“O secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, disse nesta sexta-feira (17) que está mantida a volta às aulas no início de setembro para as cidades que tiverem mais de 28 dias na fase amarela do Plano São Paulo de flexibilização.
Na quinta (16) o governo havia anunciado que a retomada das escolas seria objeto de uma “reavaliação” por conta de estudos que estimaram aumento de mortes entre crianças com a volta às aulas. O anúncio, feito pelo coordenador-executivo do grupo, João Gabbardo, ocorreu quando ele foi questionado sobre uma projeção matemática que estimava até 17 mil mortes entre crianças com a retomada.
Nesta sexta, Rossieli Soares disse que a projeção, na verdade, é de 1.577 mortes, e que houve um erro na divulgação do estudo do matemático Eduardo Massad, professor titular da Escola de Matemática Aplicada Fundação Getúlio Vargas (FGV), que criticou a retomada das aulas em SP em vídeo (veja o vídeo abaixo).
“Quando se falou lá atrás de 17 mil mortes, o próprio professor reconheceu isso em comunicação com a secretaria da educação, este número está errado em até 10 vezes. Na verdade, o número de mortes poderia ser de 1.557 no Brasil”, disse Rossieli Soares.
Rossieli disse ainda que a estimativa de 1.557 morres abrange a retomada de aulas em todo o país e para todos os alunos entre 1 e 19 anos.
“Não é só pra educação infantil, é pra toda população de 1 ano até 19 anos. 1.557 é um número, sim, considerável, por isso que nós estamos alertando, nós não aceitamos [essa quantidade de mortes] e vamos trabalhar com absoluta segurança nesse processo. Por isso que nossos protocolos estão falando, nós não voltaremos com as condições de hoje, só voltaremos com segurança, com a área da saúde dizendo que é possível retomar dadas as condições que teremos lá na frente. Por isso, os nossos protocolos estão mantidos”, completou Rossieli.
O G1 procurou o pesquisador Eduardo Massad para confirmar qual é a projeção de seu estudo e aguarda retorno.
São Paulo planeja a retomada gradual das aulas a partir de 8 de setembro para as cidades que tiverem mais de 28 dias na fase amarela do Plano São Paulo de flexibilização, segundo o governo paulista. A proposta prevê ainda combinação de aulas presenciais e virtuais (veja aqui).
São Paulo é Brasil não vivem um bom momento para reabertura de escolas, diz professor da FGV, Eduardo Massad
No mesmo evento virtual em que Massad disse que a volta às aulas era precoce, o ex-coordenador do comitê de saúde estadual, Dimas Covas, disse que as mortes diárias por coronavírus no estado de São Paulo podem continuar em um “patamar elevado” até 2021 e disse que SP tem a explosão de 'um Boeing 747 por dia'.
Anúncio de reavaliação
O centro de contingência contra o coronavírus, comitê do governo de São Paulo que delibera sobre a quarentena no estado, disse na quinta-feira que iria reavaliar a volta às aulas programada para o início de setembro. O anúncio foi feito quando o coordenador-executivo do grupo, o médico João Gabbardo, foi questionado sobre uma projeção matemática que estima até 17 mil mortes entre crianças com a retomada das escolas em todo o Brasil.
“Em função dessas novas informações, a gente pediu para que o centro de contingência, que tem discutido isso com o secretário da educação, faça uma reavaliação daquilo que já foi definido. Tão logo nós tenhamos essas informações, a gente vai trazer aqui para a entrevista coletiva”, disse Gabbardo.
Projeção sobre a volta às aulas
No debate virtual com especialistas realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) e o Butantan, o matemático Eduardo Massad afirmou que São Paulo e o Brasil não vivem um bom momento para reabertura de escolas.
"As aulas absolutamente não podem voltar em setembro. Nós temos hoje no Brasil 500 mil crianças portadoras do vírus zanzando por aí. Se você reabrir agora em agosto, mesmo usando máscara, mesmo botando distância de dois metros. No primeiro dia de aula nós vamos ter 1.700 novas infecções, com 38 óbitos. Isso vai dobrar depois de 10 dias e quadruplicar depois de 15 dias. Então, abrir as escolas agora é genocídio", declarou.
