A atriz e cantora Bibi Ferreira na peça "Gota D'Água", de Chico Buarque de Hollanda e Paulo Pontes, dirigida por Gianni Ratto – 1976 |
"Morreu nesta quarta-feira
a diretora e atriz Bibi Ferreira, aos 96 anos. A informação foi
confirmada pela Montenegro Talents, empresa que agenciava a carreira
de Bibi. Segundo a agência, a atriz sofreu uma parada cardíaca em
sua casa, no Rio de Janeiro.
Bibi, que somava quase 78
anos de carreira, era um dos maiores nomes do teatro brasileiro.
Filha do ator carioca Procópio Ferreira e da bailarina espanhola
Aída Izquierdo Ferreira, ela estreou no palco 24 dias depois de
nascer, substituindo uma boneca que fazia as vezes de bebê. Não
parou mais, construindo uma rica trajetória desde o nascimento,
festejado pelo pai, que a encaminhou para a carreira artística, até
a consagração como intérprete de grandes musicais internacionais
(My Fair Lady, O Homem de La Mancha, Alô, Dolly) e nacionais (Gota
d’Água), sem se esquecer das homenagens que prestou a outros
grandes intérpretes, como Edith Piaf, Amália Rodrigues e Frank
Sinatra. Hoje, dá nome a um teatro e a um prêmio.
Bibi esbanjava energia
mesmo com a idade avançada e após ter sofrido um infarto, em maio
de 2012, quando precisou fazer um cateterismo. Nos últimos anos,
fez os espetáculos Bibi Ferreira Canta Repertório
Sinatra, em que entoava canções que se tornaram hits na voz de
Sinatra, como Cheek to Cheek, Fly Me to the Moon e The Lady Is a
Tramp, e Bibi Ferreira – Por Toda a Minha Vida, em que
rememorava grandes sucessos de sua carreira e personalidades que
fizeram parte dessa trajetória.
Em 2018, ganhou também um
espetáculo em sua homenagem, Bibi, uma Vida em Musical, que
passou por Rio de Janeiro e São Paulo contando a vida da atriz. O
musical, escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães e com
direção de Tadeu Aguiar, foi estrelado por Amanda Acosta.
Trajetória
Abigail Izquierdo Ferreira
nasceu no Rio de Janeiro em 1922 e foi levada desde cedo para os
palcos pelo pai, Procópio Ferreira. Bibi estreou no teatro com
apenas 24 dias de vida, ao substituir uma boneca que desaparecera
pouco antes do início da peça Manhãs de Sol, escrita por seu
padrinho, Oduvaldo Viana (o pai), marido da cantora Abigail Maia. A
primeira aparição de Bibi foi no colo de sua madrinha, de quem
herdara o nome.
BibI Ferreira desde cedo cantando |
Aos 3 anos, já integrou
verdadeiramente o elenco de um espetáculo e saiu em turnê pela
América Latina com a companhia Revista Espanhola Velasco, onde sua
mãe trabalhava como corista. Sua parte consistia em cantar zarzuelas
em espanhol.
Participou de óperas e
balés e fez parte do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro antes de ser mandada pelo pai para estudar em Londres, onde
também se dedicou às artes dramáticas. Em 1936 participou do filme
Cidade Mulher, de Humberto Mauro, em que cantava o samba Na
Bahia, de Noel Rosa e José Maria de Abreu. Em 1941, estrelou a peça
cômica La Locandiera, de Carlo Goldoni, como a protagonista
Mirandolina, que passou por São Paulo, capital e interior, e pelo
sul do país.
Em 1944 ela inaugurou sua
própria companhia e estreou a peça Sétimo Céu com atores como
Maria Della Costa e Cacilda Becker e a diretora Henriette Morineau.
Deu aulas de interpretação e direção no Teatro Duse e na Fundação
Brasileira de Teatro, no Rio, na década de 1950. Em 1956, levou o
repertório de sua companhia para Portugal, onde depois foi
contratada como atriz de teatro de revista. Bibi voltou ao Brasil em
1960 e começou a trabalhar também com a televisão, em teleteatros
como o que apresentava no Programa Bibi ao Vivo, da TV Tupi.
Bibi ferreira e seu pai, Procópio Ferreira que a levou ao teatro muito cedo |
Na década seguinte, Bibi
dirigiu Maria Bethânia e Ítalo Rossi, em 1970, e Paulo Gracindo e
Clara Nunes, em 1974, no musical Brasileiro, Profissão: Esperança,
no Rio. Em 1975, ela estreou Gota d’Água, de Chico Buarque e Paulo
Pontes, pelo qual recebeu os prêmios Molière e Associação
Paulista dos Críticos de Artes (APCA), ao interpretar Joana. No ano
seguinte voltou à direção no espetáculo Deus lhe Pague, que
reuniu cinquenta artistas, como Walmor Chagas, Marília Pêra e Marco
Nanini.
Bibi ferreira interpretando Piaf |
Nos anos 1980, Bibi fez um
de seus espetáculos mais conhecidos, Piaf, A Vida de Uma Estrela da
Canção, que estreou em 1983. A atriz foi bastante elogiada pelos
críticos, recebendo vários prêmios e, em apenas quatro anos em
cartaz, o musical foi visto por um milhão de espectadores. “A voz
poderosa, a interpretação sensível, a pronúncia francesa perfeita
só poderiam pertencer à própria Piaf. E fica patente, de imediato,
que tamanhos dotes devem ser creditados à nossa atriz. (…) Piaf é,
de todos os pontos de vista, a criação maior da carreira de Bibi,
feita de tantas iluminações”, escreveu Sábato Magaldi no Jornal
da Tarde à época.
Bibi ferreira como diretora de teatro
Na década de 1990, ela
remontou Brasileiro, Profissão: Esperança, voltou a um musical de
Piaf e comemorou seus 50 anos de carreira, com o Bibi in Concert. Em
1996 foi homenageada no Prêmio Sharp de Teatro e, em 1999, se
aventurou no formato da ópera pela primeira vez ao dirigir Carmen,
de Georges Bizet. No Carnaval de 2003, ela foi homenageada pelo
samba-enredo da Escola de Samba Unidos do Viradouro, na Marquês de
Sapucaí."
Fonte: Veja.com
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