Por Rafael Martins Neves Historiador - mestre em Educação
No
futuro, quando os historiadores olharem para nossos dias –
certamente marcados como mais uma “página infeliz da nossa
história” -, provavelmente terão a impressão que uma enorme
parte da sociedade dormia tão distraída quanto a pátria mãe
retratada na famosa letra de Chico Buarque. Um clima de estranha
normalidade está estabelecido. Isso acontece ainda que todos os
jornais repercutam falas de especialistas acerca da tragédia sem
precedentes que nos espera nas próximas semanas, resultado da
interação macabra entre uma variante mais transmissível do vírus
Sars-COV-2 e o total abandono de qualquer política restritiva à
circulação de pessoas por parte dos governos.
A
trágica normalidade, em Poços de Caldas, ganhou um episódio com
tons de surrealismo nesse fim de semana. O prefeito Sérgio Azevedo
repercutiu em suas redes sociais um texto que trata a cidade como
exemplo de combate à COVID-19, tanto no âmbito da saúde, quanto da
economia. Aparentemente, a avaliação não considera fatos como
termos sido a cidade que mais perdeu empregos com carteira assinada
no Sul de Minas ao mesmo tempo em que tivemos mais óbitos pela
doença – no momento em que escrevo, são 134, sendo 51 só neste
ano! Tudo normal!
Esse
tipo de absurdo só é possível porque nos acostumamos a viver em
meio a um morticínio sem precedentes em nossa história. O
presidente Jair Bolsonaro faz tudo o que pode para dificultar a
vacinação e estimular as aglomerações. Diante de uma Manaus
colapsada, ofereceu montes da inútil cloroquina, sua obsessão. O
que faltava era oxigênio. Há lugares do país onde pacientes têm
que ser amarrados às camas por falta de sedativos. Diversos
analistas e políticos caracterizam a conduta do presidente e seus
capachos fardados como “incompetência”. Soa como uma piada. O
que vivemos é um genocídio, e bastante bem sucedido.
É
uma necessidade que consigamos impedir a marcha que está em curso:
acordar é urgente! Nos últimos dias, têm crescido clamores para a
implantação de medidas restritivas, inclusive com governadores
defendendo a adoção de um lockdown nacional. Nesse momento, a
adoção desse tipo de política é a única possibilidade de impedir
que um número ainda mais desesperador de brasileiros – em sua
maioria pretos e pobres – morram!
Entretanto,
também é preciso destacar que não se trata só de uma questão de
ser ou não “a favor” da ciência. Aqueles que querem tirar ainda
mais dinheiro da saúde e da educação também são culpados pela
barbárie. Os engravatados que aparecem nos telejornais, com seus
discursos técnicos e pomposos sobre “austeridade”, “equilíbrio
das contas públicas” e “sustentabilidade da dívida” têm
sangue nas mãos por colocarem os interesses de lucro do 1% mais rico
acima das necessidades da ampla maioria do povo.
É
um crime que, no momento em que precisamos manter as pessoas em casa,
não haja uma prioridade absoluta em instituir uma política
econômica pensada para voltar a pagar o Auxílio Emergencial no
valor de R$ 600, manter os empregos daqueles que eventualmente
tiverem que ficar sem trabalhar por conta do fechamento de serviços
não essenciais e garantir que pequenas e médias empresas tenham
capital de giro para não quebrar.
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No passado 2020 em meio a pandemia (Dos impostos que o povo paga para o governo que é liberado o Auxílio Emergencial, em qualquer parte do mundo) |
Vários
países do mundo – inclusive com menos recursos financeiros e
institucionais que o Brasil - conseguiram tomar atitudes nesse
sentido e obtiveram sucesso. Não esperemos que os governos Jair
Bolsonaro, Romeu Zema e Sérgio Azevedo tomem alguma providência. De
onde menos se espera é que não vem. Só com organização e luta
podermos começar a construir uma sociedade diferente desta onde o
ter milhares de mortos por uma doença evitável e milhões de
desempregados e miseráveis é normal – e, em alguns casos, pode
virar até case de sucesso!"
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Rafael Martins Neves |
Rafael Martins Neves- Graduado em História e mestre em Educação pela Unifal-MG
-Servidor técnico-administrativo no IFSULDEMINAS - Campus Poços de Caldas
-Presidente do Diretório Municipal do PSOL em Poços de Caldas.
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