“Pedido de investigação de Haddad quer que adversário seja considerado inelegível por abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação”
Por Da
Redação
Campanha do PT diz que Jair Bolsonaro se beneficia de fake news (Fernando Frazão/Agência Brasil |
“A
ação movida pela coligação de Fernando
Haddad (PT) para
que o Tribunal
Superior Eleitoral investigue
a campanha de Jair
Bolsonaro (PSL) foi
distribuída na corte e terá como relator o ministro Jorge Mussi,
corregedor-geral eleitoral. O processo está baseado em
uma reportagem
da Folha
de S.Paulo segundo
a qual empresas pagaram, em contratos que chegariam a 12 milhões de
reais, pelo envio em massa de conteúdos contra o petista no
WhatsApp.
A campanha petista pede
que, ao final das investigações, a ação seja julgada procedente
para que Bolsonaro seja considerado inelegível por abuso de poder
econômico e uso indevido dos meios de comunicação. A ação do PT
aponta haver no caso práticas vedadas pela Lei Eleitoral,
como doação de pessoa jurídica e compra de cadastros de
usuários. O partido ainda pede que o WhatsApp apresente em 24 horas,
sob pena de suspensão, medidas para conter o envio das mensagens.
Os advogados do PT também
afirmam que a campanha de Bolsonaro é beneficiada pela proliferação
de fake news (notícias falsas) nas redes sociais. “A
sistematização das fake news, ao que se aponta, parece estar
claramente voltada ao favorecimento dos noticiados, o que faz surgir
a preocupação acerca da autoria e responsabilidade de quem
está produzindo tais materiais. Eis que, não é crível atribuir
apenas à militância orgânica de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão
a capacidade produzir e disseminar com tamanha eficácia todas as
notícias falsas editadas em detrimento da Coligação noticiante.”
Por
meio de uma transmissão em sua página no Facebook, o presidenciável
Jair Bolsonaro negou que sua campanha tenha relação com
notícias falsas disseminadas no WhatsApp e redes sociais contra seu
adversário. “Não tem prova de nada, é a Folha jogando
nesse time do Haddad. Nós não precisamos de fake news para combater
o Haddad, as verdades são mais que suficientes”, afirmou
Bolsonaro.
A defesa de Bolsonaro
junto ao TSE disse que a notícia da Folha é falsa e que irá tomar
todas as medidas judiciais cabíveis para apurar “os atos
ilegais e criminosos perpetrados pela coligação de Haddad”. “A
campanha de Jair Bolsonaro foi acusada falsamente de contratar via
caixa dois serviços de WhatsApp para disseminar fake news em
reportagem de um veículo que, desde o primeiro turno, desvirtua
fatos para tentar persuadir o eleitor. Sem provas e
fundamentação jurídica, ajuizam uma ação de investigação
judicial eleitoral com base, exclusivamente, nessa notícia falsa”,
diz nota dos advogados.
O
pedido de investigação envolve, além da chapa de Bolsonaro e o
WhatsApp, o empresário Luciano Hang e as agências Quickmobile,
Yacows, Croc Services e SMS Market — que, segundo a Folha,
prestaram o serviço. Ao jornal, a QuickMobile afirmou não
atuar na área política. A Yacows e a SMS Market não se
manifestaram. A Croc Services disse ter vendido pacotes de envio em
massa só para as bases do candidato ao governo de MG Romeu Zema
(Novo) — o que é legal.
Luciano
Hang, dono da rede varejista Havan e entusiasta da campanha de
Bolsonaro, negou que tenha pago para impulsionar mensagens
contra o PT e a favor do candidato do PSL. “Eu uso o meu próprio
celular, gravo esses vídeos com mensagens que as pessoas entendem e
compartilham, no WhatsApp e nas redes sociais. Eu não pago para
impulsionar o meu WhatsApp”, afirmou o empresário, em transmissão
ao vivo no Facebook. Ele também disse que processará a Folha.
O
dono da Havan já
foi condenado pela Justiça Eleitoral a
pagar uma multa de 10.000 reais por ter impulsionado conteúdos em
suas redes sociais a favor de Bolsonaro, o que foi considerado doação
irregular de campanha. À época, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
aceitou a alegação do candidato do PSL, de que ele desconhecia o
fato de que Hang recorreu ao procedimento, e o inocentou de
participação na ação ilegal, multando apenas o empresário.
Repercussão
Especialistas ouvidos pela
agência Reuters avaliam que, confirmadas as informações
reveladas pela reportagem, a campanha de Bolsonaro pode ser acusada
de abuso de poder econômico, abuso do uso de meios de comunicação
e omissão de doações de campanha, o que poderia levar à
impugnação da chapa, mesmo que Bolsonaro não soubesse da ação de
empresários a seu favor.
“Se
confirmada, a prática pode configurar abuso de poder econômico,
levando à inelegibilidade nessa própria eleição. A jurisprudência
diz que, mesmo que não tenha sido ele ou a campanha, a candidatura
pode responder pelo ilícito”, disse Daniel Falcão, coordenador do
curso de pós-graduação em Direito Eleitoral do Instituto
Brasiliense de Direito Público.
“A
responsabilização é objetiva. Não está sendo avaliada a conduta
pessoal de Bolsonaro. A responsabilidade do abuso de poder é
objetiva, não importa se a campanha agiu com culpa (sem intenção)
ou dolo (propositalmente). Vai ser avaliado se conduta teve ou não
influência na campanha”, diz Guilherme Salles Gonçalves,
especialista em Direito Eleitoral e membro fundador da Academia
Brasileira de Direito Eleitoral e Político.”
Fonte:
Veja
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