à esquerda, Janot e o Eduardo Cunha |
Para
Janot, Cunha usa a Presidência da Câmara para intimidar
pessoas
O ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki afastou o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do mandato de deputado federal e,
consequentemente, do comando da Casa nesta quinta-feira (5).
A decisão do ministro
atende a um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
feito em dezembro do ano passado, que alega que Cunha usou o cargo
para interferir nas investigações da Operação Lava Jato, da qual
é alvo.
No pedido, o procurador
aponta 11 fatos que comprovariam que Cunha usa seu mandato de
deputado e o cargo de presidente da Câmara para constranger e
intimidar parlamentares, réus colaboradores, advogados e agentes
públicos, com o objetivo de embaraçar e retardar investigações
contra si.
As manobras de aliados no
Conselho de Ética para retardar o processo contra o deputado também
foram citadas pela Procuradoria. Na época, Cunha afirma que o pedido
é uma "cortina de fumaça" para desviar o foco do processo
de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
1. Requerimentos para pressionar por propina
Segundo a Procuradoria,
dois requerimentos pedindo informações ao TCU (Tribunal de Contas
da União) e ao Ministério de Minas e Energia sobre a empresa Mitsui
tinham na verdade o objetivo de pressionar o lobista Júlio Camargo
pelo pagamento de propina ligada a contratos com a Petrobras. Os
requerimentos foram apresentados pela então deputada Solange Almeida
(PMDB-RJ), aliada de Cunha, mas, segundo a PGR, o registro no sistema
de informática da Câmara mostram que o verdadeiro autor foi Cunha.
2. Requerimentos contra o grupo Schahin
A ação da Procuradoria
afirma que Cunha patrocinou uma "perseguição" ao grupo
empresarial Schahin, que tinha interesses conflitantes aos de aliados
do deputado na hidrelétrica de Apertadinho, em Rondônia. Aliados de
Cunha teriam, segundo a Procuradoria, apresentado 32 requerimentos
com pedidos de informação e convocação de depoimentos em
comissões da Câmara contra o grupo Schahin.
3. Convocação pela CPI da advogada Beatriz Catta Preta
Mantendo aliados em
"postos-chave" da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
da Petrobras, segundo a Procuradoria, Cunha conseguiu a convocação
pela comissão da advogada Beatriz Catta Preta, responsável por
diversos acordos de delação premiada na Operação Lava Jato. A
convocação foi aprovada após um dos delatores assistidos pela
advogada, o lobista Júlio Camargo, ter implicado Cunha no
recebimento de US$ 5 milhões em propina desviada de contratos de
navios-sonda da Petrobras. Segundo a Procuradoria, a convocação da
advogada teve o objetivo de intimidá-la.
Em entrevista
ao "Jornal Nacional" em julho,
Catta Preta disse que Júlio Camargo tinha "medo de chegar"
ao presidente da Câmara em suas delações. Ela afirmou que deixou a
profissão após receber "ameaças veladas" de integrantes
da CPI.
4. Contratação da consultoria Kroll pela CPI da Petrobras
A contratação da
empresa de investigação financeira Kroll pela CPI da Petrobras foi
vista pela Procuradoria como uma estratégia de Cunha para tentar
anular as delações da Operação Lava Jato. A empresa foi
contratada oficialmente para identificar valores dos investigados em
contas não declaradas no exterior. Mas, ao ter delatores como alvo
da Kroll, caso fossem identificados valores omitidos à Justiça isso
poderia anular os acordos de delação. Dos 12 investigados, apenas
três não fizeram acordos de colaboração.
