Rio Tietê em São Paulo |
Por
Vanessa
Barbosa
“Se a Terra é o
planeta d’água, o Brasil é uma de suas potências hídricas. Por
aqui, fluem 12% do total mundial de águas doces. Mas o acesso
privilegiado a esse recurso essencial à vida não se traduz em
melhor cuidado.
No Dia Mundial da Água,
celebrado hoje, um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica sobre a
qualidade da água realizado em todo o país mostra que faltam
motivos para comemorar.
O levantamento, feito em
240 pontos de coleta distribuídos em 184 rios, córregos e lagos de
bacias hidrográficas, revela que apenas 2,5% dos pontos avaliados
possuem qualidade boa, enquanto 70% estão em situação regular e
27,5% com qualidade ruim ou péssima.
Na ponta do lápis, 66
pontos monitorados estão impróprios para o abastecimento humano,
lazer, pesca, produção de alimentos, e sequer têm condições de
abrigar vida aquática. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado
como ótimo.
Os piores cenários
foram, em sua maioria, detectados em corpos hídricos que atravessam
áreas urbanas densamente povoadas, como regiões metropolitanas e
grandes cidades do interior. Não é preciso ir muito longe para
entender que esses dados são o reflexo da inoperância do poder
público.
“A principal causa da
poluição dos rios monitorados é o despejo de esgoto doméstico
junto a outras fontes difusas de contaminação, que incluem a gestão
inadequada dos resíduos sólidos, o uso de defensivos e insumos
agrícolas, o desmatamento e o uso desordenado do solo”, afirma
Malu Ribeiro, coordenadora de Recursos Hídricos da Fundação SOS
Mata Atlântica.
Segundo a especialista, a
indisponibilidade de água decorrente dos maus usos dos recursos
hídricos é intensificada pela fragilização da legislação
ambiental. “É fundamental aperfeiçoar a legislação que trata do
enquadramento dos rios, de forma a excluir os de Classe 4 da norma
nacional. Essa classe, extremamente permissiva em relação a
poluentes, mantém muitos em condição de qualidade péssima ou
ruim, indisponíveis para usos”.
O levantamento foi
realizado, entre março de 2016 e fevereiro de 2017, em 73 municípios
de 11 estados da Mata Atlântica – Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito
Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro,
Santa Catarina e São Paulo – além do Distrito Federal, com base
nas coletas e análises mensais realizadas por 194 grupos de
voluntários do programa “Observando os Rios”, por meio do qual a
ONG capacita a população para o monitoramento da qualidade da água.
Perda de qualidade
O estudo comparou os
resultados do monitoramento de 152 pontos fixos de coletas,
distribuídos por cinco estados – Alagoas, Paraíba, Pernambuco,
Rio de Janeiro e São Paulo –, além do Distrito Federal. Para as
análises, foram consideradas as médias dos indicadores mensais do
Ciclo 2016 (de março de 2015 a fevereiro de 2016) e do Ciclo 2017
(de março de 2016 a fevereiro de 2017).
Ao longo desse período,
houve diminuição de pontos com qualidade ruim, passando de 54
(35,5%) para 48 (31,6%), mas um aumento de locais com água péssima,
de 1 (0,7%) para 3 (2%). O estudo também destaca um aumento na
qualidade regular, passando de 94 (61,8%) para 97 (63,8%), e nos
pontos com qualidade boa, de 3 (2%) para 4 (2,6%).
Segundo Malu Ribeiro,
“essa leve tendência de melhora está associada a fatores
climáticos, já que o aumento no volume e na vazão dos rios na
região Sudeste no último ano contribuiu para a diluição de
poluentes”. Porém, houve perda de qualidade em 15 pontos, sendo 13
localizados em capitais, resultado dos baixos índices de coleta e
tratamento de esgoto.”
Fonte: exame
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