quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Reportagem: 25º Grito dos Excluídos em Poços de Caldas, MG


Por Ana Lúcia Dias

No dia 7 de setembro é o Dia da Independência no Brasil há 197 anos.

E o "Grito dos Excluídos e Excluídas surgiu em 1994, com o primeiro Grito sendo realizado em setembro de 1995, portanto há 25 anos com a organização  e promoção da CNBB – Conferência Nacional do Bispos do Brasil –  O Grito dos Excluídos e Excluídas nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado. 

Os direitos à saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna ficam comprometidos e aumenta a desigualdade social no país. 

Grito é um processo que não começa e nem termina no dia 7 de Setembro.

Ele é um espaço de articulação permanente para que movimentos sociais organizados se manifestem e cobrem direitos já assegurados em nossa Constituição Federal."

Em Poços de Caldas, este ano,  o Grito dos Excluídos (as) foi representado pelo “Coletivo Mulheres Pela Democracia” – Logo cedo, as meninas do batuque – começaram a ensaiar em Frente do Museu Histórico e Geográfico de Poços de Caldas. Ensaio das mulheres pela democracia em frente ao museu histórico
Ensaio do Coletivo Mulheres pela Democracia, de Poços de Caldas
Para depois encontrar as outras pessoas que também querem a democracia no país, no local combinado, ou seja, na Praça da Fonte Luminosa. 

Após o ensaio, chegando no local combinado tinha um número considerável de pessoas, entre elas, uma surpresa, o frei Gilvander, que veio da capital, Belo Horizonte, especialmente para participar do Grito dos Excluídos em Poços, ele veio acompanhado da historiadora e Dra. em Arqueologia, Alenice Baeta, do CEDEFES – Centro de documentação Eloy Ferreira da Silva, em Belo Horizonte, que registrou a passagem do frei Gilvander por Poços de Caldas.


Irmã Dulce e frei Gilvander
E para abençoar ainda mais a manifestação pacífica também veio a Irma Dulce, que está morando em Poços de Caldas há 4 anos, aos 75 anos, depois de muitos anos de luta, como  missionária, inclusive na Nicarágua. 








Estava tudo preparado, as mulheres do Coletivo, tiveram autorização para entrar no desfile logo atrás da Escola Municipal José Avelino de Melo.  E para isso, ficaram esperando em uma travessa como ficou estabelecido pela organização do evento. 



Escola Municipal José
 Avelino de Melo 
Só que nesse meio tempo, enquanto se cumpria o que foi estabelecido pela organização do evento, a Banda municipal também
Banda Municipal

entrou na frente, logo atrás da Escola Municipal "José Avelino de Melo" quando chegaram na avenida onde estava acontecendo o  desfile houve mudanças nos planos  por parte da organização do evento.

O "Coletivo Mulheres Pela Democracia", que representa O Grito dos Excluídos,  além de ter de ir atrás dos cavalos, ainda seriam os últimas a passar pela avenida. E ainda, foram impedidas de tocar os batuques, ensaiados por elas horas antes, para não assustar os cavalos, que são treinados e doces, de acordo com a guarda municipal, que ainda fez uma barreira, impedindo o "Coletivo de Mulheres Pela Democracia", chegasse a tempo antes do término do desfile que geralmente ocorre depois dos cavalos. 

Imperador e seu treinador
Jubileu e seu treinador e Donzela e sua
treinadora



Como os cavalos são treinados é difícil que se assustem com o barulho.
Frei Gilvander e a Leonilda representante da CEB- Comuidade Eclesial de Base de Poços de Caldas
  
Nem o frei Gilvander conseguiu dizendo  à guarda municipal, em nome da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – que isso não era democrático, e que o Grito dos Excluídos estava acontecendo em todo o Brasil, pois o "Coletivo de Mulheres Pela Democracia", estava manifestando-se em favor de todos os cidadãos e cidadãs que querem a mesma coisa, ou seja, Educação, os Direitos Humanos, a igualdade de gênero (mulheres, homens e LGBTs), contra racismo, pela preservação da Amazônia e dos indígenas e que Carta Magna do País de 1988, seja respeitada e que continuemos a ser um país com  democracia. Por mais difícil que seja, ainda é o melhor sistema de governo que existe. Onde pode haver liberdade de expressão, sem censura à imprensa e às manifestações pacíficas e públicas, como foi o caso do "Coletivo Mulheres Pela Democracia". Perguntamos à Guarda Municipal o motivo de tamanha rigidez com o 25º Grito dos Excluídos? A resposta foi: “estamos cumprindo ordens superiores”. Frei Gilvander indignado com a Guarda Municipal de Poços de Caldas

Mas mesmo assim, depois dos cavalos, tendo de desviar das fezes dos mesmos, mesmo assim elas não desistiram. E foram à luta.

Estranho a TV Poços, que também estava lá, registrando tudo e não  tenha colocado em seu vídeo do 7 de setembro, a manifestação do "Coletivo Mulheres Pela Democracia", por que será? Será que foi para cumprir ordens superiores também? 
O 25º Grito dos Excluídos na avenida, apesar de tudo

Guarda municipal andava lentamente




Frei Gilvander e a Leonilda, da CEBs - Comunidade Eclesial de base de Poços de Caldas, MG




Como pode ser visto, a guarda municipal , cumprindo ordens, impediu uma manifestação democrática.   


As pessoas estão cada vez mais preocupadas com o país.

Com a ideia do presidente Bolsonaro em transformar o Brasil em uma colônia dos EUA. 


Como pode ser observado cada um com um propósito nesse Grito dos Excluídos.

