TSE em sessão plenária em setembro de 2016; corte analisa pela primeira vez pedido de cassação de chapa presidencial
|
Por
Mariana Schreiber - @marischreiberDa
BBC Brasil em Brasília
O
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma hoje, terça-feira, às 19h
o mais importante julgamento de sua história - é a primeira vez que
a corte analisa um pedido de cassação contra um presidente da
República.
“Embora
não tenha relação com esse caso, a delação da JBS deixou o
presidente Michel Temer fragilizado, aumentando as chances de que ele
seja cassado.
“O
processo é resultado da unificação de quatro ações movidas pelo
PSDB contra a eleição da chapa presidencial formada por Dilma
Rousseff e seu vice, Temer. Os tucanos acusam a campanha vencedora de
ilegalidades e pedem a anulação do pleito de 2014.
Apesar
da grande expectativa em torno do julgamento, é possível que seu
desfecho seja adiado novamente, caso algum recurso da defesa seja
atendido ou um dos ministros peça vista para analisar melhor o
processo. Confira abaixo o que esperar dos próximos dias.
1) Leitura do relatório
O
julgamento tende a ser longo e pode se arrastar por toda a semana. Há
quatro sessões marcada para tratar exclusivamente desse processo:
três estão previstas para as 19h de terça, quarta e quinta; no
último dia haverá também uma sessão pela manhã (9h).
Normalmente,
a primeira etapa é a leitura de um resumo do caso pelo relator do
processo, ministro Herman Benjamin. O processo inteiro soma 8.563
folhas, enquanto o relatório final, encaminhado em sigilo aos demais
seis ministros da corte, tem pouco mais de 1.200 páginas. A
expectativa, porém, é de que Benjamin leia uma versão resumida.
Herman Benjamin é o relator do processo que pede a cassação da chapa eleita em 2014 |
Nesse
momento, o público saberá quais provas teriam sido levantadas ao
longo da investigação conduzida pelo relator, como teor de
depoimentos, documentos apresentados pelas testemunhas e resultado de
perícias em gráficas contratadas pela campanha de Dilma e Temer.
No
entanto, quando o julgamento foi iniciado em abril, antes da leitura
do relatório o plenário analisou questões preliminares levantadas
pela defesa sobre o andamento formal do processo, o que acabou
provocando a reabertura da fase de investigação para que fossem
ouvidas novas testemunhas e dado novo prazo à argumentação final
dos advogados.
Nesta
terça, a defesa apresentará novas questões preliminares (entenda
mais abaixo), que poderão ser analisadas no início da sessão, ou
após a leitura do relatório e da manifestação das partes.
2) O que se espera do relatório
Quanto
ao conteúdo do relatório, ele deve dar destaque a algumas acusações
consideradas mais graves. Diversos delatores da operação Lava Jato
foram ouvidos no processo, entre eles ex-executivos do grupo
Odebrecht e o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura.
Segundo esses relatos, os publicitários teriam recebido pagamentos
ilegais da empreiteira no exterior para cobrir despesas da campanha
presidencial, com consentimento de Dilma.
Nicolao Dino (ao centro) será o representante do Ministério Público no julgamento |
Marcelo
Odebrecht, dono do grupo, disse também que a empreiteira pagou
propina de R$ 50 milhões - essa doação, não registrada
oficialmente (caixa 2), teria sido repassada em contrapartida à
aprovação de uma Medida Provisória que beneficiava a empreiteira
anos antes e ficado como saldo para a campanha de 2014.
A
defesa de Dilma refuta todas as acusações e diz que meros
depoimentos em delações não constituem provas. Flavio Caetano,
advogado da ex-presidente, também aponta supostas contradições das
testemunhas.
"Marcelo
Odebrecht disse na Justiça Eleitoral que Guido Mantega teria pedido
uma propina de R$ 50 milhões em 2009, que não foi usado em 2010,
mas que foi usado na campanha de 2014. Isso é o que ele diz para a
Justiça Eleitoral, e o que ele disse antes, em depoimento gravado na
PGR (Procuradoria Geral da República), é que esse dinheiro foi
inteiramente gasto antes de 2014. Isso é falso testemunho",
afirma Caetano.
2) Sustentações dos advogados e do Ministério Público
Após
a leitura do relatório, o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes,
concederá a palavra aos advogados de acusação (PSDB), de defesa
(um para Dilma e outro para Temer) e ao Ministério Público,
representado pelo vice-procurador Geral Eleitoral, Nicolao Dino. Cada
um tem direito a 15 minutos.
