Relógios devem ser atrasados em uma hora à meia noite de sábado para domingo — Foto: Andrea Natali/Unsplash |
Com o Fim
do horário de verão: como se adaptar à mudança para não ficar
'bêbado de sono' na 2ª feira
Por
BBC
“Em dez Estados e no DF, os relógios devem ser atrasados em uma hora à 0h de domingo; parece pouco, mas isso afeta o relógio biológico e pode ter efeitos negativos sobre nossa saúde e o bem-estar; saiba como minimizar esse impacto.”
“O
horário de verão chega ao fim neste sábado. Quem vive nos dez
Estados e no Distrito Federal onde os relógios tiveram de ser
adiantados há pouco mais de três meses, deve agora fazer o
contrário e atrasar os ponteiros em uma hora à 0h de domingo.
Pode
parecer uma mudança pequena, mas ela pode afetar o funcionamento do
organismo e ter impactos sobre o nosso bem-estar e saúde, explica o
médico John Araujo, professor titular de Cronobiologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
"As
pessoas pensam que vão ganhar uma hora, acabam ficando acordadas uma
hora a mais e perdem o controle do horário de ir dormir. Acabam
dormindo menos de sábado para domingo e de domingo para
segunda-feira", diz Araujo.
Araujo
explica que o sono tem um "efeito reparador" para o nosso
corpo, principalmente para o cérebro e que o acúmulo de deficit de
sono tem "os mesmos efeitos de estar embriagado".
"Afeta
nossa capacidade de atenção e concentração, reflexos e destreza
motora e aumenta a chance de haver acidentes", afirma o médico.
Mas
como minimizar esses efeitos e "atrasar" também o ritmo do
corpo, acostumado desde 4 de novembro do ano passado com dias que
amanhecem e anoitecem mais tarde?
O que fazer para se acostumar à mudança de horário?
A
boa notícia é que é mais fácil se adaptar ao fim do horário de
verão do que ao começo, explica a neurologista Andrea Barcelar,
presidente da Associação Brasileira do Sono.
"Também
é assim quando viajamos. É mais simples se acostumar com um novo
fuso horário e dormir mais tarde quando vamos para oeste, rumo aos
Estados Unidos, por exemplo, do que dormir mais cedo quando vamos
para o leste, na direção da Europa", diz Barcelar.
Horário de verão foi mais curto neste ano
Este
período de horário de verão foi menor do que o anterior, porque
seu início se deu mais tarde do que ocorria normalmente.
Antes,
costumava começar no terceiro domingo de outubro. Mas, em dezembro
de 2017, o então presidente Michel Temer assinou um decreto que
reduziu sua duração, a pedido do Tribunal Superior Eleitoral.
Assim, seu início não mais ocorreria entre o primeiro e o segundo
turno da eleição.
O
Planalto chegou a cogitar que a data fosse mais uma vez adiada, para
18 de novembro, desta vez para atender um pedido do Ministério da
Educação, para não interferir com a realização do Enem. Mas
acabou sendo mantido seu começo em 4 de novembro.
O
horário de verão foi criado no Brasil em 1931 durante o governo de
Getúlio Vargas (1882-1954), mas suspenso por decreto várias vezes -
os mais longos períodos sem horário de verão foram de 1933 a 1949,
e de 1968 a 1985.
O
governo Temer chegou cogitar acabar por completo com essa
medida, após um estudo do Ministério de Minas e Energia apontar
queda na efetividade da iniciativa na economia de energia.
O
ministério explicou que o perfil do consumo de eletricidade não
estava mais ligado diretamente ao horário e sim à temperatura, com
os picos de uso de energia passando do início da noite para o começo
da tarde, período mais quente do dia.
Onde tem horário de verão?
- Distrito Federal
- Espírito Santo
- Goiás
- Mato Grosso do Sul
- Minas Gerais
- Paraná
- Rio de Janeiro
- Rio Grande do Sul
- Santa Catarina
- São Paulo
A
melhor forma de atenuar as consequências do fim do horário de
verão, explica a neurologista, é adaptar o corpo aos poucos à
mudança de horário, antecipando o momento de ir dormir dia a dia.
"Nosso corpo leva cerca de dois dias para se ajustar a uma
mudança de 15 minutos, então, para 1 hora, seria necessária uma
semana", diz Barcelar.
Dicas:
Desacelere:
não programe muitas coisas à noite no fim de semana e, se possível,
escureça a casa. "A claridade inibe o sono. Se você estimular
um sono precoce, vai estar mais desperto na segunda-feira", diz
Araujo.
- Desligue as telas: a televisão, o computador e o celular devem ser evitados. "A luz azul na retina atrasa a produção de melatonina (o hormônio do sono)", explica Barcelar. Uma alternativa é instalar aplicativos no celular e no computador para filtrar e diminuir a luz azul durante o período noturno.
- Evite atividade física à noite: fazer exercícios ativa o sistema nervoso central, o que nos deixa excitados e dificulta dormir mais cedo.
- Jante leve e mais cedo: adiante também em uma hora a última refeição, que não deve ser pesada e feita no máximo duas horas antes de deitar para não ir dormir com o estômago cheio demais.
Seguir
esses passos é uma forma de fazer um "ajuste manual" em
nosso relógio biológico, nome dado aos mecanismos usados por nosso
organismo para ditar o ritmo do corpo em compasso com ciclos de 24
horas. "Isso é fruto da evolução, uma reação aos eventos
geofísicos da rotação da Terra", diz Araujo.
Como
funciona o relógio biológico
Estudos já mostraram que
quase todos os seres vivos do planeta têm um relógio biológico,
que antecipa os momentos do dia e prepara o organismo para eles,
alterando níveis hormonais, funções vitais, temperatura corporal e
metabolismo, o que nos deixa mais ou menos alertas em diferentes
fases do dia.
"É como um maestro
que rege a orquestra de órgãos do nosso corpo, criando uma lógica
temporal para seu funcionamento e a sequência de eventos mais
eficiente", diz Araujo.
A partir da metade do
século 20, cientistas fizeram descobertas que lançaram uma luz
sobre o funcionamento e complexidades deste mecanismo. Pesquisas
sobre a cronobiologia, que estuda os ciclos temporais dos organismos,
inclusive renderam a um trio de cientistas americanos o Prêmio Nobel
de Medicina no ano passado.
Jeffrey C. Hall, Michael
Rosbach e Michael W. Young anunciaram em 1971 a descoberta de um gene
que regula o relógio biológico na mosca-da-fruta e mostraram como
ele rege a fabricação de uma proteína que se acumula nas células
durante noite e se degrada durante dia, regulando o chamado ritmo
circadiano de organismos multicelulares, incluindo o ser humano.
Duas décadas depois, os
cientistas descobriram outro gene que leva à produção de uma
segunda proteína que regula o ciclo de acúmulo e degradação da
proteína identificada anos antes.
Desde então, cientistas
apontaram outros genes que têm um papel nesse mecanismo,
influenciados tanto por fatores internos quanto externos, que vão
além da luz, como nossa alimentação e nível de atividade física.
Um descompasso nesse mecanismo gerado por eventos como o fim do
horário de verão tem impactos sobre nosso organismo.
"É importante que as
pessoas estejam conscientes desses efeitos e tenham muita atenção
com qualquer atividade que gere riscos no domingo e na segunda-feira,
como dirigir e operar máquinas pesadas", diz Araujo.
Por sua vez, Barcelar
recomenda: "Para minimizar os impactos, é hora de aproveitar
que estamos voltando do carnaval e segurar um pouco a vontade de sair
à noite e aproveitar para dormir mais cedo."
Fonte: G1.com
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