Moscou viveu semanas de intensos protestos contra o impedimento de candidatos da oposição de disputarem eleição |
Por
DW
“Após
veto a candidatos oposicionistas e violenta repressão em semanas de
protestos, Moscou vai às urnas para eleições municipais. Apesar de
pouca esperança de vitória para a oposição, ressentimento com
governo só cresce.”
“Por
toda a cidade de Moscou, cartazes com políticos sorridentes
tentam convencer os moradores de que o candidato na foto é a escolha
certa para governar a capital russa. Panfletos são distribuídos
para explicar os motivos dessa escolha aos potencias eleitores.
É
um fim relativamente silencioso de uma das campanhas eleitorais
mais controversas da história recente da Rússia. Em agosto,
estima-se que 50 mil manifestantes saíram às ruas contra a
decisão da cidade de impedir que dezenas de candidatos da oposição
participassem da eleição municipal que ocorre neste domingo
(08/09).
A
frustração foi levada a um ponto febril quando membros linha-dura
do governo, apoiados pela tropa de choque da polícia, reprimiram
violentamente os protestos, em grande parte não autorizados,
ferindo vários manifestantes e prendendo milhares.
Em
um ano comum, as eleições municipais em Moscou dificilmente
chamariam a atenção para além do perímetro da capital russa. Mas
2019 não é um ano comum.
Após
desfrutar por anos de um regime praticamente sem oposição graças
ao domínio do presidente Vladimir Putin sobre a vida civil, o
partido governista Rússia Unida agora tem encontrado
resistência.
O
apoio popular ao partido está diminuindo, num momento em que as
preocupações com a economia estagnada e a queda nos padrões
de vida desempenham um papel cada vez maior no debate público.
A impopular
reforma da Previdência no ano passado ajudou a fazer com que o apoio
da população à legenda de Putin caísse a taxas mínimas
históricas e abriu caminho para uma série sem precedentes de
protestos, cujos temas vão da coleta de lixo a preocupações
com a liberdade de imprensa.
O
capital político do partido governista está tão baixo que os
candidatos da sigla no pleito de domingo em Moscou estão
concorrendo como independentes por temer que a ligação com a
legenda possa minar suas chances.
Com
o desmoronamento da marca Rússia Unida, a oposição
fragmentada tem agora a rara oportunidade de fazer uso dessa
crescente frustração popular com o sistema político do país.
Quando
o comitê eleitoral de Moscou se recusou a registrar a maioria dos
candidatos apoiados pela oposição com o argumento de que seus
pedidos de candidatura continham milhares de assinaturas de apoio
supostamente falsas ou inválidas, os oposicionistas rapidamente
denunciaram a violação e mobilizaram seus simpatizantes.
Isso
resultou em semanas de intensas manifestações na capital russa. As
imagens de policiais espancando manifestantes pacíficos serviram
para alimentar ainda mais o descontentamento da população,
afirma o consultor político russo Abbas Gallyamov.
"As
ações duras das forças de segurança impulsionam o protesto e
garantem uma alta participação [eleitoral]", diz ele. "A
recusa em registrar candidatos da oposição já nem está mais na
agenda. O principal fluxo de notícias negativas é fornecido agora
pelos oficiais de segurança. São eles que dão emoção aos
protestos."
Alexei
Navalny, talvez o mais proeminente líder oposicionista da
Rússia, espera capitalizar com o descontentamento. Em seu
popular canal no YouTube, ele tem pedido aos eleitores que votem
no candidato com as melhores chances de derrotar um candidato apoiado
pelo Rússia Unida nas eleições municipais.
Se
for bem-sucedida, a estratégia do "voto útil" de Navalny
poderá se tornar um modelo para futuras eleições, tanto em nível
local quanto nacional, como parte de um impulso para a oposição
conquistar posições dentro do governo.
Analistas
em Moscou afirmam que a incapacidade do governo de adotar uma
política coerente para lidar com a crescente oposição e pressão
pública mostra que os atuais líderes podem ter demorado demais para
se adaptar a uma sociedade em mudança.
"A
atual 'explosão' em conexão com a campanha eleitoral para a
Mosgorduma [parlamento municipal de Moscou] é um exemplo clássico",
diz a editora e historiadora cultural Irina Prokhorova, em
entrevista à DW. "As pessoas no poder falharam em entender que
os tempos estão mudando."”
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Fonte:
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