Praias lotadas vamos ver as consequências... foto: REUTERS/RICARDO MORAES |
Brasil bate recordes de mortes em 24 horas - mais de 1,8 mil vítimas de covid-19. Hospitais em Porto Alegre alcançam 100% da ocupação em UTIs. Foto: Diago Vara / Reuters |
Brasil vacinou cerca de 3% da população e ainda negocia vacinas suficientes para atender a todos os habitantes. Em alguns postos de saúde, idosos tiveram que esperar em filas O professor de Saúde Global Peter Baker, da Imperial College London, também afirma que o contato em larga escala de variantes do coronavírus com pessoas vacinadas gera uma "pressão" biológica para que essas variantes evoluam, criando mutações que driblem melhor os anticorpos. "Isso vai acontecer principalmente se você tiver uma situação de epidemia de grande porte num país com sucesso moderado de vacinação. Você alcança assim o equilíbrio perfeito entre pessoas imunes e infectadas. E, quando essas populações se misturam, há risco de surgir uma nova variante resistente às vacinas", disse à BBC News Brasil. Descontrole da epidemia no BrasilO Brasil vivencia exatamente essa confluência entre vacinação em estágio precoce e pico de casos de covid-19. O país superou os Estados Unidos no infeliz recorde de infecções em 24 horas. Dados publicados nesta quinta-feira (24) pela Organização Mundial da Saúde apontam que foram registrados 59,9 mil casos de covid-19 no Brasil no período de 24 horas. Nos EUA, foram 57,8 mil. O número de mortes diárias também não para de subir e bater recordes. Na quarta (3), foram registradas 1,8 mil mortes num dia - o maior número desde o início da pandemia. Em mais da metade dos estados brasileiros, a ocupação de leitos de UTI supera 80%. Brasil têm mais de 260 mil vítimas da covid-19 Diante do colapso dos sistemas de saúde em vários municípios, governadores decretaram lockdown ou medidas de distanciamento social. Apesar do descontrole de infecções, o presidente Jair Bolsonaro declarou mais uma vez ser contra as restrições. "No que depender de mim nunca teremos lockdown. Nunca, uma política que não deu certo em lugar nenhum do mundo", afirmou o presidente. Mas os dados desmentem a fala de Bolsonaro. No Reino Unido, o lockdown em vigor em todo o país desde o início de janeiro reduziu em dois terços as infecção por covid-19. Em Londres a diminuição foi de 80%, segundo pesquisa da Imperial College London. "Do ponto de vista científico, fechar fronteiras e implementar quarentenas em casa são eficazes em diminuir a infecções. E há benefícios em reduzir infecções. Você diminui o risco de surgirem variantes, ganha tempo para a campanha de vacinação avançar e para pesquisas concluírem vacinas adaptadas às variantes existentes hoje", diz o professor Peter Baker. Variante de Manaus pode dominar infecções no país Além disso, especialistas alertam que, sem medidas de controle, a variante de Manaus pode acabar substituindo o vírus original e se tornar prevalente em todo o território nacional. A P.1 já circula em pelo menos 10 Estados brasileiros, além de ser responsável por quase a totalidade das infecções atuais na capital do Amazonas. "Sem medidas de controle, P1 vai rapidamente ser o vírus dominante e gerar ondas epidêmicas significativas", disse à BBC News Brasil Charlie Whittaker, pesquisador da Imperial College London. Em Brasília, pessoas fizeram protestos contra lockdown anunciado no final de fev. Foto: REUTERS/UESLEI MARCELINO Um estudo liderado por Whittaker mostrou que a variante de Manaus é entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que o vírus original. A pesquisa revela ainda que a P.1 é capaz de evadir o sistema imune de infecções prévias em 25% a 61% dos casos. Ou seja, ela pode provocar reinfecções em indivíduos que já haviam sido contaminados pela covid-19.E reinfecções são outro ingrediente importante para mutações perigosas, diz Peter Baker, da Imperial College London. "Quando essas variantes entram em contato com pessoas que já foram infectadas, há uma pressão para que elas mutem mais, encontrem uma maneira de reinfectar pessoas previamente imunizadas", diz. "A combinação de uma epidemia prévia com uma nova grande epidemia, em que pessoas que já teriam imunidade são reinfectadas, gera um ambiente propenso a mutações. Achamos que isso é o que aconteceu no contexto brasileiro." Aparição de variantes no Brasil gera risco ao mundo todo Isso revela que o descontrole da doença num país coloca em risco outras nações. "Se você deixar o Brasil replicar o vírus de maneira descontrolada, essas variantes podem surgir e viajar para qualquer lugar", diz o virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester. "Se você tem um celeiro de produção de vírus num país, se você não controla a transmissão, vai ter mutação ocorrendo por seleção natural, se essas variantes viajam pelo mundo e algumas delas escapam totalmente ou parcialmente às vacinas, é claro que é um risco." Os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que vacinação em massa, combinda com medidas de restrição de contato social, como lockdowns, uso de máscaras e fechamento de comércio são importantes para conter altas taxas de infecções e impedir novas mutações, enquanto a imunização avança. "Ninguém está seguro enquanto todos não estivermos seguros. E garantir que estamos seguros significa limitar a chance de variantes surgirem. Medidas de controle são úteis para alcançar isso, mas talvez mais importante ainda seja garantir uma estratégia global equitativa de vacinação. Isso significa que nenhum país deve ser deixado para trás", defende Charlie Whittaker, da universidade Imperial College London." Fonte: BBC News - Brasil O Ministério da Saúde "alerta" que nas próximas semanas, cerca de três mil vidas perdidas por dia no Brasil. |
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