Por Lucas Rafael Chianello
"Dirigido por Kenya Zanatta e Maurício Dias, Operação Pedro Pan foi exibido no canal fechado Curta! nos últimos domingo (19/07), segunda (20/07) e terça-feira (21/07). Há uma nova previsão de exibição para o dia 09/10/2020. Trata-se de uma verdade que precisa ser amplamente escancarada: o sequestro de cerca de 14.000 crianças cubanas por uma operação migratória executada em conjunto pelo governo dos EUA, pela CIA e pela Igreja Católica durante o início dos anos 1960.
Após a reforma agrária e a nacionalização dos correios e das telecomunicações, a Revolução Cubana empreendeu a estatização das escolas particulares, muitas das quais pertencia à Igreja Católica, sempre aliada às elites conservadoras cubanas, a despeito da propagação da chamada teologia da libertação em vários outros países da América Latina. Em resposta, enquanto o exército e a inteligência estadunidenses promoviam atentados contra a zona portuária de Havana e a tentativa fracassada da invasão da Baía dos Porcos/ Playa Girón, um documento falsificado informava que a Revolução Cubana teria outorgado uma lei pela qual o poder familiar seria retirado dos pais para que suas crianças fossem educadas pela Revolução, com possibilidades de envio a campos de concentração na União Soviética, e somente devolvidas às famílias quando atingida a maioridade civil. Eis que então entra em cena a obscura figura do Padre Bryan Walsh, dirigente da entidade Catholic Charities USA, que passou a atuar como uma espécie de garantia pessoal para a emissão de vistos a crianças cubanas, para que essas pudessem entrar nos EUA; porém, desacompanhadas dos pais. Tal operação migratória, de contornos nazistas, evidenciou indelevelmente que os EUA apostavam que além do Movimento 26 de Julho, liderado por Fidel Castro, não era forte o suficiente para repelir uma invasão militar estrangeira, Fidel teria prazo de validade e tão logo as elites cubanas retomassem o controle do país, as crianças seriam devolvidas aos seus pais.
CIA e a Igreja levam 14 mil crianças de Cuba para os EUA para “salvá-las do comunismo”. |
Porém, a revolução mostrou-se perene e a afetividade de crianças inocentes utilizada como chantagem política e peça de propaganda tornou-se um episódio revelador da canalhice e da sensação de impunidade do imperialismo ianque. No documentário exibido pelo canal Curta!, dois depoimentos são muito interessantes de se notar. O primeiro, de Sandra Alfonso, filha de um cubano antirrevolucionário que em razão da colaboração com a operação, permitiu que Sandra reencontrasse a família em curto espaço de tempo e não perdesse os laços de afetividade. Emocionada pela consciência de que muitos não tiveram a mesma sorte, Sandra, ao final do documentário, pede perdão pelas ações do pai. Umas das quais não tiveram a mesma sorte foi Sylvia Correa, que relata ter vivido uma infância sem qualquer referência familiar depois que passou a ser entregue de família em família. Denota-se a gravidade dos diversos males sofridos por Sylvia quando ela se recusa a comentá-los. Sempre sob o expediente de pintar países comunistas como versões do inferno na Terra, os EUA, a CIA e a Igreja Católica promoveram a Operação Pedro Pan inspirados no personagem de James Matthew Barrie, que ao se recusar a crescer, partiu para a Terra do Nunca, onde seria uma criança feliz para sempre num mundo de magia.
O resultado dessa megalomania de pretexto político foi o sofrimento eterno de crianças e famílias vítimas de um experimento em massa de alienação parental cujas feridas jamais serão curadas. Maldito seja o imperialismo estadunidense e seus não menos bovinos seguidores!"
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