Por meio de fórmulas matemáticas, Eduardo Massad afirmou que, caso aconteça uma reabertura precipitada das escolas no Brasil, o país pode saltar de 300 mortes de criança abaixo de 5 anos para 17 mil até o final do ano.
"300 e poucas crianças abaixo de 5 anos morreram no Brasil. Se a gente reabrir as escolas, nós vamos chegar a 17 mil. São 17 mil crianças que vão morrer e não precisariam morrer. Todo o resto dos problemas vocês consegue dar um jeito e resolver. Nós estamos falando de vidas. Se a gente abrir sem um planejamento muito preciso e um controle muito grande, o que vai acontecer é que vai morrer 17 mil crianças contra 300 e poucas no curso natural da epidemia, com as escolas fechadas", afirmou.
No mesmo seminário, Massad também criticou a utilização do platô como meta de política pública.
"Alguns dirigentes têm usado esse platô como argumento pra dar sustento às suas políticas de relaxamento das medidas de isolamento social. Na verdade, é o que eu venho dizendo a algum tempo: o platô é a assinatura do fracasso. Toda curva epidêmica que se preze ela tem que atingir um pico e cair", afirmou.
Críticas à reabertura
As mortes diárias por coronavírus no estado de São Paulo podem continuar em um “patamar elevado” até 2021, segundo projeção apresentada nesta terça-feira (14) pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
O diretor do Instituto Butantã, Dimas Covas, durante apresentação em seminário em parceria com a Fapesp. — Foto: Reprodução/Youtube
“Nós vamos manter essa epidemia por um bom tempo ainda. A taxa de mortalidade, embora possa estar estabilizada, está em um patamar elevado. Temos algo em torno de 300 óbitos por dia no estado de São Paulo. O que corresponde a um Boeing 747. Estamos tendo a explosão de um Boeing 747 por dia e pode ser que isso se prolongue até o ano que vem”, afirmou durante debate virtual com especialistas realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) e o Butantã.
Dimas Covas faz parte do Centro de Contingência montado pelo governo de São Paulo e já coordenou o grupo em um dos revezamentos de seus membros. No entanto, apresenta posições diferentes das defendidas pela gestão João Doria (PSDB).
Dimas Covas diz que a mudança de cenário depende de maior isolamento
De acordo com as projeções apresentadas por Dimas Covas, os números de mortes e casos devem continuar subindo no estado, já que a taxa de transmissão da doença ainda não caiu o suficiente para derrubar o contágio.
“Embora muitos tenham a falsa sensação de que estamos em um momento de inflexão, de platô, na realidade esses casos ainda devem continuar aumentando. Da mesma forma, o número de óbitos deve continuar aumentando”, afirmou.
Segundo Dimas Covas, a solução para diminuir as mortes e casos seria aumentar o isolamento social para 70%, o que já era recomendado por especialistas no início da pandemia, mas que deixou de ser o principal critério para a reabertura.
“Considerando o que nós temos mantido de isolamento social, abaixo de 50%, em torno de 45% no estado como um todo, nós vemos essa espécie de platô. A alternativa a isso seria aumentar as medidas de isolamento para 70%, com isso nós seguramente teríamos um comportamento diferente da epidemia”.
Em 11 de junho, Dimas Covas já havia criticado o plano de reabertura do comércio em São Paulo.
"Quando você faz um planejamento, você tem que prever quando é que você vai sair DO (Diário Oficial). Mas nenhum especialista, nenhum infectologista, nenhum epidemiologista fala pra você que você pode sair com curva em ascensão. Quer dizer, isso não faz muito sentido, você tá entendendo? E no estado de São Paulo, nós não temos nenhuma curva em descensão", disse ele na ocasião."
Fonte: G1.com/São Paulo
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