domingo, 15 de maio de 2016

Racismo, machismo e LGBTfobia estruturam o projeto do governo Temer

Para além da afirmação de que o poder deve ser comandado por homens, ricos, brancos e heterossexuais é preciso fazer uma reflexão importante sobre o que significa a relação entre raça, gênero e orientação sexual na condução de um programa político para o Brasil.

Por Luka - Bidê
Uma coisa que podemos afirmar já nas primeiras horas do governo Michel Temer é que ele não possui compromisso algum com as pautas relacionadas aos direitos das mulheres, negros e LGBTs. O indício desta afirmação é a imagem e a nominata dos novos ministros empossados pelo presidente golpista Temer. Todos homens, brancos e quase todos heterossexuais – sim, Gilberto Kassab possui um casamento homoafetivo, mas nunca assumiu a agenda dos direitos LGBTs. As indicações feitas por Temer são bem simbólicas, mas não apenas. Desde o governo de Ernesto Geisel (1974-1979), ou seja, ditadura civil-militar, não havia indicações de ministérios que não tivessem mulheres ocupando cargos no primeiro escalão do governo federal.
A revista AzMina fez uma matéria muito boa questionando o argumento da meritocracia sobre a composição do panteão de ministros de Michel Temer. Para além da afirmação de que o poder deve ser comandado por homens, ricos, brancos e heterossexuais é preciso fazer uma reflexão importante sobre o que significa a relação entre raça, gênero e orientação sexual na condução de um programa político para o Brasil.
Digo isso pelo seguinte, boa parte das indicações de Michel Temer se localizam na bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia). Sim, um recall piorado do que era o panteão de ministros da presidente Dilma Rouseff. Não falo apenas de continuar a aplicar as medidas do ajuste fiscal que já vinham sendo feitas, ou tocar os grandes projetos previstos para a Amazônia. Lembremos que estas questões que atacam de diversas formas os nossos direitos eram agenda do governo Dilma, porém há um processo de aceleração colocado aí que é sim temerário. Inclusive, ameaça direitos que os movimentos sociais conquistaram com muita luta.
Por exemplo, o novo Ministro da Educação é filiado ao DEM (Democratas). Este partido moveu uma ação de inconstitucionalidade no STF (Supremo Tribunal Federal) questionando as cotas raciais nas universidades. Foi por indicação do DEM que Fernando Holiday foi à tribuna da Câmara dos Deputados dissertar contra as vitórias do movimento negro brasileiro que hoje garante direito de cidadania a toda uma população que até pouco tempo só servia para lavar pratos e cuidar dos filhos dos brancos.
Além da indicação do DEM para o Ministério da Educação, há também o novo Ministro da Justiça. Alexandre de Moraes foi até ontem, literalmente, o Secretário de Segurança Pública do governo de Geraldo Alckmin em São Paulo. Sim, o responsável por diversas atrocidades cometidas pela PM em cima dos secundaristas que hoje lutam contra a corrupção tucana e pela garantia de uma educação pública de qualidade em SP.
Uma outra indicação que não podemos levar como alegoria é a de Osmar Terra para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Terra é um dos principais articuladores do discurso de guerras às drogas no Congresso Nacional. Política esta que consiste não apenas no processo do nosso genocídio, mas também do encarceramento em massa que hoje existe no Brasil.
A política de extermínio da negritude, indígenas e todos os não-brancos em nosso país é histórica. Se institucionaliza paulatinamente e é tratada de forma secundária por boa parte da esquerda brasileira. A indicação de Alexandre de Moraes para o Ministério da Justiça só demonstra o quanto o aprofundamento da política de extermínio do nosso povo, da criminalização da pobreza e encarceramento em massa é agenda central para a burguesia branca, hetero, masculina e golpista em nosso país.
Já passou o momento de a esquerda considerar as questões de raça, gênero e sexualidade nas análises de conjuntura e processos de articulações políticas e respostas a serem dadas aos ataques da direita. Eles pensam a totalidade de suas ações e, infelizmente, nós ainda colocamos nossos debates em caixinhas, muitas vezes com medo de perder o protagonismo da luta contra este Estado capitalista, racista, machista e LGBTfóbico.
Há um bom tempo os ataques aos direitos das mulheres, negros e LGBTs teêm norteado a disputa política feita pela direita brasileira. Não podemos encarar este momento que se abre na política brasileira sem pensar na centralidade que estas pautas têm neste enfrentamento, para combater o golpe é necessário não mais secundarizarmos as agendas do movimento negro, feminista e LGBT.
Ou encaramos frontalmente o que estrutura o projeto dos golpistas, ou amargaremos mais derrotas e retiradas de direito.”

Fonte: Jusbrasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é sempre bem-vinda!