O empresário Joesley Batista, dono da JBS, durante entrevista coletiva sobre negócios do grupo em 2011 Foto: AYRTON VIGNOLA/ESTADÃO |
O Estado de S.Paulo
“O
empresário Joesley Batista, do frigorífico JBS, afirmou em
entrevista à revista Época que
chega às bancas no sábado, 17, que o presidente Michel
Temer é chefe de organização criminosa. O empresário, que após
ter acordo de delação premiada foi morar nos Estados Unidos, está
no Brasil desde domingo, 11. Nesta sexta-feira, 16, Joesley prestou
depoimento na Justiça Federal, em Brasília. Para Joesley, "quem
não está preso está no Planalto". "O Temer é
o chefe da Orcrim (organização
criminosa)
da Câmara. Temer, Eduardo (Cunha,
deputado cassado),
Geddel (Vieira
Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo do governo Temer),
Henrique (Eduardo
Alves, ex-ministro do Turismo no governo Temer),
(Eliseu)
Padilha (atual
ministro da Casa Civil)
e Moreira (Franco,
atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência).
É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa
turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive
coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda,
eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre
mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem
deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim.
A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já
tive na minha vida", afirmou Joesley.
Questionado
sobre o motivo que o fez se relacionar com o grupo de Temer, Cunha e
Lúcio Funaro, operador do PMDB de recursos ilícitos, segundo a
força-tarefa da Lava Jato, o empresário afirmou: "Eles foram
crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura - todos órgãos onde
tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o
Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande.
Eles tentaram. Graças a Deus mudou o governo e eles saíram. O mais
relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá,
achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o
fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do
próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem
ser convidado".
Sobre
a relação do presidente com o deputado cassado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), Joesley afirma à revista: "A pessoa a qual o Eduardo
se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre
falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver
sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer.
Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio. O
que ele não consegui resolver ele pedia para o Eduardo. Se o Eduardo
não conseguia resolver, envolvia o Michel".
Na
entrevista, Joesley fala sobre a "compra de silêncio" de
Cunha. "Virei refém de dois presidiários (Cunha
e Lúcio Funaro).
Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano
passado. O Eduardo me pediu 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não
devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu
tinha perguntado para ele: "Se você for preso, quem é a pessoa
que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: 'O Altair procura
vocês. Qualquer outra pessoa não atenda'. Passou um mês,
veio o Altair. Meu deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que
está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e
que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março
deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu
sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados."
Esse tema
foi alvo de conversa gravada entre o empresário e Temer. Em áudio,
o presidente da República afirma que "tem que manter isso aí,
viu", em relação, segundo a Procuradoria-Geral da República,
à mesada de Joesley ao deputado cassado.
Joesley
também faz o relato de um caso de chantagem de Cunha sobre o
empresário para que não fossse aberta uma Comissão
Parlamentar de Inquérito para investigar empréstimos da JBS feitos
no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "O
Eduardo, quando já era presidente da Câmara, um dia me disse assim:
‘Joesley, tão querendo abrir uma CPI contra a JBS para investigar
BNDES. É o seguinte: você me dá cinco milhões que eu acabo com a
CPI.’ Falei: Eduardo, pode abrir, não tem problema. Como não tem
problema? Investigar o BNDES, vocês. Falei: Não, não tem problema.
Você tá louco? Depois de tanto insistir, ele virou bem sério: é
sério que não tem problema? Eu: é sério. Ele: não vai te
prejudicar em nada? Não, Eduardo. Ele imediatamente falou assim: seu
concorrente me paga cinco milhões para abrir essa CPI. Se não vai
te prejudicar, se não tem problema… Eu acho que eles me dão os 5
milhões. Uai, Eduardo, vai sua consciência. Faz o que você achar
melhor'.Esse é o Eduardo. Não paguei e não abriu. Não sei se ele
foi atrás. Esse é o exemplo mais bem acabado da lógica dessa
Orcrim (organização
criminosa)",
afirmou Joesley à revista.”
Fonte:
Estadão de SP
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