Por Rafael Martins Neves
“Os significados do dia primeiro de maio têm sido disputados ao longo do tempo. Por um lado, há sempre a tentativa de transformá-lo em uma celebração vazia. Para as elites patronais é interessante que seja visto como apenas um dia de descanso proporcionado por um feriado como qualquer outro. Diante dessa postura, precisamos relembrar sua origem e seu sentido histórico para refletir sobre os desafios que nós, trabalhadores e trabalhadoras, enfrentamos na atualidade.
No dia primeiro de
maio de 1886, ocorreram manifestações e paralisações de
operários em diversos locais dos Estados Unidos, tendo como centro
irradiador a cidade de Chicago. A principal reivindicação era o
estabelecimento da jornada de trabalho de 8 horas diárias. Vale
lembrar que, naquele período, chegava-se a trabalhar mais de 14
horas por dia! A repressão policial aos grevistas foi brutal,
levando a prisões e mortes. Alguns anos depois, a data foi
escolhida por diversas organizações como o dia internacional de
luta dos trabalhadores, no qual eram realizadas simultaneamente, em
diversos países, mobilizações pela obtenção de direitos.
Não é minha
intenção fazer longas exposições históricas acerca do tema.
Entretanto, retomar as origens para refletir sobre o caráter
classista de luta do primeiro de maio é fundamental em nossos
dias. Nos últimos anos, nos acostumamos a viver em um país em
crise, alternando momentos de recessão e estagnação econômica.
Os economistas ouvidos pela grande mídia dizem que todos têm que
se sacrificar para passar por esse momento difícil. A conta,
entretanto, está sendo paga quase integralmente pelos
trabalhadores.
O Presidente da
República repetiu insistentemente, durante sua campanha, que o
trabalhador teria que escolher entre ter direitos ou ter emprego.
Reverberando uma mentalidade que vem ganhando força há alguns
anos, culpava as conquistas históricas da classe trabalhadora
pelos supostos altos custos da mão-de-obra no país. A solução
seria diminuir “encargos” e garantir “liberdade econômica”
para a retomada do crescimento. Depois de uma série de desmontes
da CLT, vemos hoje o resultado: o desemprego aumentou, a
informalidade se tornou a regra na maioria das relações de
trabalho, as jornadas se estenderam e direitos antes considerados
básicos como férias remuneradas, auxílio-doença e décimo
terceiro foram transformados em sonhos distantes para a maior parte
das pessoas, uma vez que mais da metade da força de trabalho não
tem carteira assinada. A fortuna dos bilionários, por outro lado,
só aumentou.
A pandemia
escancarou quem paga os custos dessa “modernização”. O índice
de contágio e morte foi maior entre trabalhadores informais e
terceirizados. A ausência de garantias trabalhistas mínimas
impediu que a maior parte das pessoas tivesse a possibilidade de
fazer o necessário isolamento social. A macabra marca de 400 mil
mortos não seria atingida sem a devastação que foi promovida por
aqueles que destruíram conquistas e direitos em nome da
“eficiência” para “aumentar a competitividade” do país,
atraindo investimentos para um melhor “ambiente de negócios”
Disputar o sentido
histórico do primeiro de maio, nestes tempos onde o luto se tornou
uma constante, deve nos lembrar que só por meio da luta coletiva e
organizada conseguimos arrancar os direitos que agora são
retirados de forma tão rápida. É preciso reafirmar que não
queremos apenas empregos, também queremos direitos! E que os ricos
paguem pela crise que produziram!”
Fonte: Rafael Martins Neves
Rafael Martins Neves |
Rafael Martins Neves é Historiador, mestre em educação e presidente do Diretório Municipal do PSOL em Poços de Caldas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!