Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro |
“Quem convive com o ministro diz que ele não sairia do governo por causa do episódio envolvendo Ilona Szabó. Mas ninguém garante que teria o mesmo comportamento se a interferência chegar a cargos do primeiro escalão do ministério”
POR
ESTADAO CONTEUDO
“Desde
que trocou a toga pelo cargo de ministro da Justiça e Segurança
Pública do governo Jair Bolsonaro, Sérgio Moro vem contabilizando
dissabores. O último foi a demissão da cientista política Ilona
Szabó de um cargo de suplente no Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária. Numa queda de braço em que é difícil
dizer se o adversário é real ou apenas um robô, Moro perdeu.
Bolsonaro optou por atender a parte de seus seguidores nas redes
sociais e tirou de Moro a autonomia de indicar até mesmo uma
suplente na sua pasta.
Os
amigos dizem que Moro se achava preparado para enfrentar Brasília
depois de ter tocado a Operação Lava Jato, que prendeu políticos
do alto escalão e empresários do primeiro time. Agora, já teria
entendido que o jogo da política é bem diferente.
Quem
convive com o ministro diz que ele não sairia do governo por causa
do episódio envolvendo Ilona Szabó. Mas ninguém garante que teria
o mesmo comportamento se a interferência chegar a cargos do primeiro
escalão do ministério. Moro não aceitaria, por exemplo, uma ordem
para demitir um de seus secretários.
'Superministro'
Quando
aceitou a vaga no governo, Moro recebeu de Bolsonaro a garantia de
que teria autonomia para atuar e ganhou o título de "superministro".
"Eu não vou interferir em absolutamente nada que venha a
ocorrer dentro da Justiça no tocante a esse combate à corrupção.
Mesmo que viesse a mexer com alguém da minha família no futuro. Não
importa. Eu disse a ele. É liberdade total para trabalhar pelo
Brasil", sustentou o então presidente eleito em novembro.
Bolsonaro
atendeu também ao pedido de Moro para que o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf) saísse da alçada do Ministério da
Fazenda para ficar subordinado à Justiça. Foi o órgão que
descobriu movimentações atípicas nas contas do senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, e do seu
ex-assessor Fabrício Queiroz. Quando Bolsonaro garantiu autonomia a
Moro, ainda na transição, esses fatos não eram públicos.
As
descobertas do Coaf tiraram protagonismo do filho do presidente, que
reduziu o ritmo de postagens nas redes sociais. Na madrugada de
ontem, porém, Flávio postou uma crítica à nomeação de Ilona.
"Meu ponto de vista é como essa Ilana (sic) Szabó aceita fazer
parte do governo Bolsonaro. É muita cara de pau junto com uma
vontade louca de sabotar, só pode", escreveu às 2h14 de ontem.
Entre
políticos em Brasília, há a versão de que os Bolsonaros
creditariam ao grupo de seguidores de Moro os vazamentos de
relatórios do Coaf que atingiram Flávio em cheio. Neste sentido, o
tuíte do senador foi lido como uma indireta ao ministro da Justiça.
Além a demissão da cientista política para a vaga de suplente do
conselho de política criminal, Moro sofreu reveses com a decisão de
priorizar no Congresso a votação da reforma da Previdência e de
alterar o pacote anticorrupção - principal medida do Ministério da
Justiça, inclusive tirando do texto principal a criminalização do
caixa 2. Esse ponto, revelado pelo Estado, deixou Moro numa
saia-justa ao ter de mudar de posição sobre a gravidade da prática.
"Caixa
2 não é corrupção. Existe o crime de corrupção e o crime de
caixa 2. Os dois crimes são graves", disse o agora ministro. Em
agosto de 2016, o juiz Moro havia dado outra versão: "Muitas
vezes (caixa 2) é visto como um ilícito menor, mas é trapaça numa
eleição".
Moro
deve passar o feriado do carnaval em Curitiba. Amigos dizem que ele
deve aproveitar o tempo livre para digerir os últimos
acontecimentos. O ministro tem no governo o respaldo dos militares. O
general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, é um de
seus fiadores. Para o núcleo militar, os dois pilares do governo
Bolsonaro são Moro e Paulo Guedes, ministro da Economia. Moro
não pensa em deixar o governo. Mas, se um dia optar por esse
caminho, apostam seus interlocutores, vai ganhar dinheiro como
advogado ou dando aulas em universidades. Seu projeto, contudo, é
aprovar projetos de combate ao crime organizado.
Supremo
Os
reveses de Moro não serão restritos ao Executivo. Aliados do
ministro já anteveem votos contrários do partido de Bolsonaro, o
PSL, ao seu pacote anticrime no Congresso. Como o Estado mostrou, o
PSL compartilha do movimento para que o texto seja votado em conjunto
com um projeto que torna mais rigorosa a punição para abuso de
autoridade.
O
Supremo Tribunal Federal também vai julgar logo o pedido da defesa
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aponta
suspeição de Moro para julgar o petista no caso do triplex, baseado
na sua ida para o governo." Informações do jornal O
Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!