Deputada estadual Manuela d'Ávila (PCdoB) |
"Em carta aberta à primeira-dama Marcela Temer, a deputada estadual do Rio Grande do Sul Manuela d´Ávila (PCdoB) elogia o Programa Criança Feliz no papel, mas pontua diversos "poréns" que tornariam o programa questionável na prática. Estas informações são da Gazeta do Povo.
No
documento, a deputada chama o governo de golpista e menciona o papel
decorativo da mulher, demonstrado também no
primeiro-damismo exercido por Marcela.
Manuela
pontua as dificuldades cotidianas das mães para conseguir vaga nas
creches, para voltar a trabalhar após a maternidade, para
obter um bom atendimento médico para os seus filhos. Realizada
esta bem diferente da vivida pela família Temer e por ela mesma.
Por
fim, convida Marcela Temer a "lutar contra a ampliação da
jornada de trabalho, contra a PEC 241", "por uma sociedade
em que mulheres e homens possam cuidar mais de seus filhos".
A
íntegra da carta:
“Cara
Marcela (Temer – Atual primeira dama),
Quem
me acompanha por aqui, ou na vida cotidiana, sabe o que eu penso
sobre os cuidados e estímulos na Primeira infância. Tanto que
decidimos, Duca e eu, ficar esse primeiro ano com Laura. Decidimos
para tornar exclusiva a amamentação até o sexto mês, para
prolongar a amamentação por mais tempo (Laura ainda mama com 1a1m),
para curtirmos nossa pequena.
Porém,
isso só foi possível pois Duca é um artista que, normalmente, não
trabalha durante os dias em que eu trabalho. Isso só foi possível
porque nós dois não temos jornadas equivalentes de trabalho, não
somos “CLT”, pois eu posso viajar para o interior com Laura. Isso
só foi possível porque nós somos dois, não sou sozinha nessa
aventura. Isso só é possível porque eu tive acesso a toda
informação sobre a importância da amamentação e,também, porque
não ouvi de uma creche que era impossível armazenar leite materno
ou que meu leite é fraco.
Mas,
escrevo apenas para dizer que sim, o programa Criança Feliz,
coordenado por ti, Marcela, pode ser importante.
PORÉM,
são muitos os poréns.
Não
vou falar sobre a volta do primeiro damismo, esse papel secundário,
decorativo, destinado a ti e a todas as mulheres nesse governo
golpista.
Quero
falar sobre maternidade, sobre não termos receitas, sobre criação
com apego, sobre violência obstétrica, sobre creches, educação
infantil, horário de atendimento em postos de saúde. Quero falar
sobre licença maternidade de quatro meses e paternidade… bem, ser
apenas licença hospitalar!
A
absoluta maioria das mulheres, Marcela, torce pra conseguir uma vaga
em creche quando o bebê tem 100 dias para fazer a adaptação nos
últimos 20 da licença. Outras, passam o dia angustiadas, pois
deixam uma “vizinha” cuidando do bebê em ambientes não
adequados.
A
média desmama aos 56 dias (aliás, por que você não falou em
amamentação? A indústria não gosta?). Muitas mulheres são
demitidas ao voltar. Ou pior: quando faltam o trabalho para pegar a
ficha no posto de saúde. E seu marido, Marcela, ainda quer congelar
os gastos em saúde e educação com a PEC 241. Imagina!!
Marcela,
sei que muitas mulheres tornam-se empoderadas ao se depararem com a
realidade. Vi isso acontecer muitas vezes nessas quase duas décadas
de militância. Veja as crianças como se fossem o seu filho! Tu
sabes que elas precisam, sim, de cuidados. E, para isso, precisam
também do Estado.
Esse
Estado que seu marido quer “congelar”, destruir. Esses gastos
públicos que ele quer congelar são a creche de um bebê igual ao
Michelzinho. São a consulta pediátrica de uma bebê igual a Laura.
Sabe,
Marcela, é muito bom cuidar da Laura. Muitas mulheres, como você,
optam por não trabalhar, eu as respeito. Outras, como eu, trabalham,
estudam e cuidam dos filhos. Eu respeito a todas as nossas
escolhas.Porém, precisamos saber que para a imensa maioria não há
escolha. A volta ao mercado de trabalho é uma imposição. E eu
preciso te alertar: crianças não são felizes sozinhas. Crianças
são cuidadas. Esses cuidados passam por mães e pais que não podem
trabalhar doze horas por dia! Que não podem ter seus direitos
submetidos a negociação em plena crise! Essas crianças serão
felizes com educação e saúde públicas de qualidade. Se a crise
aumenta, mais esses pais trabalham, se não há direitos
trabalhistas, mais frágeis ainda são essas mães no mercado de
trabalho, se hoje achamos ruim quatro meses de licença, podemos
seguir o caminho dos EUA que, simplesmente, não a concedem.
Marcela,
vem com a gente lutar pela felicidade de nossas crianças. Vem com
gente lutar contra a ampliação da jornada de trabalho, contra a PEC
241. Vem com a gente lutar por uma sociedade em que mulheres e homens
possam cuidar mais de seus filhos."
Manuela
d’Ávila
Fonte:
noticias ao minuto
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