Ambos
os advogados de Dilma e Temer negam qualquer ilegalidade na campanha.
A defesa do presidente pede ainda que sua conduta seja analisada
separadamente da de Dilma, tentando assim se salvar de eventual
cassação da chapa - isso contraria totalmente a jurisprudência do
TSE, que considera a eleição do vice indivisível da eleição do
cabeça de chapa.
Mandato de Henrique Neves termina em abril - ele ficará de fora do julgamento |
As
defesas também devem usar suas falas para reforçar pedidos
"preliminares", que são recursos relacionados ao andamento
do processo. Esses pedidos serão analisados antes dos ministros
votaram de fato sobre a cassação. Se uma ou mais preliminares forem
atendidas, o julgamento pode voltar a ser suspenso por alguns dias ou
até semanas.
As
duas partes pedem a anulação dos depoimentos dos executivos da
Odebrecht e de João Santana e Mônica Moura, sob o argumento de que
as acusações levantadas por essas testemunhas não constavam
inicialmente nas ações movidas pelos PSDB, não podendo ser
incluídas depois.
Já
os advogados de Dilma pedem que, caso os depoimentos não sejam
anulados, que seja aberto novo prazo para que mais testemunhas de
defesa sejam ouvidas para contrapor as acusações dessas
testemunhas.
3) Análise das preliminares
Os
pedidos preliminares devem ser analisados pelos sete ministros logo
no início da sessão ou após a sustentação das partes. O relator,
Herman Benjamin, negou esses recursos e provavelmente argumentará
contra sua aceitação pelo plenário.
Se
os ministros decidirem pela anulação dos depoimentos de parte das
testemunhas, essas informações não poderão ser usadas como
provas. Isso aumentaria as chances de absolvição da chapa, já que
as acusações mais graves partem justamente do casal de marqueteiros
e de executivos da Odebrecht.
Como presidente do TSE, Gilmar Mendes terá participação importante na condução do julgamento |
4)
Os votos sobre a cassação
Caso
o julgamento não seja suspenso na análise das questões
preliminares, o relator finalmente lerá o seu voto.
Herman
Benjamin deve decidir se a campanha de fato cometeu ilegalidades e se
elas foram graves o suficiente para justificar a anulação da
eleição e cassação da chapa.
Além
disso, ele vai analisar se Dilma e Temer são culpados pelas
eventuais ilegalidades e devem ficar inelegíveis por oito anos.
O
relator pode tanto decidir que apenas um é culpado, que ambos são
culpados, ou mesmo que nenhum deles tem responsabilidade, no caso,
por exemplo, dos crimes terem sido cometidos pelos tesoureiros da
campanha, sem o conhecimento dos candidatos.
Após
o relator, na sequência votam os ministros Napoleão Nunes Maia,
Admar Gonzaga, Tarcisio Vieira, Luiz Fux (vice-presidente do TSE),
Rosa Weber e, por último, o presidente da corte, Gilmar Mendes.
É
possível que algum dos ministros peça vista do processo, com
objetivo de analisar melhor a ação. Isso suspenderia o julgamento.
Não há prazo para que o ministro retorne seu voto, mas em geral
pedidos de vista no TSE duram poucas semanas.
No
entanto, depois de o relator ler sua decisão, mesmo que haja pedido
de vista, outros ministros podem antecipar seus votos.
Dilma e Temer durante a campanha: supostas ilegalidades serão julgadas pelo TSE |
5)
Quando o julgamento termina e o que acontece se Temer for cassado?
Não
há previsão de quanto tempo o julgamento deve durar. Caso Temer
seja cassado, é certo que haverá recurso ao Supremo Tribunal
Federal (STF). Se o Supremo confirmar eventual cassação, a própria
corte terá que decidir se o sucessor de Temer deve ser escolhido
pelo Congresso em eleição indireta ou se deve ser convocada uma
eleição direta, para que a população escolha nas urnas um novo
presidente.
Em
ambos os casos, o eleito só governaria até 2018, concluindo o
mandato de Temer.
A
Constituição Federal prevê que, após decorrida metade do mandato
presidencial, se os cargos de presidente e vice ficarem vago, é o
Congresso que deve escolher o novo mandatário do país. No entanto,
conforme mostrou
a BBC Brasil,
há uma ação pronta para ser julgada no STF que pede que o pleito
seja direto no caso de a eleição ser anulada pela Justiça
Eleitoral, quando faltarem ao menos seis meses para a conclusão do
mandato.”
Fonte: BBC - Brasil Brasília
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é sempre bem-vinda!