sábado, 18 de dezembro de 2021

"O Que Torna os humanos, Humanos?"

    

  Eu sou porque nós somos.”.

Frase da Filosofia Ubuntu


Em 31 de julho de 2011, a espécie humana alcançou um marco. Neste dia, segundo o site Worldometers.info, alcançamos o número de 7 bilhões de pessoas coabitando o pálido ponto azul do Sistema Solar. Este número não para de crescer, e estima-se que em 2023 alcançaremos a marca de 8 bilhões de habitantes humanos no planeta. 

A diversidade que podemos identificar entre estes bilhões é fascinante. Nós estamos espalhados por todo o planeta. Agrupamentos humanos podem ser encontrados nos pontos mais quentes da Terra, como os tuaregues do deserto do Saara, até nos locais mais frios, como a cidade de Yakutsk, na Sibéria, onde no inverno foram registradas temperaturas de incríveis 70 graus negativos. Há povos e cidades onde tecnologias avançadas fazem parte do cotidiano, como em Tóquio, e outros onde a metalurgia ainda é pouco utilizada, como é o caso dos habitantes de Sentinela do Norte, uma ilha situada perto da Índia onde qualquer visitante é recebido a flechadas mortais.

Estes sete bilhões de pessoas falam mais de 7 mil línguas e dialetos diferentes, e professam 10 mil tipos diferentes de crenças e religiões. Quanto à alimentação, podemos encontrar desde aqueles que se alimentam prioritariamente de proteína animal até aqueles que se alimentam apenas de vegetais, mostrando o quanto a diversidade é a principal característica da humanidade e portanto, uma das bases de nossa adaptabilidade e resiliência.

Apesar da enorme diversidade, os denominados homo sapiens sapiens apresentam capacidades em comum além das características meramente físicas: capacidade de aprender, de se comunicar por meio de palavras e de transmitir o conhecimento adquirido para as gerações futuras.

Estas capacidades de aprendizado, de comunicação e de transmitir o que foi aprendido é inata. Mas tal como a semente que esconde a potencialidade da planta e precisa de fatores para germinar, a característica que difere os seres humanos dos demais seres com os quais coabita o planeta precisa de alguns fatores para que suas capacidades despertem.

Em 1991, um surpreendente caso veio a público na Ucrânia. Oxana Malaya tinha 8 anos de idade quando foi encontrada pelas autoridades. Incapazes de cuidar de Oxana, os pais alcoólatras da menina praticamente a abandonaram ainda muito cedo, fazendo com que ela vivesse grande parte de sua vida com os cachorros que habitavam a região.

Quando Oxana foi encontrada, ela andava de quatro, latia e gania como um cachorro selvagem, e tinha desenvolvido enormemente os sentidos de audição, olfato e visão. Depois de resgatada, Oxana passou a conviver com outros humanos, aprendendo daí a falar e até mesmo a andar de pé, sem no entanto desenvolver muitas habilidades.

Além de Oxana, há outros registros de crianças que foram criadas por animais e, por isto, adquiriram algumas de suas características. Quando encontradas, nem todas conseguiram desenvolver potencialidades humanas, ou mantendo ainda padrões e trejeitos aprendidos com seus tutores animais, ou porque o tempo do cérebro em desenvolver áreas específicas do córtex cerebral responsáveis por determinadas funções simplesmente tinha passado quando foram encontradas.

O caso de Oxana e das demais crianças criadas por animais nos mostram que a plenitude de nossa humanidade somente pode ser alcançada sob os cuidados e com a convivência de outros seres humanos. Somos capazes de desenvolver naves espaciais que tocam o Sol e rompem os limites do Sistema Solar, desenvolver remédios e vacinas que aumentam nossa expectativa de vida, atravessar oceanos em imensos navios, mas somente somos capazes de fazer isto graças ao compartilhar do cotidiano com outras pessoas - o que nos traz o desafio da convivência. 

Nós, seres humanos, vivemos juntos não porque queremos, mas porque precisamos. E compartilhar espaços e tempos demandam conversas e acordos, formas mínimas de comportamento que dificultem ou impeçam que o ganho alcançado pelo conviver seja prejudicado, o que afetaria a todos a médio prazo.

A necessidade de negociar os espaços de cada um nos agrupamentos humanos que levou ao desenvolvimento da política.

A Política é essencial ao ser humano, como ser social que somos. Em sua essência, é a capacidade que temos de nos relacionarmos com outros seres. Exercemos a Política quando encontramos alguém na rua, ao conversarmos, ou mesmo quando agimos de forma violenta, pois como disse o general Von Clausewitz, “a guerra é a política exercida por outros meios.”. 

A Política (assim, com “P” maiúsculo) no decorrer do tempo ficou em segundo plano em relação à política (com “p” minúsculo), que se ocupa dos jogos de poder. A política com “p” minúsculo quer dominar e vencer, e por isto se incomoda com o pensar diferente, com ideias florescendo. É um risco que os adeptos da “política” não querem correr, o risco de ter o pensamento que defendem sobrepujado e consequentemente, “vencido”. Esta política só enxerga vencedores e vencidos, bem e mal, eu e outro; tem Ética seletiva, onde o ditado popular “para os amigos, tudo; para os comuns, a lei; para os inimigos, os rigores da lei” é seu melhor resumo. 

Para a “política”, o silêncio e a falta de transparência são seu ambiente, tem na divisão a sua fonte de energia, enquanto a Política tem sua essência na união, no congraçamento, no debate que leva a novos caminhos.

O adequado exercício da Política possibilita que a soma dos integrantes da sociedade seja maior que o todo. Com isto, a potencialidade humana tem todas as condições de florescer.

Deixar que a política se apequene para jogos de poder é a causa da ruína de muitos impérios. Porque quando a Política se torna apenas política, os integrantes do agrupamento humano também se apequenam. E este nanismo traz consigo a redução dos valores que mantém o grupo coeso. O resultado é facilmente previsível.

Alcançamos o Sol e cortamos os mares, mas ainda temos 858 milhões de pessoas subnutridas e mais de vinte e cinco mil pessoas morrem diariamente de fome. Apenas quando reconhecermos a Política e sua importância nas relações humanas e no desenvolvimento da potencialidade dos indivíduos e das sociedades, que poderemos então encontrar objetivos comuns e traçarmos, também em comum, o alcance destes objetivos. E então recuperaremos o devido valor da Cooperação.


Maurício Luz
Maurício Luz escreve a Coluna "Frases em Nosso Tempo", aos sábados para O Guardião da Montanha.

Ele é carioca e ganhou prêmios:

1º Belmiro Siqueira de Administração – em 1996, na categoria monografia, com o tema “O Cliente em Primeiro Lugar”. 

E o 2ºBelmiro Siqueira em 2008, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Desafios e Oportunidades Para a Ciência da Administração”..

Ex-integrante da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho de Administração RJ. 

Com experiência em empresas como SmithKline Beecham (atual Glaxo SmithKline), Lojas Americanas e Petrobras Distribuidora, ocupando cargos de liderança de equipes voltadas ao atendimento ao cliente.

Maurício Luz é empresário, palestrante e Professor. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997). 

Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec (2005). Formação em Liderança por Condor Blanco Internacional (2012). 

Formação em Coach pela IFICCoach (2018). Certificado como Conscious Business Change Agent pelo Conscious Business Innerprise (2019). 

Atualmente em processo de certificação em consultor de Negócios Conscientes por Conscious Business Journey.


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