Alfredo
Sirkis, diretor executivo do Centro Brasil no Clima (Pedro
França/Agência Senado)
Por Marina Filippe - Exame.com
São
Paulo — “O Brasil tem a meta de zerar o desmatamento ilegal até
2030. Como atingir um resultado eficiente, porém, é uma pergunta
que causa inúmeros debates e, nesta terça, 03, foi tema de um
painel na Conferência Ethos 360º.
Nos
últimos 30 anos, o país perdeu 71 milhões de hectares de vegetação
nativa – área maior que a ocupada pela Amazônia – em
decorrência de desmatamento e queimadas, entre outros
fatores, apontam dados do MapBiomas.
Com
pouco menos de 10 anos para a mudança desse cenário há
agravamentos políticos, econômicos e sociais. E, para reverter o
desmatamento, é preciso ação decidida do governo federal, mas há
empecilhos: “Jair Bolsonaro acha que os ambientalistas são
comunistas. Quando ele proíbe o Ibama de inutilizar uma motosserra a
fiscalização e o fim do desmatamento se tornam extremamente
difíceis”, afirma Alfredo Sirkis, diretor executivo do Centro
Brasil no Clima.
Outra
barreira está no afastamento do Ministério do Meio Ambiente do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para Claudio
Almeida, coordenador do Programa Amazônia do Inpe, o estado
brasileiro não pode enfraquecer o suporte à fiscalização do
desmatamento ilegal; e não pode atuar com viés político no
monitoramento. “Se for perdida a capacidade de fiscalizar será
permitido que mais instituições atuem ilegalmente”, diz.
Apesar
das dificuldades, há saídas. Uma forma de reduzir o desmatamento
ilegal é capacitar e remunerar as comunidades locais amazônicas.
“Em vez de ter uma serraria, uma família pode ter um trabalho
remunerado de orientação à comunidade local”, diz Sirkis. Seria
possível pagar à comunidade pelos perímetros preservados e,
posteriormente, pensar em outros geradores de renda menos
emergenciais.
A
geração de crédito para a agricultura familiar local é também um
fator determinante. Grande parte da agricultura brasileira é
familiar e pode atuar no modelo de baixo carbono, mas precisa de
subsídios.”No estado do Amazonas a meta do Banco do Brasil está
na soja e no gado, o que não faz sentido para aquele local”, diz
Victor Salviati, coordenador de projetos especiais da Fundação
Amazonas Sustentável.
A
divisão fundiária da Amazônia faz com que 50 milhões hectares
(equivalentes a 50 milhões de campos de futebol) sejam considerados
áreas não-destinadas, ou seja, sem proprietário determinado.
Muitas dessas áreas não estão desmatadas por questões logísticas,
mas isso é uma questão de tempo. “Nesse ambiente lideranças
indígenas ficam destabilizadas e precisam lutar não só contra
madeireiros ilegais, como contra membros das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc). Assim, o desmatamento se torna
também uma questão de segurança nacional”, afirma Salviati.
Nesse
cenário complexo, o coordenador do Programa Amazônia do Inpe,
Claudio Almeida, convida a sociedade civil para acompanhar os dados
produzidos pelo órgão a fim de gerar maior transparência e
disseminação de informações em prol de uma meta comum: salvar a
floresta.”
Fonte:
exame.com
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