Por
Ana Paula Ferreira - Educadora
Lembrando que 8 de março é a luta da mulher trabalhadora por uma sociedade mais justa, resgatemos esse princípio para trazer a tona a luta das feministas que diversas vezes foram às ruas por creche e educação de qualidade para seus filhos ou a luta de milhares de professoras que historicamente deram aos seus alunos o “testemunho de luta, lições de democracia”, como dizia Paulo Freire. Não somos tias de nossos alunos e isso não significa menosprezar a figura da tia, mas sim tratar com profissionalismo nossa profissão, lutando por ela. Tias não fazem greve, professoras sim e, portanto, que nós, mulheres e professoras não deixemos que apaguem nossa história.”
“Estamos no mês de março e não há como esquecer o dia internacional da mulher. A data não surgiu porque as mulheres reivindicavam batons, flores, cartões e mensagens, mas porque lutavam por “Pão e Paz”. Essa greve ocorreu na Rússia czarista, na qual mulheres foram às ruas contra as jornadas extenuantes, os baixíssimos salários e por condições dignas no ambiente fabril. Ao mesmo tempo, gritavam pelo retorno de seus filhos e esposos que estavam nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial, diante de um governo arbitrário num país que sucumbia a fome. Teve tamanha força essa greve do dia 8 de março de 1917 que serviu de estopim para a Revolução Russa.
Porém,
a História ao longo dos anos foi escrita por homens e por
acadêmicos, pessoas letradas e fortemente impactadas pela ideologia
burguesa. Portanto, era comum que a história de mulheres, de
trabalhadores, dos mais pobres, ficasse escondida debaixo dos
escombros e ruínas, enquanto fatos e memória dos vencedores tinham
o holofote das páginas da história da humanidade.
Se
quisermos hoje saber sobre a história das mulheres, precisamos
escavar boas referências e dentre elas, uma que me chama a atenção
é a historiadora Silvia Federici. No seu livro “Calibã e a Bruxa”
a autora nos conta que na transição entre a economia feudal para a
economia de mercado, diversos governos entenderam a importância do
crescimento populacional como forma de conseguir mais consumidor e
mão-de-obra barata. A consequência foi tornar a mulher como mero
útero, escravizando-a no ambiente doméstico e transmitindo um novo
modelo feminino a ser seguido: dócil, submissa, calada, resignada ao
marido. As que não se sujeitavam a isso eram consideradas bruxas e
mortas na fogueira.
Ainda
hoje milhares de mulheres são mortas sob o fogo do feminicídio. Há
também aquelas que são feridas em sua integridade moral e
psicológica diante das palavras de baixo calão das redes sociais,
da humilhação em público, sob a chama de palavrões e
obscenidades. Os machistas tentam incessantemente silenciar as
mulheres, pois essas ainda são concebidas como propriedade do homem,
sendo inadmissível as que vão a público, que confrontam as ideias
dos poderosos, que denunciam um presidente ignóbil, que fazem greve.
Lembrando que 8 de março é a luta da mulher trabalhadora por uma sociedade mais justa, resgatemos esse princípio para trazer a tona a luta das feministas que diversas vezes foram às ruas por creche e educação de qualidade para seus filhos ou a luta de milhares de professoras que historicamente deram aos seus alunos o “testemunho de luta, lições de democracia”, como dizia Paulo Freire. Não somos tias de nossos alunos e isso não significa menosprezar a figura da tia, mas sim tratar com profissionalismo nossa profissão, lutando por ela. Tias não fazem greve, professoras sim e, portanto, que nós, mulheres e professoras não deixemos que apaguem nossa história.”
Ana
Paula Ferreira – Educadora com mestrado em Educação pela Unifal - Universidade Federal de Alfenas - Campus Alfenas.
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