Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, infectologista do Hospital Emílio Ribas |
"Neste ano, o H1N1 chegou mais cedo ao Brasil, castigando especialmente São Paulo. Tido como um mal do frio, até o fim do verão de 2016 ele já havia matado no País 28% a mais do que em todo o ano passado. Entre os paulistas a situação foi pior: quase três vezes mais fatalidades e 700% mais casos no mesmo período. Desta vez, a gripe veio antes provavelmente por dois motivos. Primeiro, porque pessoas contaminadas no hemisfério norte (onde é inverno) trouxeram a infecção, que se alastrou. Segundo, porque o número de vacinações em 2015 ficou abaixo do esperado, resultando em mais pessoas suscetíveis à doença.
Mas pesquisadores conjecturam que até o
fenômeno climático El Niño possa ter alguma culpa nessa história.
“É uma surpresa enorme quando uma doença comum na época de frio
começa tão precocemente”, diz o infectologista Marcos Boulos,
professor da Universidade de São Paulo e coordenador de Controle de
Doenças do estado.
O
que mais tem preocupado é o grande número de mortes decorrentes do
H1N1 este ano. Elas estão diretamente relacionadas ao aumento de
casos, mas há outros fatores. A gripe é perigosa quando causa nos
pacientes insuficiências respiratórias graves, que podem ser
fatais. Normalmente, as maiores vítimas são idosos, diabéticos e
cardiopatas. Ainda que esses grupos continuem sob risco, cerca de 50%
das mortes em 2016 se deu entre adultos na faixa etária de 40 a 60
anos, parcela que normalmente está mais isenta e não é alvo
costumeiro das campanhas de vacinação.
“O H1N1 parece ser mais
agressivo do que outros subtipos virais, com maiores possibilidades
de provocar infecções graves” afirma o infectologista Francisco
Ivanildo de Oliveira Júnior, supervisor médico do ambulatório do
Hospital Emílio Ribas, de São Paulo.
O
H1N1 também é um vírus democrático, que faz vítimas em todas as
classes sociais. Além de Tom Cavalcante, outro famoso infectado foi
o apresentador Marcelo Rezende, da Record, que escreveu numa rede
social que “a dor no corpo é como se você brigasse com o Mike
Tyson no dia em que ele está zangado”.
O apresentador está
recebendo medicamentos e ficará em recuperação num hospital de
ponta por pelo menos uma semana, mas a maioria dos doentes enfrenta
muito mais dificuldades. Com aumento de 50% de procura devido ao
surto gripal, o Hospital Municipal São Luiz Gonzaga, na zona norte
da capital paulista, foi alvo de uma confusão generalizada entre
pacientes e médicos na noite da terça-feira 29. Os funcionários
até construíram uma barreira de cadeiras na entrada do
pronto-socorro pediátrico para evitar a entrada de pais
desesperados, que esperavam até dez horas pela consulta. Ali, a mãe
de uma criança doente só teve o filho atendido após chamar a
Polícia Militar. Em várias outras unidades de saúde pública de
São Paulo, principalmente na periferia, faltam médicos."
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