Por Agência Fapesp
“Para
fazer ciência na Amazônia, além de enfrentar longos desafios
logísticos, também é preciso subir degraus. Muitos deles. Quase
1,5 mil e, se possível, de uma só vez. O esforço vale a pena, pois
tem levado a descobertas sobre o impacto tanto das mudanças
climáticas na Amazônia quanto da floresta no clima de todo o
planeta.
A
escadaria está na Torre Alta da Amazônia (ATTO, na sigla em
inglês), com 325 metros de altura. A copa das árvores chega
geralmente até 40 metros de altura, ou um oitavo da torre ATTO. A
torre fica a 150 km de Manaus (AM), na Estação Científica do
Uatumã. É lá que cientistas instalam equipamentos capazes de
captar informações sobre os fluxos de troca entre a floresta e a
atmosfera.
São
análises de concentrações de dióxido de carbono (CO2) na
atmosfera, do balanço de radiação e de fluxos de ozônio e
aerossóis - partículas líquidas ou sólidas em suspensão no ar -,
entre outros indicadores importantes para que se forme um panorama da
importância da floresta amazônica.
A
Amazônia desempenha um papel importante nos ciclos biogeoquímicos
globais de gases de efeito estufa.
"A
floresta controla o balanço de energia, o fluxo de calor latente e
sensível, o vapor d'água e os núcleos de condensação de nuvem
que vão intensificar o seu ciclo hidrológico. E isso só é
possível se houver uma extensão muito grande de floresta contígua.
Quando ela é fragmentada, deixa de ter essa propriedade,"
explica o professor Paulo Artaxo, da USP.
Amazônia
e clima global
A
análise de dados coletados na torre ATTO e em outros locais da
Amazônia permitiu ao projeto GoAmazon (Green Ocean Amazon
Experiment) fazer descobertas importantes sobre a dinâmica da
floresta amazônica e sua relação com as mudanças climáticas. A
partir de dados obtidos na torre, pesquisadores descobriram que o
processo de aquecimento global pode ser ainda mais intenso do que o
previsto originalmente caso não se consiga frear o desmatamento.
O
grupo de pesquisadores reproduziu matematicamente as condições
atmosféricas atuais do planeta, incluindo concentrações de
aerossóis, compostos orgânicos voláteis antropogênicos e
biogênicos, ozônio, CO2, metano e também os demais fatores que
influenciam na temperatura global. De acordo com o estudo, essa maior
intensidade de aquecimento está relacionada principalmente às
mudanças nas emissões de BVOCs (compostos orgânicos voláteis
biogênicos) pelas florestas tropicais.
Outro
estudo reforçou a importância da Amazônia na regulação química
da atmosfera. Pesquisadores do GoAmazon descobriram que a floresta
amazônica emite três vezes mais isopreno do que o estimado
anteriormente. A substância é um dos principais precursores do gás
ozônio.
Um
terceiro trabalho mostrou que na floresta tropical as partículas
ultrafinas de poluição emitidas pelas cidades - e que costumam ser
desprezadas para o impacto da poluição urbana - afetam
substancialmente a formação das nuvens de tempestade na Amazônia.
Os resultados obtidos ajudam na compreensão de como a poluição
urbana afeta os processos relacionados à formação de tempestades
na Amazônia.
"É
um quebra-cabeça e nós tentamos justamente identificar novas peças
para contar a história completa", disse Luciana Varanda,
professora da Unifesp e integrante do GoAmazon.
Torre
ATTO
Em
funcionamento desde 2015, a construção da torre custou - 8,4
milhões, financiados metade pelo governo alemão e pelo Instituto
Max Planck e a outra metade pelo Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCTIC) do Brasil, com recursos da Financiadora de Inovação e
Pesquisa (Finep). Agências de fomento estaduais, como a Fapesp (São
Paulo), a Fapeam (Amazonas) e a Funpar (Paraná), financiam projetos
de pesquisa na torre.
Na
reserva existem ainda outras duas torres mais baixinhas, com 80
metros cada, usadas para o estudo de gases e aerossóis. Nelas é
possível ter uma perspectiva mais próxima do dossel e não sobre a
floresta, como ocorre com a torre
ATTO.”
Fonte:
Inovação tecnológica / Fapesp
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