"Paz, sem voz não é paz é medo Reaja"


"De tanto poupar em Educação ficaremos ricos em ignorância"


Era mesmo para impedir que "As Mulheres Pela Democracia" mostrassem a indignação geral ao resto da avenida






Essa nota de repúdio é em função do poder público ter ordenado a guarda municipal impedir uma manifestação democrática e pacífica.  

7 de setembro: Grito do Ipiranga e dos Excluídos
Por Ana Paula  Ferreira

Hoje, dia 7 de setembro de 2019, houve Grito dos Excluídos na cidade de Poços de Caldas no desfile que homenageia a independência do Brasil. Independência que adveio de 1822, sem participação popular, no qual uma elite tupiniquim orquestrou para que o Brasil deixasse de ser colônia de Portugal. Ironicamente, quem assumiu o trono da monarquia brasileira é justamente o filho do rei português que saqueou nossas reservas minerais, vegetais e nossa força de trabalho.
Comemora-se uma frágil independência política seguida por uma dependência financeira astronômica. Isso porque, para que a emancipação do Brasil enquanto nação fosse aceita negociou-se o pagamento de uma indenização a Portugal. Sem recursos financeiros para tamanho empreendimento, a Inglaterra paga a dívida e durante anos o Brasil se rende ao poderio britânico num endividamento brutal.
Quando D. Pedro assumiu, mantivemos nossa subordinação aos mandos de uma economia exterior e dentro do território nacional a falta de liberdade do povo era estampada com a existência da escravidão, com a ausência da liberdade de imprensa e numa política que apenas homens ricos poderiam votar.
É nesse contexto que nos inserimos há 197 anos após o Grito do Ipiranga. Ocupamos o lugar de segundo país subdesenvolvido com maior dívida externa; a mulher, embora possa votar, ainda tem baixíssima representação no Congresso comparada a outros; os negros, não são mais escravizados, mas exercem trabalhos mais desqualificados, sendo que um a cada dois negros está no mercado informal; a mídia no seu discurso oficial diz-se “livre e sem censura”, mas obedece aos mandos dos donos do capital.
Portanto, se não há razão para comemorar uma independência que não se traduziu em soberania nacional nem em justiça social para o povo, há razões de sobra para um Grito dos Excluídos. Se há no dia 7 de setembro um discurso normativo dos que ocupam o poder, que usam de protocolos, policiamento e de regras para sua manutenção, há também o discurso marginal, dos oprimidos sociais e políticos, que se fazem ouvir pelo som ensurdecedor de suas latas e seus gritos de não satisfação.
Em Poços de Caldas, os excluídos conseguiram soltar sua voz sob a organização do grupo “Mulheres pela Democracia” com a participação de homens, mulheres, crianças e adultos, de todas as cores e bandeiras na defesa de um país que respeite o trabalhador, o estudante e o meio ambiente; um país que a cor da pele não seja motivo para genocídio, nem o gênero seja razão para violência; em defesa de um país que não seja refém das normativas do Tio Sam, nem que tenha como projeto de governo o desmonte de estatais que são tão caras para a soberania de um país. Gritamos contra os cortes na pasta da Educação; contra a destruição do programa Mais Médico, contra os incêndios na Amazônia, gritamos contra a justiça parcial que não prende nem Queiroz, nem Aécio, nem milicianos que mataram Marielle...
Mas o movimento social não foi respeitado em suas vozes. Houve tentativa de ser calado pelos capatazes do sistema capitalista, que sempre alegam “estar exercendo suas funções”. A manifestação foi barrada várias vezes e só foi autorizada a sair atrás dos cavalos.
O cavalo que fechava esse último bloco se apresentou com a bandeira do Brasil, disciplinado, seguindo os comandos de uma pátria que tem lema “ordem e progresso”. Ordem de seguir marchando sem pensar, sem ter a condição humana do discernimento, apenas cumprindo ordens de superiores, não se preocupando com a segurança de pessoas que estão atrás de si, não se preocupando com as demandas levantadas por elas e nem imaginando que as pautas envolvem também sua existência. Segue apenas o instinto próprio de animal: se houver barulho, vai dar coice, se alguém passar na frente, pode avançar para cima das pessoas com seu irracionalismo de seguir o que está no roteiro. Esse cavalo, sem condição de reflexão sobre sua condição de explorado, manterá a ordem e o progresso, na visão de apenas seguir adiante aquilo que foi traçado por outros, seguindo um script de enaltecimento de um país no qual quem tem vez são os bancários que enriquecerão mais ainda com o crescimento da previdência privada; os empresários, com a aprovação de leis que flexibilizaram a segurança no trabalho e os latifundiários que destroem a floresta amazônica com vistas a pastos e lucros a curto espaço de tempo.
Mas o cavalo sente-se bem em servir a pátria branca, masculina e rica. Mostra-se dócil e cativo para com seus senhores que lhe exploram e age truculento para com aqueles que lhe fazem lembrar da sua condição social. Ao cavalo cabe seguir o Grito do Ipiranga. Enquanto isso acontece, o Grito dos Excluídos é cantado mais alto “somos mulheres, a resistência, de um Brasil sem fascismo e sem horror, vamos à luta, pra derrotar o ódio e pregar o amor”."
Autoria do texto: Ana Paula Ferreira é Supervisora escolar e militante do Coletivo “Mulheres pela Democracia”          

2 comentários:

  1. Guardião da Montanha fazendo o papel que se espera das mídias, informando sem manipulação. Parabéns! Cobertura ímpar do Grito dos excluídos!

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  2. Agradecemos a visita. E estamos aqui para informar com Ética os acontecimentos realmente como ocorrem. Conte sempre com O Guardião da Montanha.

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