“Empresário declarou à Procuradoria-Geral da República que 'os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram formados pelos ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do esquema-gêmeo, que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef'”
Lula e Dilma em março do ano passado, na cerimônia de posse de novos ministros da petista. FOTO: ANDRE DUSEK/ESTADÃO |
Por Julia Affonso, Ricardo Brandt, Luiz Vassallo, Jamil Chade, Natalia Oliveira, Fabio Serapião, Fabio Fabrini e Beatriz Bulla
"O
termo de colaboração 1 do empresário Joesley Batista, do Grupo
JBS, descreve o fluxo de duas ‘contas-correntes’ de propina no
exterior, cujos beneficiários seriam os ex-presidentes Luiz Inácio
Lula da Silva e Dilma Rousseff. O empresário informou à
Procuradoria-Geral da República que o saldo das duas contas bateu em
US$ 150 milhões em 2014. Ele disse que o ex-ministro Guido Mantega
(Fazenda/Governos Lula e Dilma) operava as contas.
A
reportagem do Estadão confirmou com procuradores próximos ao caso
que a conta estava em nome de empresas offshores em banco na Suíça.
A utilização de offshores caracteriza, para os investigadores,
tentativa de camuflagem dos reais beneficiários da conta.
Procurado,
o Ministério Público da Suíça se recusou a comentar e afirmou que
não daria informações sobre ‘pessoas investigadas ou não’
pela Procuradoria.
As
duas contas foram ‘zeradas’ em 2014. Segundo Joesley Batista, o
dinheiro foi utilizado para financiar campanhas políticas de
partidos e candidatos elencados pelo ex-ministro Guido Mantega.
Segundo o empresário, ele foi ‘explícito’ em uma reunião com
Dilma sobre a existência desse dinheiro. De acordo com sua delação
premiada, os gastos eram tratados em reuniões entre Guido Mantega e
Batista.
“Foi
até zerar, até acabar. Acabou a da Dilma e acabou a do Lula. Eu
avisei quando acabou.”
O
empresário não soube dizer se os partidos que se beneficiavam dos
recursos usavam o dinheiro ‘em caixa 1, em caixa 2, por dentro ou
por fora’. Segundo ele, quem cuidava dessa relação de pagamentos
era Edinho Silva na época, o tesoureiro da campanha.
O
delator informou que em 2009 destinou uma conta a Lula e no ano
seguinte, outra para Dilma.
Joesley
revelou que em dezembro de 2009, o BNDES adquiriu de debêntures
da JBS, convertidas em ações, no valor de US$ 2 bilhões, ‘para
apoio do plano de expansão’ naquele ano.
“O
depoente escriturou em favor de Guido Mantega, por conta desse
negócio, crédito de US$ 50 milhões e abriu conta no exterior, em
nome de offshore que controlava, na qual depositou o valor”,
relatou Joesley.
Segundo
o empresário, em reunião com Mantega, no final de 2010, o
petista pediu a ele ‘que abrisse uma nova conta, que se
destinaria a Dilma.
“O
depoente perguntou se a conta já existente não seria suficiente
para os depósitos dos valores a serem provisionados, ao que
Guido respondeu que esta era de Lula, fato que só então passou a
ser do conhecimento do depoente”, contou o empresário.
“O
depoente indagou se Lula e Dilma sabiam do esquema, e Guido confirmou
que sim.”
Joesley
declarou que foi feito um financiamento de R$
2 bilhões, em maio de 2011, para a construção
da planta de celulose da Eldorado. O delator disse que Mantega
‘interveio junto a Luciano Coutinho (então presidente do BNDES)
para que o negócio saísse’.
“A
operação foi realizada após cumpridas as exigências legais”,
afirmou Joesley. “Sempre percebeu que os pagamentos de propina não
se destinavam a garantir a realização de operações ilegais, mas
sim de evitar que se criassem dificuldades injustificadas para a
realização de operações legais.”
