Venezuela |
"Além de se fortalecer internamente e como um dos líderes mundiais mais poderosos, Trump também depende do petróleo de Maduro"
Por noticias ao minuto
“O papel
dos Estados Unidos na crise política, econômica e social vivida
pela Venezuela tem sido questionado após negativa da chamada ajuda
humanitária oferecida pelo país norte-americano e aliados na
América do Sul, como o Brasil. Afinal, os Estados Unidos estão
preocupados com o fornecimento do petróleo pela Venezuela ou querem
de fato ajudar o povo venezuelano?
No
último final de semana, o governo do presidente Donald Trump liderou
o envio de toneladas de alimentos e medicamentos para as fronteiras
da Venezuela com o Brasil, em Pacaraima (RR), e com a Colômbia, em
Cúcuta, a pedido do autoproclamado presidente interino da Venezuela,
Juan Guaidó. As fronteiras, no entanto, foram fechadas por ordem de
Nicolás Maduros e os veículos carregados foram incendiados, pois o
chavista considerou que a ajuda humanitária era um meio de invadir o
seu país.
"Quando
os EUA colocam na fronteira do Brasil e da Colômbia os caminhões de
ajuda humanitária e o governo venezuelano reage, matando pessoas na
fronteira, poderíamos ver a construção de um argumento para
justificar a invasão", explicou ao site Guilherme Casarões,
professor do Centro de Relações Internacionais da FGV (Fundação
Getúlio Vargas). Ele, no entanto, garante que "isso não
quer dizer que os EUA só estão ajudando a Venezuela para forçar
uma guerra".
Os
países aliados reprovam a ideia de uma intervenção militar
americana na Venezuela, mas Trump já chegou a afirmar que "todas
as opções estão na mesa", mesmo que não haja o apoio de seus
parceiros.
Analistas
consultados pelo "UOL" explicam que, na verdade, as chances
de invasão dos Estados Unidos são mais distantes do que parece.
Isto porque, além da falta de apoio, qualquer ação militar contra
a Venezuela deveria ser aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU,
e seria vetada pela Rússia e China, que são aliados de Maduro e têm
poder de veto no órgão.
Maduro
tem o apoio de Rússia e China. Enquanto o último quer evitar que o
país quebre e que, assim, perca todo dinheiro investido ali, o
primeiro vê na Venezuela um parceiro geopolítico.
A
compra do petróleo venezuelano pelos Estados Unidos foi mantida, mas
Trump impôs sanções que impedem que Maduro tenha acesso ao
dinheiro da venda do produto, que vai todo para Guaidó. Até o final
do ano passado, a Venezuela era o quarto país que mais fornecia
petróleo para os Estados Unidos, atrás de Canadá, Arábia Saudita
e México.
De
acordo com a consultoria britânica Kpler, que monitora o mercado de
commodities, desde a aplicação das sanções americanas à PDVSA,
Índia e China estão entre os principais compradores do petróleo
venezuelano. Antes, os Estados Unidos eram os maiores clientes de
Maduro.
"Mesmo
durante todo o período chavista, com toda a retórica do então
presidente Hugo Chávez, com todas as tensões políticas entre
Venezuela e EUA, os americanos continuaram como o maior parceiro
comercial e maior comprador do petróleo venezuelano. Havia uma
prática simples em que a política ficava de um lado e os negócios
de outro. A ideia era que os negócios não fossem prejudicados
apesar das diferenças políticas. Isso agora mudou, criando uma
tremenda armadilha para o Maduro. O que ele vai fazer? Deixar de
vender todo esse petróleo? Maduro mantém a venda mesmo sem receber
porque tem esperança de um dia voltar a ver esse dinheiro",
explica Maurício Santoro, professor de relações internacionais da
UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
"O
petróleo venezuelano é abundante, afinal é a maior reserva do
mundo, mas as outras opções de petróleo dos EUA, exceto o Canadá,
são muito distantes e têm um custo logístico e estratégico que
coloca a Venezuela como um parceiro importante. A compra do petróleo
venezuelano é uma questão de segurança energética. Mesmo que o
país tenha uma grande reserva própria de petróleo, é mais barato
para os EUA importar. Mas, sem o dinheiro dos EUA, o Maduro pode
sobreviver, já que a China poderia compensar em parte essas perdas
econômicas", analisa Casarões, da FGV.
Santoro
explica a pressão de Trump como alternativa para fortalecer o seu
governo. "Trump tem muitos problemas internos. Seu governo ficou
mais de um mês paralisado e ele não tem maioria no Congresso. A
pressão que ele faz sobre o Maduro é algo que tem o apoio tanto dos
republicanos quanto dos democratas, e os dois partidos estão
disputando o voto latino nos EUA. Esse eleitor dá muita importância
para o que está acontecendo na Venezuela. Os cubanos que vivem nos
EUA também entram nesse jogo, já que são contra o chavismo."
"Para
qualquer governo, principalmente para governos em crise e com
popularidade baixa, é importante que se construa um inimigo e que
ele povo e o imaginário coletivo. Trump elege o latino e a Venezuela
como inimigo, o ditador local que tiraniza a população. O inimigo
americano já foi a União Soviética, Osama Bin Laden e Saddam
Hussein. Assim, Trump capitaliza politicamente a criação desse
inimigo próximo", completa Casarões.”
Fonte:
mundo ao minuto
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