"Juiz
Sergio Moro fala em "prática reiterada, profissional e
sofisticada de crimes contra a Administração Pública" pelo
grupo do ex-governador do Rio"
Por
João Pedroso de Campos
"As
investigações das forças-tarefas da Operação Lava Jato no Rio de
Janeiro e em Curitiba apontam que o ex-governador do Rio de Janeiro
Sérgio Cabral (PMDB) recebeu 38,4 milhões de reais em propina por
contratos com as empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia.
O valor foi citado nas delações premiadas de quatro ex-executivos
da Andrade, que teria pago 10,4 milhões de reais ao peemedebista, e
da Carioca, que teria pago subornos de 28 milhões de reais.
Cabral
e três aliados, Wilson
Carlos, Wagner Garcia e Hudson Braga,
foram presos
preventivamente
no dia de hoje (17) pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, na
Operação Calicute, a 37ª fase da Operação Lava Jato. A mulher do
ex-governador, a advogada Adriana Ancelmo, foi alvo de mandado de
condução coercitiva.
Ao
analisar os elementos apresentados pelo Ministério Público, e
determinar as prisões preventivas, o juiz federal Sergio Moro citou
os delatores Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras, Rogério Nora de Sá, Alberto Quintaes e Clóvis Primo,
ex-executivos da Andrade Gutierrez.
Moro
escreveu que os delatores “afirmam o pagamento sistemático de
propinas ao então Governador Sergio Cabral, por intermédio de
Carlos Miranda, inclusive em decorrência de contrato da empreiteira
com a Petrobrás. R$ 7.706.000,00 em propinas de diversos contratos e
mais R$ 2.700.000,00 no contrato da Petrobrás teriam sido repassados
em espécie, conforme depoimentos e planilha apreendida, sem sinais
de manipulação no documento”.
Conforme
os delatores da Andrade Gutierrez, os 7,7 milhões de reais em
propina a Cabral seriam referentes a “diversos contratos” da
empreiteira com o governo do Rio de Janeiro, incluindo 5% sobre o
Mergulhão de Duque de Caxias (RJ) e 7% na reforma do Estádio do
Maracanã para os Jogos Pan-Americanos, em 2007. Os 2,7 milhões de
reais, de acordo com Nora de Sá, Quintaes e Primo, correspondem a 1%
do contrato da Andrade Gutierrez para a terraplenagem do Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí (RJ).
Além
de Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia, Moro observa
que “considerando o modus operandi [de Cabral], é possível que
tenha recebido propinas de todas as empreiteiras que participaram das
obras no Comperj, como Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Júnior,
UTC Engenharia, com valores milionários”.
Sergio
Moro também lembra que, de acordo com os colaboradores, as propinas
foram pagas em dinheiro vivo, o que dificulta o rastreamento
financeiro. “Enquanto isso, eles [os investigados] persistem na
utilização do produto para aquisição de bens, mediante operações
em espécie e estruturação de transações, o que dificulta ou
inviabiliza rastreamento financeiro”, diz o juiz federal.
As
operações em dinheiro vivo que revelam indícios de lavagem de
dinheiro a que Moro se refere foram detalhadas pelo Ministério
Público Federal a partir de quebra dos sigilos bancário e fiscal
dos investigados. “As provas são da prática reiterada,
profissional e sofisticada de crimes contra a Administração Pública
e de lavagem de dinheiro por parte de Sérgio Cabral e de seu
operador financeiro Carlos Miranda”, afirma Moro.
Para
o magistrado, “causa certa estranheza, por exemplo, a frequência
de aquisições vultosas de bens móveis em espécie, como as feitas
por Adriana Anselmo, esposa do então Governador, de móveis com
pagamento de R$ 33.602,43 em espécie em 05/2014, ou de dois minibugs
com pagamento de R$ 25.000,00 em espécie em 08/2015, ou de
equipamentos gastronômicos com pagamento de R$ 72.009,31 em espécie
em 03/2012”.
Segundo
as investigações, dezesseis pagamentos em espécie, onze de
Adriana e cinco de Miranda, com valor total de 949.985 reais, teriam
sido feitos entre dezembro de 2009 e agosto de 2015. Sergio Moro
afirma que as prisões preventivas são necessárias para “impedir
ou dificultar novas condutas de ocultação e dissimulação do
produto do crime, já que este ainda não foi recuperado”.
“Apesar
do rastreamento [do dinheiro] não ter sido perfeito, a reunião das
duas pontas, o pagamento em espécie pela Andrade Gutierrez com os
gastos em espécie e com transações estruturadas pelos
investigados, constitui um relevante elemento probatório de
corroboração dos depoimentos dos quatro colaboradores”, escreveu
Moro, que também viu indícios de associação criminosa
“considerando a quantidade de pessoas e fatos e a duração do
esquema criminoso”."
Fonte:
Veja.com
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