vivermos abraçados a ela a cada momento.

Em uma de suas aulas, a antropóloga Margaret Mead foi questionada por um de seus alunos sobre qual seria o marco do início da civilização humana. O aluno esperava que a resposta estaria relacionada com a confecção de armas, potes, a descoberta do fogo ou da agricultura. Para sua surpresa, Mead respondeu que a primeira evidência de civilização foi a descoberta de um fêmur fraturado, encontrado em um sítio arqueológico. 

O fato de alguém ter se preocupado em cuidar de um outro semelhante significou, para Mead, o verdadeiro início da civilização. O fêmur é um osso que demanda semanas para ser cicatrizado. Qualquer animal com tamanha ferida seria presa fácil para predadores, ou morreria de fome por não ser capaz de alimentar-se. O fato do osso ter cicatrizado significa que alguém cuidou deste semelhante até que finalmente ficasse curado.


Grupo de vulneráveis

A civilização humana, realmente, não começou com o domínio do fogo ou da metalurgia. A civilização humana começou e pôde evoluir quando os seres humanos perceberam que, cuidando-se um dos outros, seriam muito mais fortes e capazes de lidar com os inimigos em comum. A solidariedade e o cuidado com o outro foram fatores determinantes para que o grupo se mantivesse, principalmente quando a tecnologia era inexistente ou insuficiente.

No decorrer do tempo, a importância aos aspectos materiais do progresso humano foram, de alguma forma, ofuscando a importância dos aspectos intangíveis da evolução da consciência humana. A tecnologia progrediu pelo elevador e a consciência, evoluiu pela escada. E nos esquecemos que muita de nossa força está em cuidar dos mais fracos.

E esta força imensa da Humanidade pode ser encontrada nas milhares de pessoas que deram o seu melhor para cuidar daqueles que precisavam. Naqueles que providenciaram comida para as incontáveis pessoas que voltaram a trilhar o caminho da fome devido às dificuldades geradas pela pandemia. Nos médicos e enfermeiros que, sob todos os riscos, mantiveram o cuidado com o próximo como guia máximo de suas vidas, levando cura e conforto para aqueles que necessitavam. Nas centenas de pessoas que enfrentam, às vezes, condições adversas para levar vacinas para regiões de difícil acesso. Nas empresas que mudaram linhas de produção ou suas formas de operar com a genuína preocupação em proteger pessoas.

E está no cidadão comum, que supera o incômodo da máscara e a ausência do abraço caloroso em pessoas queridas, simplesmente porque se lembra, a cada momento, que tal ato é uma ação protetora e de cuidado com aqueles que ama.

Como disse o ex-deputado do Parlamento Europeu, Carl Schlyter, o nível de consciência de uma sociedade pode ser mensurado pela forma em como cuidamos dos mais vulneráveis. A pandemia de Covid-19 veio nos mostrar que somos capazes de criar vacinas eficazes em um tempo cada vez mais curto. E que cada vez mais precisamos travar contato com o que nos torna verdadeiramente humanos: a solidariedade.”


Maurício Luz
Temos muito prazer em apresentar o nosso novo colunista que aceitou o convite feito há muito tempo. Ele escreverá aos sábados: 

FRASES EM NOSSO TEMPO

Maurício Luz é carioca e ganhou dois prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2º em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997)

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey. 

Um comentário:

  1. Parabéns, Mauricio, pela tão necessária reflexão.
    Que a gente consiga, todos os dias, alimentar essa verdadeira força da humanidade e cuidar, um pouquinho que seja, daqueles que estão ao nosso redor.

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