Para além da afirmação de que o poder deve ser comandado por homens, ricos, brancos e heterossexuais é preciso fazer uma reflexão importante sobre o que significa a relação entre raça, gênero e orientação sexual na condução de um programa político para o Brasil.
Por Luka - Bidê
“Uma coisa que podemos
afirmar já nas primeiras horas do governo Michel Temer é que ele
não possui compromisso algum com as pautas relacionadas aos direitos
das mulheres, negros e LGBTs. O indício desta afirmação é a
imagem e a nominata dos novos ministros empossados pelo presidente
golpista Temer. Todos homens, brancos e quase todos heterossexuais –
sim, Gilberto Kassab possui um casamento homoafetivo, mas nunca
assumiu a agenda dos direitos LGBTs. As indicações feitas por Temer
são bem simbólicas, mas não apenas. Desde o governo de Ernesto
Geisel (1974-1979), ou seja, ditadura civil-militar, não havia
indicações de ministérios que não tivessem mulheres ocupando
cargos no primeiro escalão do governo federal.
A
revista AzMina fez uma
matéria muito boa questionando
o argumento da meritocracia sobre a composição do panteão de
ministros de Michel Temer. Para além da afirmação de que o poder
deve ser comandado por homens, ricos, brancos e heterossexuais é
preciso fazer uma reflexão importante sobre o que significa a
relação entre raça, gênero e orientação sexual na condução de
um programa político para o Brasil.
Digo isso pelo seguinte,
boa parte das indicações de Michel Temer se localizam na bancada
BBB (Bala, Boi e Bíblia). Sim, um recall piorado do que era o
panteão de ministros da presidente Dilma Rouseff. Não falo apenas
de continuar a aplicar as medidas do ajuste fiscal que já vinham
sendo feitas, ou tocar os grandes projetos previstos para a Amazônia.
Lembremos que estas questões que atacam de diversas formas os nossos
direitos eram agenda do governo Dilma, porém há um processo de
aceleração colocado aí que é sim temerário. Inclusive, ameaça
direitos que os movimentos sociais conquistaram com muita luta.
Por exemplo, o novo
Ministro da Educação é filiado ao DEM (Democratas). Este partido
moveu uma ação de inconstitucionalidade no STF (Supremo Tribunal
Federal) questionando as cotas raciais nas universidades. Foi por
indicação do DEM que Fernando Holiday foi à tribuna da Câmara dos
Deputados dissertar contra as vitórias do movimento negro brasileiro
que hoje garante direito de cidadania a toda uma população que até
pouco tempo só servia para lavar pratos e cuidar dos filhos dos
brancos.
Além da indicação do
DEM para o Ministério da Educação, há também o novo Ministro da
Justiça. Alexandre de Moraes foi até ontem, literalmente, o
Secretário de Segurança Pública do governo de Geraldo Alckmin em
São Paulo. Sim, o responsável por diversas atrocidades cometidas
pela PM em cima dos secundaristas que hoje lutam contra a corrupção
tucana e pela garantia de uma educação pública de qualidade em SP.
Uma outra indicação que
não podemos levar como alegoria é a de Osmar Terra para o
Ministério do Desenvolvimento Agrário. Terra é um dos principais
articuladores do discurso de guerras às drogas no Congresso
Nacional. Política esta que consiste não apenas no processo do
nosso genocídio, mas também do encarceramento em massa que hoje
existe no Brasil.
A política de extermínio
da negritude, indígenas e todos os não-brancos em nosso país é
histórica. Se institucionaliza paulatinamente e é tratada de forma
secundária por boa parte da esquerda brasileira. A indicação de
Alexandre de Moraes para o Ministério da Justiça só demonstra o
quanto o aprofundamento da política de extermínio do nosso povo, da
criminalização da pobreza e encarceramento em massa é agenda
central para a burguesia branca, hetero, masculina e golpista em
nosso país.
Já passou o momento de a
esquerda considerar as questões de raça, gênero e sexualidade nas
análises de conjuntura e processos de articulações políticas e
respostas a serem dadas aos ataques da direita. Eles pensam a
totalidade de suas ações e, infelizmente, nós ainda colocamos
nossos debates em caixinhas, muitas vezes com medo de perder o
protagonismo da luta contra este Estado capitalista, racista,
machista e LGBTfóbico.
Há um bom tempo os
ataques aos direitos das mulheres, negros e LGBTs teêm norteado a
disputa política feita pela direita brasileira. Não podemos encarar
este momento que se abre na política brasileira sem pensar na
centralidade que estas pautas têm neste enfrentamento, para combater
o golpe é necessário não mais secundarizarmos as agendas do
movimento negro, feminista e LGBT.
Ou encaramos frontalmente
o que estrutura o projeto dos golpistas, ou amargaremos mais derrotas
e retiradas de direito.”
Fonte: Jusbrasil
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