Procurador da República da Lavajato, Deltan Dallagnol |
Por Mateus Coutinho e Ricardo Brandt
“Procurador
da República que integra a força-tarefa da maior investigação já
realizada contra a corrupção no País, teme que substituto de Teori
Zavascki pode inverter placar sobre prisão de condenados em segunda
instância”
“Em
meio às expectativas sobre a nomeação do substituto de Teori
Zavascki no Supremo Tribunal Federal, o coordenador da força-tarefa
da Lava Jato em Curitiba, o procurador da República Deltan
Dallagnol, disse nesta segunda-feira em seu perfil no Facebook, 6,
que a indicação do novo ministro da Corte terá ‘forte impacto’
na operação.
A
maior preocupação do procurador é a possibilidade de o STF recuar
sobre a prisão de réus após a condenação em segunda instância,
que foi aprovada pela Corte no ano passado por 6 votos a 5, sendo que
Teori estava entre os votos vencedores. “O novo ministro pode
inverter o placar”, disse o procurador.
A
postagem de Dallagnol no Facebook não faz nenhuma referência à
eventual indicação do ministro da Justiça Alexandre de Moraes, ou
de qualquer outro nome, para o STF. O procurador divulgou seu texto
antes que o anúncio da indicação de Moraes fosse divulgado pela
imprensa. A mensagem de Dallagnol é uma reflexão sobre a
importância da Corte para eventuais desdobramentos da
operação.
“No
mundo, os réus são presos após o julgamento na primeira ou segunda
instância. O entendimento do STF nesse tema é vital para a
efetividade do direito e processo penais”, disse Dallagnol. Ele
afirma que, com a prisão após condenação em segunda
instância,”réus de colarinho branco serão presos após cerca de
4 a 6 anos do início do processo, e não depois de década(s)”.
Para
ele, o tema pode afetar diretamente a investigação da Lava Jato,
pois a possibilidade de ser punido pode servir como estímulo para
que os investigados colaborem. “Por que (o réu) vai entregar
crimes, devolver valores e se submeter a uma pena se pode escapar da
Justiça? Por outro lado, quanto mais efetivo o direito e o processo
penal, mais interessante fica a alternativa de defesa por meio da
colaboração premiada”, segue o procurador, lembrando que, com as
delações, as investigações podem avançar sobre outros crimes.
“Em
resumo, a execução provisória é o que pode garantir um mínimo de
efetividade da Justiça Penal contra corruptos, levando-os à prisão
dentro de um prazo mais razoável, e é importante para que a Lava
Jato continue a se expandir, chegando a todo o espectro da
corrupção”, conclui o texto de Dallagnol.
LEIA
A ÍNTEGRA DO TEXTO DIVULGADO POR DELTAN:
“O
novo Ministro do STF e o impacto na Lava Jato
Mesmo
com a redistribuição da Lava Jato no STF para o Ministro Edson
Fachin, a escolha do novo Ministro terá forte impacto na Lava Jato e
nas demais investigações sobre corrupção. Isso especialmente em
razão da orientação do tribunal sobre a execução provisória da
pena. Ano passado, o tribunal entendeu que ela é possível, por 6
votos contra 5. O Ministro Teori estava dentre os vencedores. O novo
Ministro pode inverter o placar. Por que e como isso afeta a Lava
Jato?
O
Brasil é virtualmente o único país em que um processo criminal
passa por 4 instâncias, sem falar dos infindáveis recursos – só
no caso de Luís Estevão, foram mais de 80 recursos, sem contar as
dezenas de habeas corpus. Isso faz com que o fim do processo contra
um colarinho branco demore mais de uma década ou até duas. A
simples demora faz com que a pena deixe de dissuadir novos potenciais
corruptos. Contudo, esse quadro é bem mais grave, porque o caso se
torna um provável candidato à impunidade. De fato, a demora enseja
a prescrição, uma espécie de cancelamento do processo pelo decurso
do tempo. A ideia de que os casos de corrupção em geral acabam em
pizza, presente no imaginário popular, está correta – basta uma
análise dos escândalos pretéritos.
E
onde entra a execução provisória nisso? Bom, a orientação do
tribunal nesse tema decide se o envio do réu à prisão deve
aguardar todos os recursos nas quatro instâncias, ou pode ser feita
após o tribunal de apelação confirmar a condenação. Ou seja, o
que está em questão é se o réu vai para a cadeia após ser
julgado pela segunda instância ou pela quarta. No mundo, os réus
são presos após o julgamento na primeira ou segunda instância. O
entendimento do STF nesse tema é vital para a efetividade do direito
e processo penais. Se prevalecer a possibilidade da execução
provisória, isso significa que réus de colarinho branco serão
presos após cerca de 4 a 6 anos do início do processo, e não
depois de década(s). Se o réu estiver preso, o processo pode ser
mais rápido e demorar apenas cerca de 2 anos até ser julgado pela
segunda instância. A você pode parecer muito tempo ainda, mas,
acredite, é uma imensa evolução quando se toma em conta como hoje
as coisas funcionam.
E o
que isso tem a ver com a Lava Jato? Se a perspectiva é de
impunidade, o réu não tem interesse na colaboração premiada. Por
que vai entregar crimes, devolver valores e se submeter a uma pena se
pode escapar da Justiça? Por outro lado, quanto mais efetivo o
direito e o processo penal, mais interessante fica a alternativa de
defesa por meio da colaboração premiada. A colaboração é um
instrumento permite a expansão das investigações e tem sido o
motor propulsor da Lava Jato. O criminoso investigado por um crime
“A” entrega os crimes B, C, D, E – um alfabeto inteiro –
porque o benefício é proporcional ao valor da colaboração.
Importante ressalvarmos que ela é um ponto de partida, jamais um
ponto de chegada, da investigação, e que acordos objetivam trocar
um peixinho por um peixão ou um peixe por um cardume.
Em
resumo, a execução provisória é o que pode garantir um mínimo de
efetividade da Justiça Penal contra corruptos, levando-os à prisão
dentro de um prazo mais razoável, e é
importante para que a Lava Jato continue a se expandir, chegando a
todo o espectro da corrupção. Assim, a escolha do novo Ministro, a
depender de sua posição nesse tema, continua a ter um imenso
impacto na Lava Jato, ainda que ele não se torne relator da
operação.”
Fonte:
Estadão - SP
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