Economista, Paulo Guedes e Jair Bolsonaro (Andre Valentim/VEJA/Reuters) |
Por Blog do Mailson da Nóbrega – Economista, ex- ministro da
fazenda, em 1988
"As despesas obrigatórias da União – pessoal, Previdência, educação, saúde e juros da dívida pública – já superam 100% da arrecadação federal"
“O
presidenciável Jair
Bolsonaro (PSL) mostrou-se
hoje confiante em cumprir a promessa de reduzir a carga tributária.
Para ele, se deixar a carga tributária como está, “temos a
certeza que o Brasil quebra, então temos que arriscar”.
Acrescentou que tem estudado a desoneração de impostos. “A
desoneração tem que atingir de forma positiva todo setor produtivo
brasileiro e não apenas alguns setores”. A questão foi posta na
mesa de Paulo Guedes, seu assessor econômico, que teria
manifestado sua concordância.
Acontece que essa promessa
é inviável, a não ser se levada a efeito por mera
irresponsabilidade fiscal. Isso porque as despesas obrigatórias da
União – pessoal, Previdência, educação, saúde e juros da
dívida pública – já superam 100% da arrecadação federal. Custa
crer que um economista que supostamente detém informações mínimas
sobre a situação fiscal do país possa ter concordado com a
promessa.
A redução da carga
tributária é desejável, mas isso somente seria possível se uma
ampla reforma constitucional eliminasse as vinculações
orçamentárias, pois a reforma da Previdência, mesmo que ousada a
aprovada, não seria capaz de criar espaço para essa medida no
próximo período de governo.
Se
o novo governo optar por tal iniciativa, o efeito será a elevação
substancial do déficit fiscal da União. Ficaria impossível
reverter a situação de déficit primário (que exclui os juros da
dívida), o que aceleraria a relação entre a dívida pública e o
PIB, aumentando os riscos de insolvência do Tesouro. Haveria rápida
deterioração da confiança e da gestão macroeconômica, podendo
resultar em inflação sem controle.
Certamente Bolsonaro
desistirá dessa promessa se, como é provável, vencer as eleições
do segundo turno. Antes mesmo de tomar posse, anunciaria seu
compromisso com a responsabilidade fiscal. Do contrário, o mercado
financeiro mudaria rapidamente o seu otimismo, provocando
desvalorização cambial e aumento dos juros futuros e dos prêmios
de risco. O novo governo assumiria em ambiente de crise de confiança."
Fonte: Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!