Por Mariana Hallal - Estadão
"Depoimento de Túlio Tonietto, médico intensivista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre"
"O que mais me marca nessa pandemia é a impossibilidade de conseguir absorver todos os pacientes que precisam de UTI. Somos um hospital de ponta, o terceiro melhor hospital do Brasil. Na quarta de manhã, por exemplo, havia seis pacientes em ventilação mecânica na emergência. Lá não é o local adequado. Fizemos um mutirão para transportar alguns deles. À noite, já havia nove pacientes de novo na mesma situação. É uma coisa que a gente nunca viu aqui em Porto Alegre.
Outra coisa muito impactante é o isolamento ao qual os pacientes estão submetidos. O Moinhos de Vento foi pioneiro em implantar a visita estendida, que deixa um familiar ficar durante 12 horas por dia na UTI com o paciente. Isso facilitava muito a nossa comunicação e era muito bom para a família. Agora, quando eles internam com covid, eles ficam sozinhos.
O momento da entubação é muito triste. Quando dá, a gente faz uma chamada de vídeo com a família e esse encontro é uma coisa que mexe com todo mundo. Nós dizemos que logo eles vão se reencontrar, mas sabemos que isso provavelmente não vai acontecer. Isso mexe muito com a equipe assistencial.
A impressão que eu tenho é de que, cada vez mais, estão vindo pacientes jovens e com poucas comorbidades. Hoje chegou uma paciente de 38 anos, sem comorbidades que talvez precise de intubação. Um dos casos que me marcou muito foi um enfermeiro da nossa equipe, que ficou muito grave. Isso colocou a doença no nosso colo e mexeu com toda a equipe. Graças ao esforço de todo mundo, ele está bem e já voltou ao atendimento dos pacientes com covid."/Depoimento a Mariana Hallal."
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