5. Pedidos de quebra de sigilos de parentes de Youssef
Para a Procuradoria, o
pedido apresentado na CPI da Petrobras para a quebra de sigilos
bancário, fiscal e telefônico de parentes do doleiro Alberto
Yousseff, colaborador da Lava Jato, foi também uma forma de
intimidar o delator. O pedido foi apresentado pelo deputado Celso
Pansera (PMDB-RJ), hoje ministro de Ciência e Tecnologia, e envolvia
a ex-mulher, a irmã e as filhas do doleiro. Youssef, em reunião da
CPI, afirmou que Pansera seria um "pau-mandado" de Eduardo
Cunha. O doleiro foi o primeiro colaborador da Lava Jato a indicar a
participação de Cunha no esquema de corrupção.
6. Projeto de lei que restringe delações premiadas
Segundo
a Procuradoria, aliado de Cunha apresentou um projeto de lei que
restringe o uso das delações premiadas. O projeto prevê que os
colaboradores não podem corrigir ou acrescentar informações ao
acordo de delação. Foi este o caso na colaboração do lobista
Júlio Camargo, que incriminou Cunha. Camargo procurou a
Procuradoria, depois de seus primeiros depoimentos, para acrescentar
informações sobre o deputado. Cunha determinou que o projeto tenha
tramitação conclusiva pelas comissões de Segurança Pública
eConstituição e
Justiça. Ou seja, após aprovado nessas comissões, iria direto ao
Senado, sem passar pelo plenário da Câmara.
7. Demissão de servidor que contrariou o deputado
A procuradoria aponta
ainda como uso indevido do cargo pelo presidente da Câmara a
demissão do diretor de informática da Câmara após reportagem da
"Folha de S. Paulo" revelar que os requerimentos contra a
Mitsui foram elaborados por Cunha.
8. Suspeita de receber propina por emendas para bancos e empreiteiras
A ação que pede o
afastamento de Cunha do cargo cita também a suspeita de que o
deputado teria recebido propina para apresentar emendas a projetos de
lei favoráveis a bancos em liquidação. Anotação encontrada com
um assessor do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso após
pedido do STF, aponta que Cunha teria recebido R$ 45 milhões do
banco BTG em troca de uma emenda que permitiria o uso de créditos de
bancos em liquidação. O BTG seria beneficiado por ter adquirido o
Bamerindus. Cunha diz que a emenda apresentada não abrangia o caso
do Bamerindus. O BTG nega a acusação. A Procuradoria também acusa
de Cunha apresentar emendas que beneficiariam empreiteiras, cujo
texto das emendas era elaborado com participação das próprias
empresas.
9. Manobras no Conselho de Ética
As manobras de aliados de
Cunha para retardar o andamento do processo contra o peemedebista no
Conselho de Ética também são apontadas pela Procuradoria para
pedir seu afastamento do cargo. A Procuradoria cita a decisão do 1º
vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) que afastou o
então relator do caso, Fausto Pinato (PRB-SP) e também a anulação
de reunião do conselho no dia 19 de novembro, determinada pelo 2º
secretário, Felipe Bornier (PSD-RJ).
10. Ameaças relatadas pelo ex-relator Fausto Pinato (PRB-SP)
As ameaças que o
deputado Fausto Pinato (PRB/SP) relatou ter recebidotambém foram
levadas em conta para pedir o afastamento de Cunha. Pinato disse ter
sido ameaçado após ser nomeado relator do processo contra Cunha no
Conselho de Ética. Na ação, a Procuradoria não apresenta nenhuma
prova de que as ameaças tenham partido de pessoas ligadas a Cunha,
mas afirma que, embora o presidente da Câmara tenha solicitado
proteção a Pinato, o peemedebista seria o "principal
beneficiado" pelas ameaças.
11. Relato de ofertas de propina ao ex-relator no Conselho de Ética
A
Procuradoria também usa na ação a entrevista
à "Folha de S. Paulo" na
qual Pinato afirma ter recebido ofertas de propina ligadas a seu
relatório no processo contra Cunha no Conselho de Ética. Na
entrevista, Pinato afirma que não deu seguimento às conversas e
portanto não tem detalhes sobre os autores do pedido.
Fonte:
Notícias UOL / Jusbrasil
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