O
empresário declarou que depositou, ‘a pedido de Mantega’,
por conta desse negócio, crédito de US$ 30 milhões em nova
conta no exterior,
“O
depoente, nesse momento, já sabia que esse valor se destinava a
Dilma; que os saldos das contas vinculadas a Lula e Dilma eram
formados pelos ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES e do
esquema-gêmeo, que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef;
que esses saldos somavam, em 2014, cerca de US$ 150 milhões.”
Segundo
Joesley, a partir de julho de 2014, Mantega ‘passou a chamar o
depoente quase semanalmente ao Ministério da Fazenda, em Brasília,
ou na sede do Banco do Brasil em São Paulo, para reuniões a
que só estavam presentes os dois, nas quais lhe apresentou múltiplas
listas de políticos e partidos políticos que deveriam receber
doações de campanha a partir dos saldos das contas’.
Neste
trecho de seu depoimento, Joesley cita o partido do Governo Michel
Temer. O empresário destacou que o executivo Ricardo Saud, diretor
de Relações Institucionais da J&F (controladora da JBS), fazia
o contato com partidos e políticos.
“A
primeira lista foi apresentada em 4 de julho de 2014 por Guido ao
depoente, no gabinete do Ministro da Fazenda no 15º andar da
sede do Banco do Brasil em São Paulo, e se destinava a pagamentos
para políticos do PMDB; que a interlocução com políticos
e partidos políticos para organizar a distribuição de
dinheiro coube a Ricardo Saud, Diretor de Relações Institucionais
da J&F, exceção feita a duas ocasiões”, relatou.
Joesley
disse que em outubro de 2014 no Instituto Lula, encontrou-se com
Lula e relatou ao petista que as doações oficiais da JBS já tinham
ultrapassado R$
300 milhões.
“Indagou
se ele (Lula) percebia o risco de exposição que isso atraía, com
base na premissa implícita de que não havia plataforma
ideológica que explicasse tamanho montante; que o
ex-presidente olhou nos olhos do depoente, mas nada disse”, contou.
Em
outra ocasião, em novembro de 2014, Joesley disse que ‘depois
de receber solicitações insistentes para o pagamento de R$
30 milhões para Fernando Pimentel, governador
eleito de Minas Gerais, veiculadas por Edinho Silva (tesoureiro da
campanha de Dilma em 2014), e de receber de Guido Mantega a
informação de que “isso é com ela”, solicitou audiência
com Dilma’.
“Dilma
recebeu o depoente no Palácio do Planalto; que o depoente
relatou, então, que o governador eleito de MG, Fernando Pimentel,
estava solicitando, por intermédio de Edinho Silva, R$
30 milhões,
mas que, atendida essa solicitação, o saldo das duas contas se
esgotaria; que Dilma confirmou a necessidade e pediu que o
depoente procurasse Pimentel”, narrou aos investigadores.
Joesley
afirma que, no mesmo dia, encontrou-se com Pimentel no Aeroporto da
Pampulha, em Belo Horizonte, e disse ao petista ‘que havia
conversado com Dilma e que ela havia indicado que os 30
milhões deveriam ser pagos’.
“Pimentel
orientou o depoente a fazer o pagamento por meio da compra de
participação de 3% na empresa que detém a concessão do Estádio
Mineirão; que afora essas duas ocasiões, Edinho Silva, então
tesoureiro da campanha do PT, encontrava-se, no período da
campanha de 2014, semanalmente com Ricardo Saud e apresentava as
demandas de distribuição de dinheiro; que Ricardo Saud
submetia essas demandas ao depoente, que, depois de verificá-las com
Guido Mantega, autorizava o que efetivamente estivesse ajustado com o
então ministro da Fazenda.”
Fonte:
O Estado de S.Paulo
Uma pergunta que não pode se calar: onde a JBS arruma tanto dinheiro para as contribuições para a campanha dos presidenciáveis e seus comparsas? Se avaliarmos, são tantos milhões, dá onde vem tanto dinheiro?
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